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2003

É A Decoração, Estúpido!



As ditas aparelhagens de som não estão sempre a tocar. A maior parte do tempo estão até apenas ali só a ocupar espaço vital nos lares modernos. Encher a sala de (pelo menos) meia-dúzia das colunas necessárias para activar um sistema AV Surround exige coragem e diplomacia. Elas nem sempre aceitam pacificamente (e sem resistência) uma invasão do seu território. Além disso, não entendem lá muito bem também qual é a diferença entre um som assim e um som assado, apesar de terem muito melhor ouvido que os homens.


A audiofilia é uma paixão maioritariamente masculina, o que limita à partida o seu campo de acção, leia-se, mercado. Até há vinte anos, os audiófilos estavam dispostos a sofrer autênticos atentados estéticos e acabamentos de vão de escada, desde que a alegada contrapartida fosse a qualidade do som. Elas sofreram este tempo todo em silêncio para não perturbar a audição deles, que passavam horas a olhar para o vazio em busca do som perdido. Mas hoje o investimento doméstico é cada vez mais uma decisão partilhada a dois. Quando os fabricantes começaram a compilar os dados das sondagens para perceber porque motivo os seus produtos, tão incensados pelas revistas da especialidade apenas lidas por homens, não se vendiam, perceberam que, em muitos casos, eles queriam comprar, elas é que não deixavam: «Não vais encafuar lá em casa este par de caixotes horrorosos!?...».


Compreenderam que elas também tinham uma palavra a dizer: é a decoração, estúpido!


Este grito obrigou-os a dar mais atenção ao design e à estética, a melhorar os acabamentos e a introduzir a cor nos seus produtos (e a subir os preços para garantir que o vizinho nunca conseguirá comprar uma igual). Contrataram então mulheres para os departamentos de marketing, as revistas puseram anúncios a pedir jornalistas femininas. A originalidade passou a ter valor no mar de negra uniformidade caixotal que caracteriza a produção asiática (e aqui já incluo algumas marcas europeias que só o são de nome: de facto, têm origem algures no Oriente), onde a sensação de «dejà-vu» nos confunde.


Num mundo de arrivistas sem escrúpulos e de competição desenfreada, onde novos produtos incensados pela crítica aparecem e desaparecem com o brilho próprio do marketing pirotécnico, é bom saber que há marcas que estão no mercado há mais de vinte anos. Quando compramos uma coluna de som o preço pode reflectir a novidade, a qualidade, a arte e/ou a exclusividade da tecnologia ou do design. Em todos os casos o investimento deve ser sempre adequado ao produto comprado. Mas a idoneidade da marca é também um factor importante. E não desespere quando o céu é o limite. Por vezes é preciso ter os pés bem assentes sem contudo perder o acesso à boa música (e som de cinema).


Nenhum fabricante de colunas de som se arrisca hoje a fazer propostas acústicas sólidas sem o suporte da imagem. Já ninguém acredita no que ouve. Todos querem ver como S. Tomás. É a aposta clara na família em detrimento do prazer solitário de ouvir música sozinho no escuro. Os fabricantes de colunas conseguem assim vender cinco colunas quando antes só vendiam duas e alargam o campo de recrutamento a todo o universo familiar, incluindo as mulheres e os filhos. Já toda a gente tem em casa uma «aparelhagem». Neste contexto, ter algo de diferente, de belo, de exclusivo, quando não mesmo inacessível, passou a ser factor de «status». Eis algumas sugestões de decoração acústica com produtos à venda em Portugal que vão fazer subir o seu status e baixar drasticamente a sua conta bancária.



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