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Clones 25i

Clones 25i, comida chinesa gourmet

Como o nome indica, o Clone 25i é uma cópia do famoso “47 Laboratory 4706 Gaincard”, com o qual Kimura san surpreendeu o mundo do áudio em 1999, ao construir um amplificador com base num simples circuito integrado e uma PSU. Contudo, se é verdade que podia ser considerado como um “chip-amp” não era um “cheap-amp”.


O modelo da 47 Labs custava um pipa de massa na altura (3 mil dólares!), mas o circuito era tão simples e fácil de construir que de imediato se criou o movimento “gaincard clone”, uma espécie de febre DIY, pela qual também fui gravemente infectado nos anos 70.


Tudo o que o amador precisava era de um opamp de cinco dólares. E uma PSU, com base num transformador (uma ponte, alguns diodos de rectificação e dois condensadores; regulava-se o ganho do opamp por meio de duas resistências: uma em série e outra em paralelo (o ganho depende da relação do valor entre ambas) e aquilo até nem tocava nada mal! Ou seja: o amplificador pouco mais tinha que meia-dúzia de componentes.


Os “gaincards” dispensavam a placa de circuito, bastava soldar as resistências directamente nos pinos do circuito integrado. Aliás, se o construtor DIY apenas pretendesse o ganho unitário do IC, nem precisava de resistências!...


O único problema era a qualidade da PSU, e a maior parte destes projectos borregava, porque os chips são muito sensíveis aos spikes da corrente.


O Clones 25i nasceu assim também como um projecto DIY. Funjoe, um jeep (jovem empresário de  elevado potencial) de Hong-Kong, especialista em artes gráficas, sempre teve, tal como eu, a paixão da música e do áudio, é admirador de Jeff Rowland e Nelson Pass, idem; e gostava de construir os seus próprios amplificadores, ibidem.

Clones 25i: uma sólida caixinha de jóias em metal preto, quase cúbica na forma.

Clones 25i: uma sólida caixinha de jóias em metal preto, quase cúbica na forma.

O primeiro Clones 25i, um projecto de amplificador estéreo de baixa potência (apenas 25W) do tipo gaincard, foi construído por Funjoe a pedido do pai que o queria oferecer a um amigo audiófilo.


E os resultados foram tão bons que resolveu criar a empresa Clones Audio para os comercializar. Começou pelo modelo estéreo, o objecto desta análise, que custa pouco mais de 700 euros, e é distribuido em Portugal pela TopAudio.


Na Absolut Sound&Video já estão disponíveis para audição também o prévio e os monoblocos, com base na mesma topologia, que eu ouvi en passant com um par de colunas Davis, e me deixou siderado pela claridade e transparência do som.


O Clone 25i, apesar do “i” no nome, e do pouco peso e tamanho reduzido, não é mais um amplificador digital com Bluetooth, Dac integrado etcetera e tal. É um amplificador integrado analógico puro, que só não é convencional, porque se trata, como já vimos de um “gaincard amp”, com base no chip L3875 da Texas Instruments, montado numa sólida caixinha de jóias em metal preto, quase cúbica na forma, cujo miolo é composto por pouco mais que um transformador toroidal.

O interior da caixa do Clones 25i é quase todo ocupado pelo transformador toroidal

O interior da caixa do Clones 25i é quase todo ocupado pelo transformador toroidal

Retirada a tampa (ver foto), pode observar-se que é um T1:  no “quarto” dorme o referido toroidal o sono dos justos, o corredor está ocupado pelas varas que ligam os botões ao selector e ao potenciómetro ALPS e na kitchinet cabe inteiro todo o circuito de amplificação.


É tão minúsculo que parece ter sido fabricado em Lilliput, e consiste, o leitor já sabe, mas só vendo (e ouvindo!) se acredita, nos tais opamps L3875 TI, um por canal, que fazem uma sanduíche com os condensadores de filtragem aos quais estão directamente soldados. E mais meia-dúzia de mini componentes sortidos entre resistências e condensadores.


Caramba, isto parece um projecto de um miúdo finalista de um curso de electrónica! Mas, depois de o ouvir, dei-lhe um 16, e passei-o com distinção: summa cum laude.

O “Gaincard” é o circuito de amplificação que mais se aproxima do proverbial straight wire (ou seja: fio-com-ganho).

O “Gaincard” é o circuito de amplificação que mais se aproxima do proverbial straight wire (ou seja: fio-com-ganho).

Em electrónica, os opamps são normalmente utilizados em funções menos nobres de amplificação, e há audiófilos que não lhes tocam – literalmente – nem com uma vara de dois metros, porque consideram que os “verdadeiros” circuitos highend devem ser construídos com componentes discretos.


Até porque estes amplificadores operacionais funcionam em Classe AB e precisam de doses maciças de realimentação negativa, o que normalmente contribui com alguma “dureza de rins”.


Portanto, nem deviam ser considerados alta fidelidade. Pois prepare-se para uma surpresa. Há poucos amplificadores no mundo que consigam reproduzir ondas quadradas com a perfeição (e definição) de um gaincard.


Além disso, os chips têm vantagens térmicas, pois a temperatura de todos os componentes é mais uniforme e os resultados da performance técnica são pelo menos previsíveis.

Gráfico de onda quadrada 10kHz reproduzida por um circuito gaincard (cortesia Stereophile)

Gráfico de onda quadrada 10kHz reproduzida por um circuito gaincard (cortesia Stereophile)

Gráfico de onda quadrada 10kHz reproduzida por um circuito single-ended triode (cortesia Stereophile)

Gráfico de onda quadrada 10kHz reproduzida por um circuito single-ended triode (cortesia Stereophile)

Terá Kimura descoberto a quadratura do círculo? Tal como Funjoe, ele nem tinha intenção de o comercializar, apenas pretendia ter à mão um amplificador que reproduzisse exactamente os sinais do DAC highend que estava então a desenvolver para a 47 Labs.


Até ele próprio ficou espantado com o resultado. Como eu fiquei e você vai ficar. Não dá para acreditar que um circuito “simplex” como base num “chip” reproduza música desta maneira.

Atrás, os bornes para os cabos de coluna, as fichas RCA e um discreto comutador on/off.

Atrás, os bornes para os cabos de coluna, as fichas RCA e um discreto comutador on/off.

O Clone 25i não é só simples por dentro, é também simples por fora: dois botões rotativos iguais, um para o volume, o outro para seleccionar uma das 3 entradas analógicas. Atrás, os bornes para os cabos de coluna, as fichas RCA e um discreto comutador on/off. E três pézinhos cónicos por baixo: dois à frente e um atrás. That’s it!


A verdade é que hoje não há cão nem gato que não utilize opams no andar de saída: DACs, amplificador de auscultadores, prévios e até telefones e computadores portáteis, televisores, you name it! É fácil, é barato e não custa milhões...


Por outro lado, há quem defenda que o gaincard é o circuito que mais se aproxima do proverbial straight wire (ou seja: fio-com-ganho). Não há praticamente nada no curto caminho do sinal entre a entrada e a saída: um simples chip e meia-dúzia de componentes (por canal).


A potência é limitada, claro, mas mais do que suficiente para aplicações domésticas de audição saudável. Aliás, um dos mais emblemáticos amplificadores do mundo, o Mark Levinson ml2, também só tinha 25W e o segredo, segundo Levinson, the man himself, residia na fonte de alimentação sobredimensionada, como é o caso do Clones 25i.


Por outro lado, Nelson Pass, considera ainda hoje que o mais importante é a qualidade do primeiro watt (amplificador First Watt), o resto vem por acréscimo.

Liguei o Clones 25i a um par de Sonus Faber Concertino (originais) e a pressão sonora disponível em velocidade de cruzeiro foi mais do que suficiente.

Liguei o Clones 25i a um par de Sonus Faber Concertino (originais) e a pressão sonora disponível em velocidade de cruzeiro foi mais do que suficiente.

No meu caso, liguei o Clone 25i a um par de Sonus Faber Concertino (originais), que não são propriamente cornetas de elevada sensibilidade e a pressão sonora disponível em velocidade de cruzeiro foi mais do que suficiente. E utilizei cabos Supra baratuchos que tinha guardados numa caixa. Nada de sofisticado, portanto.


Na audição, a primeira surpresa que vai ter é a extraordinária transparência, claridade, velocidade e pureza tímbrica do som. Depois, vem a maior surpresa: a articulação e definição do grave. Mas como é que um circuito do tamanho de um selo tem este grave todo?!...


A pouco e pouco, começa a perceber que a separação instrumental (e entre canais) e a precisão da focagem está ao nível do estado da arte. O palco é um pouco flat, porque estamos habituados e gostamos de amplificadores que exageram a profundidade, mas no plano lateral a “envergadura das asas” é notável.


O sinal entra pela porta a voar como um passarinho feliz e sai pela janela sem tocar em nada lá dentro, o que não acontece com os SET (single ended triode): os músicos entram, sentam-se no sofá, e fumam um charro à lareira das válvulas de aquecimento directo antes de actuar...


Ao contrário dos SET, que sofrem de “sopro” endógeno, o Clones 25i (sem sinal áudio à entrada) é totalmente silencioso mesmo com o volume no máximo. Pode encostar o ouvido ao tweeter que não se ouve uma mosca.


Daí talvez a sensação de que os sons mais ínfimos se ouvem com extrema definição, como se, no escuro de breu, alguém no palco nos fizesse sinais de morse com uma lanterna eléctrica.


Melhor ainda: o 25i é o mais próximo que ouvi do First Watt, de Nelson Pass, que utiliza o único Jfet conhecido que funciona como um tríodo: SIT, o Static Induction Transistor da Yamaha.


Ao Clones 25i pode faltar a potência dos V8 do áudio, com 30, 40 ou até 60 transístores de potência no andar de saída, que debitam 500W e mais. Mas tem outro tipo de poder: atrai-nos para o vórtice do processo musical em curso com os seus parcos 25W, dos quais os primeiros 5W são tudo quanto vai precisar, se não os ligar a umas Apogee, claro.


É mesmo viciante, pois trata-se de uma nova forma de ouvir, que eu tenho diculdade em definir. Enquanto os SET (single triode) a válvulas têm uma textura de veludo, o 25i soa como cambraia fina que, ao deixar passar a Luz, nos mostra os fios da textura do tecido à transparência. Contudo, os mais pequenos detalhes ouvem-se como fazendo parte da música, e não apenas como “fogo-de-artifício” sonoro. And that’s a good sign always.


O som é tão delicado e definido que mesmo colunas convencionais exibem as características próprias das electrostáticas. Se subir muito o volume, endurece um pouco nos registos médio-altos, mas continua a dar gozo porque o grave tem ritmo, recorte e um ataque inusitado para um brinquedo destes. Só não os tente acasalar com colunas magras e histéricas. Opte pelas mais redondas e fofinhas. Os Clones 25i gostam de chicha...


Ao princípio, com CD, por exemplo, julguei ouvir nas vozes, sobretudo as femininas, aquilo a que os críticos anglo-saxões chamam “lispiness”, um ligeiro cício, que foi desaparecendo com o tempo, ou então fui eu que me habituei: o cérebro tem destas coisas.

Com o fabuloso Chord Hugo (a fonte ideal para o 25i), o som ganhou corpo, volume, tornou-se orgânico, eu diria até, biológico.

Com o fabuloso Chord Hugo (a fonte ideal para o 25i), o som ganhou corpo, volume, tornou-se orgânico, eu diria até, biológico.

Mas quando passei a ouvir exclusivamente áudio HD com recurso ao fabuloso Chord Hugo (a fonte ideal para o 25i), passei-me (passe a aparente redundância): o som ganhou corpo, volume, tornou-se orgânico, eu diria até, biológico.


Há quem aconselhe 200 horas de queima. Se eu tivesse de esperar tanto tempo para ouvir todos os aparelhos que testo, estava lixado: tinha de ser accionista da EDP. Admito, contudo, que, tendo-o deixado ligado 3 dias seguidos, o som evoluiu bastante no bom sentido.


É verdade que, por 795 euros, hoje pode comprar um amplificador digital daqueles que namora à janela da internet ao som da Spotify, manda emails e ao qual só lhe falta o GPS, ou nem isso. Mas dê uma hipótese ao Clones 25i de mostrar o que vale, e vai ficar tão surpreendido quanto eu fiquei. E olhe que eu raramente sou apanhado de surpresa...


Já o ano passado no Audioshow fui apanhado por Carlos Moreira, que tinha um Arcam A19 escondido debaixo do manto de veludo. Este ano pelo menos já sei qual é o segredo.

Marque uma audição urgente dos Clones na Absolut Sound & Video. Vai dar o seu tempo por bem passado, juro.


Absolutamente recomendado para quem gosta de ouvir som de alta definição a baixo custo. É como beber pela primeira vez uma cerveja artesanal: ao princípio estranha-se, depois...


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Clones 25i, comida chinesa gourmet

Clones 25i: uma sólida caixinha de jóias em metal preto, quase cúbica na forma.

O interior da caixa do Clones 25i é quase todo ocupado pelo transformador toroidal

O “Gaincard” é o circuito de amplificação que mais se aproxima do proverbial straight wire (ou seja: fio-com-ganho).

Gráfico de onda quadrada 10kHz reproduzida por um circuito gaincard (cortesia Stereophile)

Gráfico de onda quadrada 10kHz reproduzida por um circuito single-ended triode (cortesia Stereophile)

Atrás, os bornes para os cabos de coluna, as fichas RCA e um discreto comutador on/off.

Liguei o Clones 25i a um par de Sonus Faber Concertino (originais) e a pressão sonora disponível em velocidade de cruzeiro foi mais do que suficiente.

Com o fabuloso Chord Hugo (a fonte ideal para o 25i), o som ganhou corpo, volume, tornou-se orgânico, eu diria até, biológico.


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