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Reviews Testes

Hegel H90, um amplificador com tomates

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A Hegel é uma empresa nórdica, norueguesa para ser mais preciso, pelo que os seus produtos não são baratos. Não é que sejam caros, nós é que ganhamos pouco…Mas eis que, com o H90, a Hegel resolveu dar um bodo aos pobres, oferecendo aos consumidores o fruto do casamento entre o H80 e o Röst (ver teste aqui), por apenas 1700 euros.

O H90 é o fruto do casamento entre o H80 e o Röst, por apenas 1700 euros
Para comemorar o 30º aniversário, a Hegel exibiu no HighEnd Show 2017, caixas do H90 em várias cores, incluindo dourado.

Para comemorar o 30º aniversário, a Hegel exibiu no HighEnd Show 2017, caixas do H90 em várias cores, incluindo dourado.

Não vem vestido de branco como o Röst, do qual também não recebeu a herança genética da arquitectura Control4; nem tem o painel frontal em metal como o H80. Mas, naquilo que interessa realmente, é um amplificador integrado cuja secção de amplificação, por si só, mark my words, vale o dinheiro que pedem por ele. E tem entrada para auscultadores! E que bem que ela funciona. Sacou um grave tenso de um par de Pryma, que são algo enfáticos no baixo; e não vacilou perante as dificuldades colocadas por um par de Hifiman HE1000, tanto em termos de potência disponível como de equilíbrio tonal.

O amplificador de auscultadores do H90 demonstrou ter o mesmo carácter e personalidade do amplificador integrado.

O amplificador de auscultadores do H90 demonstrou ter o mesmo carácter e personalidade do amplificador integrado.

Oferece ainda como extras, nada despiciendos nos tempos modernos, um DAC interno e ‘networking’ com funcionalidade ‘streaming’ para o poder ligar à rede. Ou, de forma mais básica, via Apple Airplay com um iPad ou iPhone. A vantagem do AirPlay é o Plug&Play. Rima e é verdade. Para o potencial comprador do H90, é quanto basta. Um smartphone e a Spotify (eu prefiro a Tidal). E o som resultante é excelente. Claro que eu prefiro sempre a ligação física, mas o ‘airplay’ aqui não é apenas ‘ar’, tem conteúdo musical.

O controlo remoto é básico, embora tenha a particularidade de comandar fora da sua jurisdição, e o H90 não tem uma app própria. Contudo, com um iPhone e a app Linn Kinsky (que é grátis mas podia ser mais user friendly) tem um ‘media player’ funcional (para Android sugerem o Bubble UPnP) para aceder a uma biblioteca de ficheiros em HD num NAS externo.

O material tem sempre razão?

Hegel H90: ‘cores’ saturadas, fixas, sólidas, de textura verosímil, que conferem elevado grau de realismo à reprodução das vozes

Hegel H90: ‘cores’ saturadas, fixas, sólidas, de textura verosímil, que conferem elevado grau de realismo à reprodução das vozes

Com o H90 ligado ao PC via USB, já tive mais dificuldades. O manual é bonito e ecológico mas não é lá muito informativo. Só diz que não é preciso driver – nem mesmo com PC/Windows - e que funciona bem com ficheiros em CD quality, mas que pode ter algumas limitações com 24-bit.

Quando ligado via USB, o ‘sound card’ do H90 substitui automaticamente o do seu computador, coadjuvado pelo controlo remoto, pelo que todos os sons que passa a ouvir: do You Tube, do Skype ou até do Windows, passam a ser reproduzidos pelo amplificador/colunas/auscultadores.

Mas lá consegui ouvir ficheiros que tenho armazenados no meu Synology até aos declarados 192/24. Isto com o media player da Groove Music, com o JRiver só funcionou com Kernel streaming a 44/24. Mas não com Wasapi. Com um Mac não há qualquer incompatibilidade, diz-me o Nuno Cristina. Para surpresa minha, reproduziu ficheiros DSD64, quando o próprio fabricante diz que não é compatível. Eu acho que, quando se instala o H90 no PC via USB, ele ‘toma conta do sistema’ e toca tudo, incluindo DSD64 e PCM192, mas à maneira dele, pois a ligação USB surge-me listada no Playback Devices do Windows como ‘SPDIF Interface’ TE7022 (?), em vez da denominação genérica speakers, e com o limite de 96/24 na configuração ‘Advanced’.

Uma vez mais, o som resultante é de grande qualidade, eu diria mesmo de surpreendente qualidade, apesar da aparente trapalhada informática. O som do H90 é indiferente aos ‘dígitos’, só lhe interessa a música.

Quando o comprar, informe-se bem na Ajasom como instalar o H90 para obter o melhor resultado com USB e Ethernet, pois com o AirPlay é canja. Ou melhor: peça ao Nuno Cristina para fazer a instalação. Eu admito que fiquei um pouco ‘às aranhas’. Mas como se dizia na tropa, quando eu por lá andei, na Arma de Transmissões: ‘o material tem sempre razão. Mea culpa, pois.

SynchroDAC

Hegel H90: painel traseiro

Hegel H90: painel traseiro

A secção de DAC tem as tradicionais entradas S/SPDIF coaxial e óptica (3X) e USB. Aqui um aparte: a Hegel utiliza o circuito ‘SynchroDAC’ que, como o nome indica, não é do tipo assíncrono, como o são quase todos hoje em dia, para eliminar o ‘jitter’. E isto porque os engenheiros da Hegel defendem que os circuitos assíncronos eliminam apenas parte do ‘jitter’ e transformam o resto em desvios de amplitude, que ainda é pior. Com um bom relógio interno (Direct Master Clock), o circuito síncrono é, segunda a Hegel, mais eficaz, baixa a distorção e melhora a resolução.

Integração orgânica

Para aprofundar a análise auditiva do DAC, sem o contributo da secção de amplificação, liguei o H90 a um amplificador externo via saídas analógicas variáveis, e também a um par de colunas activas, mas senti que se perdia o som orgânico do conjunto integrado.

…a resolução não é tudo, a emoção também conta

O DAC do H90 não é compatível com MQA e a Hegel recusa-se a entrar na corrida dos kHz. Mais de 90% da música disponível em suporte físico ou via ‘streaming’ é a 44/16 e aqui o H90 dá cartas. De qualquer maneira, os ‘downloads’ HD estão pela hora da morte (e a morrer mesmo, talvez por isso) e a maior parte são aldrabices ‘upsampladas’ de originais a 44/16.

Claro que eu tenho uma boa colecção de áudio HD, incluindo DSD256. Mas eu sou piloto de testes, faz parte do meu trabalho como ferramenta. A resolução não é tudo, a emoção também conta. E o H90 tem emoção para dar e vender. Para quê, pois, andar a discutir o sexo dos anjos, quando o que se ouve com o H90 já é ‘angelical’?

Som natural

A Hegel gaba-se de que a naturalidade do som dos seus amplificadores se deve à utilização de tecnologias desenvolvidas ‘em casa’ na última década. Como, por exemplo, os duplos circuitos de amplificação e alimentação para os andares de ganho de tensão e corrente (DualAmp/DualPower) e aquilo a que chamam SoundEngine: um sistema de cancelamento de erros do tipo ‘feedforward’, uma evolução do originalmente concebido pela Quad, que compara o sinal de saída com o sinal de entrada e corrige desvios, eliminando assim a distorção de transição da Classe A/B, obtendo-se as vantagens da Classe A sem as desvantagens da dissipação excessiva de calor.

Marketing à parte, a verdade é que a impedância de saída dos Hegel (de todos eles) é tão baixa – e o consequente factor de amortecimento tão elevado: superior a 2000 – que o H90 é praticamente imune à impedância das colunas, mantendo a linearidade da resposta a todas as frequências e um controlo de grave soberbo.

O H90 é um rei que ‘não faz fraca a forte gente’, faz fortes mesmo as colunas mais fracas

Não é por acaso que pode ligar um H90 a um par de colunas dez vezes mais caras - mesmo as que se fazem difíceis como divas caprichosas - que ele nunca dá parte de fraco. Ou seja, é como um rei que ‘não faz fraca a forte gente’. Pelo contrário: ‘faz fortes mesmo as colunas mais fracas’.

Em audições domésticas subsequentes, o som que consegui extrair de dois pares de modestas Sonus faber Concertino de diferentes épocas, deixou-me ao mesmo tempo intrigado e encantado.

Notas de audição

O H90 cumpriu com rigor todos os itens da minha cartilha audiófila, superando as limitações das suas parceiras de ocasião e as próprias limitações da sua categoria:

- potência subjectiva muito acima dos 60W especificados, com controlo total do processo musical em curso, sem perda de souplesse dinâmica e total ausência de grão ou artificialidade electrónica;

- resolução orgânica com detalhes bem integrados no corpus musical, de talhe doce e prenhe de nuances sem o excesso de sharpness que, nas imagens fotográficas digitais, por exemplo, vem sempre acompanhada de um halo desagradável;

- integração perfeita das três bandas, tornando despicienda a análise parcelar de graves, médios e agudos, embora eu não resista a enaltecer aqui a notável qualidade dos baixos, não só ao nível do corpo mas sobretudo da informação e ritmo;

- som relaxado e relaxante, apresentando-se com ‘cores’ saturadas, fixas, sólidas, de textura verosímil, que conferem elevado grau de realismo à reprodução das vozes e, bem assim, de todos os instrumentos acústicos;

- imagem estável e bem dimensionada, simultaneamente bem focada, sem ‘recuo’ ou frontalidade aparente, e expansiva: aquém, além e para lá do limite das colunas.

Conclusão

Se procura um amplificador integrado até 2500 euros (o H90 só custa 1700), não deixe de o colocar na sua short list de audições obrigatórias.

O Hegel H90 é um grande amplificador integrado que suplanta com distinção a sua categoria de potência e preço. A performance da secção de amplificação, por si só, justifica os 1700 euros. O DAC e as novas funções de networking são oferta da casa…

H90 network ready

Para comemorar o 30º aniversário, a Hegel exibiu no HighEnd Show 2017, caixas do H90 em várias cores, incluindo dourado.

O amplificador de auscultadores do H90 demonstrou ter o mesmo carácter e personalidade do amplificador integrado.

Hegel H90: ‘cores’ saturadas, fixas, sólidas, de textura verosímil, que conferem elevado grau de realismo à reprodução das vozes

Hegel H90: painel traseiro


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