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Editorial

Harvey “Gizmo” Rosenberg – a loucura mansa do Triode Father

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Dr. Harvey “Gizmo” Rosenberg MDh, que se autointitulava Doctor of Gizmology, único doutorado de uma Universidade criada por ele, título no qual as iniciais MHd significavam “Major Dick head”; e ainda Sétimo Conde do Clã Mc Tannoy e Grão-Mestre da Liga dos Tríodos.

Nota: Rosenberg foi também curador oficioso do legado de Julius Futterman, nomeadamente os amplificadores a válvulas OTL, que defendeu até morrer contra tudo e contra todos, nomeadamente Harry Pearson, da TAS.

Eis outros títulos que se auto outorgou:

Mayor of Vinylville

Grand Wazir of Speakermaniacs

Thermionic Techno-Shaman

 

Purista ou humorista?

Conheci Harvey Rosenberg em Las Vegas, na apresentação das colunas Tannoy Churchill, de cuja construção ele dizia ter sido o influenciador, inspirado pelo espírito de Churchill. Harvey Rosenberg alegava ter sido o médium através do qual o espírito de Churchill inspirou a Tannoy a fabricar as colunas do mesmo nome.

Harvey era desconcertante e nunca se sabia se estava a brincar ou a falar a sério. Havia quem o achasse um purista do áudio, enquanto para outros não passava de um humorista. A sua breve autobiografia podia muito bem ser o guião de um filme dos Monty Python.

A viagem ao Japão

Tudo começou em 1980, numa viagem que fez ao Japão. Rosenberg descobriu com surpresa que os áudio maníacos nipónicos (a expressão é dele) viviam felizes em atarracados apartamentos com enormes colunas da Tannoy, que lhes roubavam metade do espaço vital. E que as alimentavam com amplificadores a tríodos (válvulas de baixa potência).

Tal como certas figuras públicas se convertem ao budismo na sua primeira viagem ao Oriente, Rosenberg converteu-se ao “triodismo”.

Loucura mansa

Diz-se dos loucos que estão mais próximos de Deus. Talvez. Mas ninguém, depois dele, publicou algo de tão emocionalmente poderoso sobre as colunas Tannoy. A loucura mansa, que ele próprio admitia, não passava afinal de um cativante descaramento ou uma irrequietude apaixonada.

E só quem nunca ouviu um amplificador a tríodos, como o Kondo Ongaku (japonês, claro) a alimentar um par de colunas de corneta, pode afirmar que não há um pingo de verdade na sua paixão pelos tríodos e colunas de corneta interna.

Subjectivity my ass

Rosenberg distribuiu então a todos os que o visitaram em Las Vegas para ouvir as Tannoy Churchill, alimentadas por amplificadores a válvulas da Bel Canto, de John Stronczer (tríodos 845, what else?) um opúsculo, cujo texto foi o mais bizarro (poético?) que já alguma vez li sobre temática áudio e que vos apresento hoje. Os que acham que eu abuso da subjetividade, ainda não leram nada…

Esoterismo e sexo

Dos aspetos técnicos ao budismo zen; do espiritismo à “espiritualidade” dos charutos: do esoterismo ao sexo, há de tudo um pouco neste texto. Para utilizar um termo inglês, é tão “weird”, que só pode mesmo ser publicado na silly season.

Eis a tradução, que publiquei na altura, do opúsculo original de Harvey Rosenberg, tal como me foi distribuído por ele próprio, com alguns apartes e subtítulos da minha autoria. Que a sua alma inquieta descanse em paz:

Harvey Rosenberg, em Las Vegas, fazendo uma dança ritual  dos índios (que eles dizia terem inventado o charuto) em redor das Tannoy Churchill. Ao fundo, em baixo, os amplificadores a tríodos 845 Bel Canto SE40

Harvey Rosenberg, em Las Vegas, fazendo uma dança ritual dos índios (que eles dizia terem inventado o charuto) em redor das Tannoy Churchill. Ao fundo, em baixo, os amplificadores a tríodos 845 Bel Canto SE40

       1. A aventura insana

As Tannoy não são uma coluna de som; são uma religião: a verdadeira concreção da colusão concêntrica (vá ao dicionário: as palavras existem e até fazem sentido aqui).

O que se segue é uma verdadeira aventura; ou como nós, os insanos (vá lá que ele próprio admitia isso) podemos convencer, inspirar, motivar para a ação outros para servirem os nossos desejos de êxtase musical.

A minha responsabilidade como Grão Mestre da Liga dos Tríodos é garantir que a atual revolução dos tríodos, que varre o mundo neste momento, atinja a maturidade.

Mas eu não estou sozinho, em todo o mundo há uma irmandade, de que é exemplo a do Clan Mc Tannoy, numa incessante busca do êxtase e de subtileza sónica. A Revolução dos Tríodos é a reação natural à força bruta do áudio.

      2. A verdade no jogo de sombras

Há hoje nos E.U.A uma enorme procura de equipamentos que permitem revelar não a luz ofuscante do hifi, mas o jogo de sombras onde se esconde a verdade da música.

Eu já tinha ouvido colunas de corneta da Tannoy. Mas quando as ouvi acolitadas por amplificadores com base em tríodos, converti-me ali mesmo ao culto do altifalante dual-concêntrico.

     3. A cultura japonesa

 Ao princípio, não percebia como era possível aos japoneses viverem com colunas de som tão grandes em apartamentos tão pequenos. Percebo agora que a paixão pela minúcia acústica, só percetível na presença de forte contraste dinâmico, está fortemente enraizada na cultura japonesa.

É mais um reflexo cultural do gosto deste povo pelo contraste: patente também na pintura, na escultura, na linguagem e na música.

Os altifalantes de corneta e os monitores de estúdio da Tannoy são ultra dinâmicos. É por isso que os japoneses os adoram. O ouvido deles parece ser mais sensível às minúcias dinâmicas, enquanto o dos americanos só se satisfaz com a força bruta da potência excessiva.

     4. Bom som é melhor que sexo

Mas não é só isso: uma esposa americana nunca permitiria que transformassem a sua sala de estar num estúdio.

No Japão, as mulheres são mais passivas. E isso permitiu o desenvolvimento de um culto pelas enormes colunas de “corneta” interna. No princípio dos anos 90, a Tannoy fabricava estas colunas exclusivamente para o mercado japonês. Todos aqueles que atingiram o Nirvana em áudio sabem que um bom som é melhor que sexo.

Para pôr a coisa em termos Zen, além das Tannoy e dos tríodos de que mais pode precisar um homem religioso como eu?

Amplificador Kondo Ongaku a tríodos. Para muitos o amplificador mais musical do mundo. Serão todos loucos? Não julgue sem ouvir. Atenção: eu não escrevi medir...

Amplificador Kondo Ongaku a tríodos. Para muitos o amplificador mais musical do mundo. Serão todos loucos? Não julgue sem ouvir. Atenção: eu não escrevi medir...

     5. Sonhos húmidos

Quando comprei os meus monitores profissionais Tannoy com o famoso altifalante dual concêntrico de 15 polegadas, eu não comia para os ouvir. Sonhava com eles: na cama, no duche, e até enquanto fazia amor com a Cindy Crawford pensava neles para me excitar…

Deixei mesmo de ir ao meu mosteiro favorito para meditar. Sentava-me, e ouvia a voz de deus através deles.

     6. Onde diabo está o tweeter?

O que mais surpreende as pessoas, quando olham para o enorme altifalante dual concêntrico das Tannoy é: “onde diabo está o tweeter?”. Não está, é. O altifalante é uno e indivisível. O agudo, o médio e o grave são todos emitidos a partir do mesmo ponto.

Depois de ouvir este altifalante, mesmo as mais sofisticadas colunas de altifalantes múltiplos parecem sofrer de "descombobulação" musical (nt. discombobularity, no original), ou seja uma desconcertante ausência de refinamento harmónico e integridade musical.

     7. Quanto mais simples melhor

Tanto no que diz respeito a colunas de som, como outros componentes, quanto mais simples melhor. Quanto mais um sinal é processado, pior. Esta é a regra de ouro. No áudio tal como na vida, a simplicidade é tudo. A simplicidade das Tannoy e a simplicidade dos tríodos (1), eis uma combinação extraordinária que nos revela o Corpus Harmonicus Mysticum: a alma da música.

Foi assim que, inspirado pelo espírito de Churchill, convenci a Tannoy a criar as colunas perfeitas com o seu nome (nt. e o V de vitória). Se quer ter uma experiência musical fora do comum, oiça umas Tannoy Churchill.”

                                                                                                                         Harvey "Gizmo" Rosenberg

Nota do tradutor: (1) Com os tríodos single-ended funcionando em classe A, o sinal é amplificado como um todo e não dividido em meios-ciclos positivos e negativos para serem amplificados separadamente como acontece com outros tipos de amplificadores do tipo push-pull. Uma única válvula amplifica todo o sinal. Isso confere-lhes uma integridade de caráter sónico inimitável.

Winston Churchill e o seu charuto

Winston Churchill e o seu charuto

O fantasma de Churchill

Churchill fala através de mim. Mas porquê eu? , interrogo-me muitas vezes. Talvez porque, sendo americano, a pronúncia inglesa sempre me fascinou. Talvez porque Churchill é o símbolo do carisma acústico da pronúncia inglesa. Durante três décadas tive um fraco por colunas inglesas. Sei agora que isso tem a ver com a pronúncia inglesa.

Mas há uma razão ainda mais profunda pela qual Sir Winston me escolheu para ser o seu canal de contacto com o mundo dos vivos. Winston sabe que eu, tal como todos os amantes de música, tenho prazer no fumo. Não me refiro aos cigarros, refiro-me ao “fumo espiritual”, o charuto.

Como sabem, o charuto foi inventado pelos índios americanos, e Winston nas horas mais negras da 2a Guerra Mundial procurava refúgio nos charutos, um símbolo religioso dos índios americanos, para ganhar coragem e inspiração para derrotar Hittler.

Mas já poucos sabem que Sir Winston passava horas a fumar e a ouvir música para se fortalecer. Fumar e ouvir música são dois dos mais poderosos meios de rejuvenescimento espiritual conhecidos pelo homem. Não admira, pois, que tenha sido ele a fonte inspiradora das Tannoy Churchill."

                                                                                                                              Harvey "Gizmo" Rosenberg

Harvey Rosenberg Las Vegas capa

Harvey Rosenberg, em Las Vegas, fazendo uma dança ritual dos índios (que eles dizia terem inventado o charuto) em redor das Tannoy Churchill. Ao fundo, em baixo, os amplificadores a tríodos 845 Bel Canto SE40

Amplificador Kondo Ongaku a tríodos. Para muitos o amplificador mais musical do mundo. Serão todos loucos? Não julgue sem ouvir. Atenção: eu não escrevi medir...

Winston Churchill e o seu charuto


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