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2004

Mcintosh Ma 2275: Som De Olhos Azuis- Parte 1

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Em Junho de 1994, tive a honra de testar para a revista Audio o amplificador a válvulas McIntosh MC275, numa edição comemorativa do original de 1961, em homenagem ao seu criador Gordon J. Gow. No ano anterior, tinha ido visitar a McIntosh, perto de Nova Iorque, e senti então o orgulho posto na etiqueta «made in USA», apesar do capital maioritário estar na posse da nipónica Clarion. Tudo naquela fábrica respirava tradição. Todos naquela fábrica queriam que ela continuasse a ser o que era. E ainda hoje é,thank God, apesar da teias que Wall Street tece.


Um amplificador McIntosh não é uma moda passageira - é garantia de futuro dentro do respeito por um passado ilustre de 50 anos. A McIntosh tem o carisma das individualidades que marcaram épocas.


Dez anos depois, o que então era verdade para o MC275 continua a ser hoje verdade para o MA2275, ou não tivesse o mesmo «motor» num novo chassis. De tal forma, que as notas de audição que agora tomei parecem ter sido decalcadas das que então publiquei:


«Que dizer do som do McIntosh? Que é tipicamente «válvulas-anos-60»: quente e doce com baixo arrastado, sem arestas duras na gama média e agudos redondos como os seixos do rio? Nada disso. A primeira sensação, logo a frio, é a de presença e transparência... reproduz os metais de forma explosiva e realista, as vozes soam limpas, presentes e naturais e as cordas têm a mistura ideal de açúcar e resina... é surpreendentemente dinâmico...correcto em termos tonais... sem ser velado ou gorduroso... não enfatiza certas zonas do espectro em detrimento de outras... justo equilíbrio entre presença e recato...».


E terminava assim:


«Perante o desempenho global do MC275, em que medida se evoluiu nas últimas três décadas no campo da amplificação, não em termos electrónicos, entenda-se, mas naquilo que realmente interessa: a reprodução musical?...».


RECEITA ANTIGA, SOM MODERNO


A receita da McIntosh é como a dos pastéis de Belém: o segredo está em manter a qualidade dos ingredientes fundamentais e não alterar nada de substancial - são tão saborosos hoje como presumo seriam há 50 anos.


Pouco ou nada se alterou também no som do MA2275 em relação ao MC275 que justifique rever o que escrevi. Apenas o aspecto mudou. O MA2275 já não tem o estilo clássico do MC275, pois ostenta na face por exigência do público o ex-libris da marca: o tradicional painel de vidro negro com «lettering» verde e as janelas dos wattímetros acesas de azul-turquesa, onde agulhas finissimas dançam ao ritmo frenético da música. Segue-se uma cordilheira intransponível de três transformadores que separa o painel do aquartelamento iluminado das válvulas na retaguarda, que ora se podem exibir gloriosas em campo aberto, ora escondidas sob as muralhas da grelha de metal, quando há crianças de dedinhos curiosos por perto. O preamplificador integrado aceita fontes de linha ephono, para os que ainda não esqueceram o LP. De resto, utiliza o mesmo circuito «Unity Coupled», os mesmos tranformadores bifilares e as mesmas válvulas KT88. Se possível o som tornou-se ainda mais transparente e claro com a introdução de um prévio minimalista composto por válvulas 12AX7A.


TRANSPARÊNCIA E CLARIDADE


Por transparência, entenda-se a perfeita reprodução do excipiente acústico que envolve os sons e nos permite «ver» em profundidade, tanto nos registos naturalistas como nas camadas sobrepostas pacientemente na mesa de mistura, que se podem descascar na audição como uma cebola. Um exercício de levar um audiófilo às lágrimas - mas de gozo. Por claridade, entenda-se a forma, por vezes ofuscante, concedo, como os próprios sons surgem iluminados no palco sonoro desenhado pelo traço fino de elevada resolução.


Para quem está habituado a um Krell FPB400cx, o grave do MA2275 é «seco» por comparação, o que não deixa de ser «esquisito» num amplificador a válvulas. Não me refiro apenas ao «slam» que, como é óbvio, é mais evidente no Krell, refiro-me ao corpo, à textura e ao carácter. Mas talvez por ser de textura mais fina, o grave do MA2275 tem um extraordinário grau de resolução que fez com que a minha escolha da frequência de corte dos «subs» da MJ Acoustics tivesse de baixar dos 42Hz para os 39Hz e, já em despero de causa, para os 36Hz!, porque eu sentia-os a entrar no «peito» das vozes masculinas (a pendente dos MJ Acoustics, tal com a dos REL, do mesmo projectista, é de apenas 6dB/oitava).


É praticamente impossível determinar de ouvido se o MA2275 é a válvulas, pois não sofre de nenhum dos aspectos negativos que os seus detractores atribuem à alegada presença de distorção harmónica, compressão dinâmica, colorações tonais e outras aberrações tímbricas avulsas. Por outro lado, oferece todas as vantagens da tecnologia do vácuo: velocidade de resposta, riqueza harmónica, musicalidade, claridade e transparência.


Reputo, aliás, sem qualquer pudor, o MA2275 como sendo um dos amplificadores integrados mais neutros do mercado mundial. Uma afirmação tanto mais corajosa quanto arrisco incluir nesta classificação a maior parte dos modelos highend a transístores.


Continua (ver em Artigos Relacionados)

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