O 12 é um número mágico no universo Marantz. O famoso ‘combo’ CD12/DA12, de 1989 é, ainda hoje, a relíquia digital mais valiosa da marca. O novo duo SA/PM12 SE é o seu digno sucessor, na senda do já lendário KI Ruby, a última obra de Ken Ishiwata.
Ao atribuir este número cabalístico ao duo SA-12/PM12 SE (Special Edition de modelos só à venda no Japão), a Marantz deixa bem claro que estamos perante um novo conjunto topo-de-gama, que veio resolver a questão da ‘finitude’ dos ‘Ruby’, uma edição limitada, e do preço demasiado elevado dos SA10 SE.
Para quem ainda não percebeu, o duo SA-12/PM-12 SE é uma versão ‘sem limite de produção’ dos ‘Ruby’, a última grande obra de Mestre Ken Ishiwata, que ele próprio apresentou ao Hificlube.net, no Audioshow 2019, na sua última entrevista antes de falecer: RIP.
O caminho mais curto para o High End
Os ‘Ruby’ deixaram uma boa e duradoura impressão chez JVH, tendo eu em 2019 concluído que, e cito:
‘O duo Marantz KI Ruby é o caminho mais curto para chegar ao highend, sem ter de pagar a portagem do luxo. Vou sentir a sua falta. Resta-me a esperança de eu e Ken Ishiwata ainda andarmos por cá daqui a 10 anos para comemorar as Bodas de Ouro…’
Nota: podem ler o teste integral em ‘Artigos Relacionados’, no final desta ‘análise’: ‘Marantz KI Ruby, 40 anos de fidelidade’, ou clicando já sobre o título.
Hélas, Ishiwata san já não vai assinar mais versões especiais, mas fica a sua obra. E este duo SA-12/PM12 SE foi a forma encontrada pela Marantz para oferecer aos seus fãs a qualidade ‘Ruby’, sem a assinatura do mestre, é certo, mas também sem a limitação de produção de apenas 1000 exemplares, 500 em preto e 500 em cor champagne.
Sem a exclusividade autografada
Esta perda de ‘exclusividade’ não vai, contudo, poupar-lhe assim tanto dinheiro: segundo a tabela da Imacustica, que consultei online, o preço de ambos os leitores CD/SACD é o mesmo (4.190 €), enquanto o PM12 SE custa apenas menos 400 euros que o correspondente PM KI Ruby: 3.799 €, embora a qualidade de som seja a mesma, se a memória não me engana; e o design e funcionalidades ergonómicas são também basicamente idênticas (ler o teste in-depth dos Ruby), apenas as placas de alumínio da tampa superior são menos espessas, e o topo do painel frontal já não exibe o rubi comemorativo dos 40 anos e a chancela do mestre.
Outro aspeto que salta logo à vista é a grelha de ventilação do amplificador, que tem um desenho mais requintado no KI Ruby, assim como o chassis pintado de preto, em lugar do luxuoso banho de cobre.
A lenda do CD12/DA12
O CD12/DA12, de 1989, era composto por um leitor/DAC, com base num transporte Philips (a Marantz fazia então parte do grupo Philips) e no famoso ‘chip’ 1541 de 16 bits. Na Europa, ter-se-ão vendido pouco mais de 500 unidades.
Em 1996, Ken Ishiwata fez pessoalmente um upgrade aos exemplares de alguns eleitos possuidores do modelo original, incluindo os dos críticos Ken Kessler e Jorge Gonçalves, substituindo os ‘chips’ de conversão do DAC pela versão ‘Double Crown’, melhorando a fonte de alimentação, os condensadores e os amplificadores operacionais.
Reza a lenda que ainda ninguém conseguiu fazer melhor…
Reza a lenda que ainda ninguém conseguiu fazer melhor, algo que eu não posso confirmar nem desmentir. Talvez porque não passa afinal de uma lenda…
Ao contrário do duo Player/DAC CD12/DA12, de 1989, a nova versão SA12/PM12 SE é composta por um leitor SACD/CD (e DVD-R) e um amplificador integrado, tal como os ‘Ruby’, cujo inexorável esgotamento no mercado vem assim colmatar antecipadamente.
Nota: a Imacustica ainda tem para venda um dos poucos conjuntos Ruby existentes no mercado europeu.
Upsampling para 4 x DSD
Tal como o Ruby, o SA12 SE é um excelente leitor SACD/CD, com base num transporte SACDM-3, também compatível com CD-ROM e DVD-ROM, aliado a um DAC interno (acessível por fontes externas via USB) de alta resolução PCM/DXD de 32 bits/384 kHz e DSD 11,2 Mhz (DSD256), que incorpora a tecnologia MMM, Marantz Musical Mastering, e faz upsampling por defeito para DSD256, sendo os sinais de alta frequência convertidos por um simples filtro passa-baixas, composto por um transformador, e o sinal analógico é depois servido aos módulos de amplificação HDAM na saída.
Os sinais PCM são respeitados à entrada, fazendo-se a conversão para DSD apenas no estágio final, antes da conversão para analógico. O utilizador pode optar por dois filtros diferentes: o Filtro 1, mais doce e com uma pendente mais pronunciada; ou o Filtro 2 com resposta mais plana e um som mais incisivo.
Do mesmo modo, utiliza os módulos de amplificação HDAM-SA2 (no amplificador de auscultadores), que lhe conferem a tradicional doçura analógica típica do som Marantz.
Fuga ao fisco da potência?
O andar de potência é de Classe D e está a cargo dos mesmos módulos Hypex N-Core NC500 do ‘Ruby’. Não admira, pois, que o som seja tão idêntico, ao ponto de ser quase indistinguível. Eu diria mesmo que é igual.
Distorção muito baixa e potência muito elevada (+ de 600W sobre 2 Ohm!) são a garantia de que nenhum par de colunas o vai colocar em dificuldades, seja qual for a complexidade do programa. Os 100W/8 declarados são assim como uma ‘fuga ao fisco’ sobre a potência real…
Os módulos HDAM são também utilizados em profusão nas secções de pré-amplificação, phono (MM e MC) e auscultadores do amplificador PM12SE.
Nota: a saída para auscultadores do PM-12 SE utiliza o mesmo módulo HDAM-SA2 do SA-12 SE, mas o som deste último é mais transparente, o que tem lógica, pois a audição no amplificador duplica o número de componentes no caminho do sinal.
Vão-se os rubis, ficam os sons
Assim, quando ler na literatura promocional que o PM-12 SE é um amplificador integralmente analógico (analogue only integrated amp), saiba que estão apenas a referir-se ao facto de o DAC estar integrado no leitor CD/SACD, e não no amplificador, ainda que este utilize um transformador toroidal independente só para a secção de pré-amplificação e fontes de alimentação separadas por canal para uma melhor gestão do ruído. A alimentação dos módulos Hypex é comutada, claro.
Os PM-12 SE também podem ser configurados ‘em ponte’ (bi-amp) e montados em tandem (Floating Control Bus System), até 4 amplificadores, nos casos especiais (e raros) em que seja precisa mais potência. Numa festa ao ar-livre para centenas de pessoas, por exemplo, num futuro post-Covid19, que se deseja próximo.
…os ‘12SE’ são os ‘KI Ruby’ sem o… rubi e sem o autógrafo de Ken…
Ou seja, eu podia fazer aqui copy-paste de tudo o que escrevi sobre os ‘KI Ruby’ que não faltaria à verdade. Aliás, não vejo qualquer problema em repetir o que disse, quando a própria Marantz também se ‘repetiu’, pois os ‘12SE’ são os ‘KI Ruby’ sem o… rubi e sem o autógrafo de Ken.
Vira o disco e toca o mesmo
Regressei a um lugar onde fui feliz, por isso fui tentado a ouvir os mesmos discos que tinha reproduzido no KI Ruby, além de uma seleção variada de outros discos e ficheiros áudio de alta resolução.
…os resultados da análise auditiva foram em tudo idênticos aos obtidos no teste dos KI Ruby…
Com o Filtro 1, o som é doce sem ser ‘adocicado’; dinâmico sem ser brusco ou áspero; com boa sensação de espaço, mas sem o risco de provocar agorafobia, pois é envolvente, macio e reconfortante. Não dá pânico, nem vontade de fugir, dá vontade de ficar a ouvir música. Serenamente.
Com o Filtro 2, a resposta é mais plana e o som ganha recorte e definição no agudo, sem excesso de ‘sharpness’, algo que, em equipamentos menores, vem normalmente acompanhado de um halo desagradável de artificialidade eletrónica.
KI Ruby revisitado
O SACD ‘Highway 61 revisited’, de Bob Dylan (tenho a coleção toda, incluindo as versões surround, que o SA-12 SE reproduz apenas em estéreo) soa particularmente bem com o Filtro 1, porque o som de Dylan é cru e metálico; já Diana Krall soa melhor com o Filtro 2, porque para ‘doce’ já basta ela…
Tendo testado, recentemente, o amplificador integrado a válvulas Prima Luna EVO 400, ousei comparar de memória o modo tríodo com o Filtro 1 e o modo Ultralinear com o Filtro 2. Não é a mesma coisa, admito, mas a sensação é semelhante.
O leitor SA-12 SE é um notável reprodutor de SACD, e eleva os CD a um patamar bem próximo do parente de alta resolução. Tal como o ‘Ruby’, também reproduz ficheiros áudio contidos em suporte DVD-R, como é o caso do formato HX-R da Reference Recordings. Mas não ‘lê’ DVD-Audio, um formato defunto de que tenho alguns exemplares.
Quanto ao PM-12SE, tudo o que escrevi sobre o PM KI Ruby se aplica aqui com uma luva:
‘a precisão matemática dos módulos NCore 500 da Hypex garante um som limpo, rápido, poderoso, sem adiposidades ou distorção, de excelente claridade, recorte, elevada resolução e uma transparência rara na Classe D’.
Em equipa que ganha não se mexe. A Marantz limitou-se assim a mudar a cor do equipamento e o emblema, pois a vitória já estava garantida à partida. Mas já que me perguntam, eu prefiro os KI Ruby, quanto mais não seja por razões sentimentais. De resto, são como duas gotas de água…
Produto testado:
Marantz SA-12/PM12 SE
Preço: 4190/3799 €
Para mais informações: