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Trio Maravilha da Ferrum: Wandla, Oor, Hypsos

Ferrum Trio DSD512 (1).jpg

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O novo DAC Ferrum Wandla completa a trilogia de estado da arte da HEM, uma empresa de origem polaca que oferece qualidade alemã a preços da China.

Foram três anos de trabalhos e canseiras, cujo resultado final justifica o nome irónico que deriva de Wandler, a palavra alemã para Conversor. E eu que cheguei a pensar que estavam a preparar o lançamento de um Streamer, mas parece que esse vai ser afinal o ‘Quinto Elemento’.

O Wandla (2.795€) é um DAC puro, que não oferece o amplificador de auscultadores do Erco (2.395€), pois foi concebido para casar com o Oor (1.995€).

Mas também pode utilizá-lo como prévio para atacar um amplificador externo ou um par de colunas ativas. Utilizando o Wandla como prévio, pode optar por controlo de volume analógico (potenciómetro de resistências reguladas digitalmente); ou digital (ao nível do DAC). Opte sempre pelo controlo analógico: soa muito melhor.

Nota: Antes de ligar o Wandla a um Receiver ou prévio externo, depois do Bypass, tenha o cuidado de fazer 'output trimming' para 2 ou 3 V, pois os 10 V de saída do Wandla podem saturar o circuito de entrada.

Quando ligado ao Oor, faça Bypass também ao controlo de volume e regule o som no controlo do Oor, cuja potência é suficiente para alimentar mesmo os mais famintos auscultadores planar-magnéticos. Na audição, utilizei um par de auscultadores dinâmicos Sf Pryma e um par de Hifiman HE1000 planar-magnéticos.

De cima para baixo: Ferrum Wandla, Ferrum Oor, Ferrum Hypsos

De cima para baixo: Ferrum Wandla, Ferrum Oor, Ferrum Hypsos

Wandla & Friends

Nesta análise, vou focar-me, pois, no novo DAC Wandla com PSU Hypsos, integrado num sistema composto ainda pelo amplificador de auscultadores Oor. Todos os modelos Ferrum são fornecidos de fábrica com uma PSU do tipo ‘Walmart’ de 24 V. A PSU Hypsos (1.195€) é um extra opcional com benefícios audíveis na qualidade de som.

Nota: a Ajasom disponibilizou amavelmente um splitter que permite alimentar ambas as unidades com uma única Hypsos, mas na falta de um cabo para ligar o Oor, apenas o Wandla recebeu o tratamento extra.

Segundo Marcin Hamerla, fundador da HEM, a companhia-mãe da Ferrum, com vinte anos de experiência no campo digital, a plataforma SERCE foi redesenhada, de forma a poder funcionar com menos cinco ‘chips’ do que é habitual e a performance do DAC ESS Saber ES9038PRO foi muito melhorada com o novo conversor corrente-tensão.

O Wandla é compatível com DXD até 786kHz e DSD256. E MQA 352,8kHz, embora a Tidal vá passar a apostar também no código FLAC, agora que a MQA ameaça falência.

Também constatei que afinal o Wandla é compatível com DSD512 nativo (ver foto). Não que isso tenha uma importância fundamental, mas ‘o seu a seu dono’, embora a HEM tenha sido conservadora nas especificações.

Filtros gourmet

Dos sete filtros disponíveis no chip ESS, a HEM selecionou apenas três: apodising, minimum phase fast e linear phase fast. Os outros dois filtros: Gauss e Apodising (ambos de 32 bit) foram desenvolvidos em parceria com a HQPlayer.

As diferenças são mínimas na audição, até porque são todos praticamente planos na banda áudio. Mas com ficheiros de alta resolução até 192kHz, os filtros da HQPlayer são os meus preferidos, talvez o Apodising mais do que o Gauss. Dos filtros da ESS, prefiro o Apodising também mas, de uma maneira geral, quando comparados com os da HQPlayer, soam os três mais… digitais.

Nota: Todos os filtros são do tipo upsampling, pelo que o Wandla não oferece conversão bit-perfect.

De cima para baixo: Ferrum Wandla, Ferrum Oor, Ferrum Hypsos

De cima para baixo: Ferrum Wandla, Ferrum Oor, Ferrum Hypsos

Dynamic Digital Filtering

Por ‘dynamic’ não deve entender-se um novo tipo de filtro. Trata-se de uma curiosa iniciativa da HEM, que permite aos possuidores de um Wandla votar nos filtros que mais gostam. Os menos votados serão no futuro substituídos por outros, por meio de atualização de firmware online.

Digamos que se trata de um referendo universal, no qual o povo é quem mais ordena. Ou talvez seja uma forma de manter o povo ‘colado’ ao poder da HEM durante a ‘vigência’ do Wandla.

Nota: antes de votar, saiba que com ficheiros DXD, DSD e MQA os filtros não estão ativos, por isso não deve ouvir diferença nenhuma. Faça a experiência antes com ficheiros PCM até 192kHz.

Todos iguais, todos diferentes

Os modelos Ferrum apresentam-se todos com o mesmo chassis e a mesma caixa de alumínio, a solução ideal para montagem sobreposta. Por dentro, claro, são todos diferentes, dependendo da sua função. O que é comum a todos é a excelente qualidade dos componentes e a organização do PCB, onde se destaca o processador ARM montado num PCB independente mais elevado.

Se o Wandla sozinho fosse montado numa caixa maior e com um painel de alumínio espesso cheio de botões, não era surpresa nenhuma se pedissem 5.000 ou mais euros por ele.

O Wandla oferece saídas XLR balanceadas para atacar um amplificador externo - e os sinais analógicos RCA à entrada são também depois balanceados internamente.

Quanto às entradas digitais, todas as portas se abrem, desde  S/PDIF ótica e coaxial até AES/EBU, USB-C e I2S. Formatos até 768 kHz/32 bits e DSD512 só podem ser reproduzidos via USB-C e I2S.

O painel frontal do Wandla mantém o habitual logótipo iluminado e recortado numa base quadrada cor de ferrugem (Diamonds&Rust). Novo é o mostrador do tipo touch-screen. De resto, tem apenas o botão de volume (e um controlo remoto com funções básicas). Tão simples quanto isso.

Se o Wandla sozinho fosse montado numa caixa maior e com um painel de alumínio espesso cheio de botões, não era surpresa nenhuma se pedissem 5.000 ou mais euros por ele, considerando as funções e especificações avançadas que oferece.

Fogo à peça

Como fontes principais, utilizei um Hifi Rose RS520 (apenas como streamer) e um Eversolo DMP-A6 Master Edition (também na função de streamer), ambos ligados por USB para garantir a máxima resolução (as saídas HDMI não mostraram compatibilidade). Utilizei ainda o meu PC com software JRiver para poder aceder a ficheiros PCM 786kHz e DSD 512 armazenados num disco rígido.

O meu leitor CD/SACD/BluRay Oppo 95EU tem uma saída HDMI que já utilizei com bons resultados para reproduzir ficheiros DSD (.dsf e .dff) a partir de um SACD, com um leitor Cd da Bryston. Mas por qualquer razão técnica que não consegui resolver até ao fecho desta edição, também não mostrou ser compatível com o Wandla, por isso utilizei exclusivamente a ligação SPDIF coaxial (Max. 192kHz). Li algures que funciona bem com os leitores da PS Audio, mas não tive oportunidade de testar esta solução.

Nota: I2S (Inter IC Sound) é uma interface de ligação de componentes digitais via HDMI. Atenção: não é a mesma coisa que ARC (Audio Return Channel) também disponível no Wandla para ligar a uma TV via HDMI. A vantagem do I2S é a de se poder transmitir DSD (formato .dsf e .dff) em dois canais e multicanal. Não há um standard universal e por isso nem sempre funciona, como foi aqui o caso. O Wandla permite configurar esta entrada, o que tentei sem sucesso.

Certificação Roon

O Wandla está certificado pela Roon, mas para obter os melhores resultados deve primeiro cumprir os seguintes passos:

  1. Instalar Windows ASIO Driver v1.1.0 para Wandla
  2. No Roon, vá a Settings/Audio
  3. O Wandla surge como Wandla e como Ferrum Audio Asio. Opte por este último.

O primeiro utiliza o protocolo Wasapi, que funciona perfeitamente, mas com limitações na resolução PCM384 e processa os ficheiros DSD via Dop, com limitação a DSD256.

O segundo utiliza o protocolo Asio que garante a máxima resolução possível.

Com a Hypsos, o Wandla é um dos melhores DACs que já ouvi, e o melhor na gama dos 5.000 euros.

O Wandla é neutro e transparente, o que significa que tem baixa distorção harmónica e muito baixo jitter. Por neutro, não se entenda que é bit-perfect, pois faz upsampling internamente de todos os sinais para 352,8 ou 384kHz; nem que a resposta é sempre totalmente plana, pois depende da pendente do filtro que se selecionar. Por neutro, aqui, entenda-se que não parece introduzir qualquer coloração ‘digital’, sobretudo com os filtros da HQPlayer, que são do mais ‘analógico’ que já ouvi.

Com a Hypsos, o Wandla é um dos melhores DACs que já ouvi, e o melhor na gama dos 5.000 euros.

O mistério da paragem de autocarro

Nos meus testes auditivos, começo sempre por ouvir ‘Frojda dig, du Kristi brud’ (versão a 88,2kHz da HDTracks), cantada pela soprano Marianne Mellnas. E já expliquei muitas vezes porquê, em outros testes que publiquei no Hificlube:

O famoso Cantate Domino, da Proprius, foi gravado em 1976, em Estocolmo, na OscarKyrken, uma igreja neogótica, provavelmente durante a noite para evitar o ruído do trânsito nas redondezas.

Contudo, ouve-se um ruído de fundo não identificável, que uns atribuem ao prévio dos microfones Pearl TC4, ao ruído de fita do Revox A-77, ao ventilador do orgão ou ao mais plausível movimento do ar dentro da igreja.

Mas partir de 0:54, é possível ouvir durante uns segundos o que parece ser um autocarro lá fora, que pára e depois arranca, afastando-se lentamente. Fui ao Google Earth, e não é que há ali uma paragem de autocarro perto! (ver foto).

A paragem de autocarro, perto da OscarKyrken, em Estocolmo.

A paragem de autocarro, perto da OscarKyrken, em Estocolmo.

Há, portanto, um elevada probabilidade de este misterioso ruído de fundo em particular ser causado, de facto, por um autocarro no exterior da igreja, o que só é possível perceber com DACs de elevada resolução (e um bom par de auscultadores).

Pois, o Wandla junta-se agora à elite de DACs, como o dCS Bartok, que nos permitem ouvir claramente o ‘autocarro’, o que significa também que nos permitem ouvir não só a música mas também o ambiente interno e externo onde foi gravada. E não é isso o que todos procuramos num DAC: a realidade, ou o mais próximo possível?

Up, Up and Away

Segue-se ‘Et Misericordia’ do maravilhoso Magnificat de André Arnesen, pelo Coro Juvenil Feminino da Catedral de Nidaros, disposto em arco nos degraus do altar, com a orquestra Trondheimsolistene em frente e a solista Lise Berg ao centro em posição elevada, para confirmar que o Wandla reproduz MQA 352,8kHz via Roon. Check.

Depois, ‘Freddie’, do album duplo Audiophile Jazz Prologue III, ‘When Acoustic Jazz Music meets High End Audio’, por Kent Poon, registado em PCM 384kHz. Check.

Com o JRiver, faço upsampling da mesma faixa para confirmar a máxima resolução PCM declarada do Wandla: para 768kHz. Check.

Ainda com o JRiver, passo a ouvir a 5ª Sinfonia de Mahler, Orquestra Sinfónica de Budapest, dirigida por Ivan Fischer, registada em DSD256 nativo. Check. Depois faço upsampling desta faixa para DSD512. Check. Neste caso, a especificação é superior à declarada pelo fabricante. 

De cima para baixo: MQA 352,8 kHz, PCM 768kHz/32 bit, DSD512,.

De cima para baixo: MQA 352,8 kHz, PCM 768kHz/32 bit, DSD512,.

O Wandla passou no exame com distinção. Todas as faixas soaram tão bem quanto me lembro de as ter ouvido com os melhores DACs do mundo. A partir daqui, deixo a Roon escolher a música, sem me importar com os géneros ou as resoluções nativas, e deixo-me levar pelo embalo da música, quando o tempo e o ritmo ganham importância relativamente à dinâmica, tonalidade e detalhe.

Ainda vamos a meio do ano, mas o Wandla pauta-se já como o HIFICLUBE DAC do ano 2023. Acredito que ainda vou ouvir melhor antes do ano acabar, mas não a este preço com certeza. Nem perto. Absolutamente recomendado.

Produto: Ferrum Wandla (Preamp/DAC)

Preço: 2.795,00 €

Distribuidor: AJASOM

Ferrum Trio DSD512 (1)

De cima para baixo: Ferrum Wandla, Ferrum Oor, Ferrum Hypsos

De cima para baixo: Ferrum Wandla, Ferrum Oor, Ferrum Hypsos

A paragem de autocarro, perto da OscarKyrken, em Estocolmo.

De cima para baixo: MQA 352,8 kHz, PCM 768kHz/32 bit, DSD512,.


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