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Projecto Pro-Ject

Pro-Ject 'The Beatles 1964 Record Player'

A Pro-Ject Audio Systems, representada em Portugal pela Support-View, é um dos principais apoiantes da arte-analógica, tendo criado o gira-discos vertical para garantir que os LPs vão morrer de pé, como as árvores; e lança ciclicamente no mercado edições especiais, como a mais recente dedicada aos Beatles e a George Harrison, uma versão melhorada do modelo Essential III com célula Ortofon OM10 e um novo motor.

Pro-Ject VT-E (à direita em negro), o único gira-discos que toca LPs na vertical e pode ser colocado sobre uma mesa ou montado na parede. A Pro-Ject foi ao ponto de fazer um modelo para dextros e outro para canhotos...

Pro-Ject VT-E (à direita em negro), o único gira-discos que toca LPs na vertical e pode ser colocado sobre uma mesa ou montado na parede. A Pro-Ject foi ao ponto de fazer um modelo para dextros e outro para canhotos...

É incrível o que um gira-discos de 500 euros pode fazer pela sua música, batendo-se com leitores-CD de milhares de euros.

Pro-Ject George Harrison Special Edition

Pro-Ject George Harrison Special Edition

O HIFICLUBE aconselha aos mais incrédulos a experiência de uma comparação LP/CD na Suport-View ou num dos revendedores autorizados. Leia o texto que se segue para se preparar psicologicamente para o choque e…espanto!

Nota: esta é a enésima versão de um texto que publiquei há mais de 10 anos no DN. Tal como o LP, volta-e-meia lá vou buscá-lo ao baú da memória, limpo-o da poeira do tempo e publico-o de novo. O LP é como o ‘velho’ acordo ortográfico: resiliente.

Recorro sempre a este texto quando pretendo prestar uma homenagem ao culto do LP e a todos os que mantêm viva a sua memória musical.


‘O LP está vivo e recomenda-se'

'Retira-se o disco da capa com dois dedos leves, qual hóstia sagrada no acto litúrgico. Colocado o disco no prato, faz-se descer o braço. Há até quem consiga apontar a agulha com a precisão de um cirurgião, e ela segue depois pelo seu pé o tortuoso caminho, denunciando-se na fritura branda e estranha para quem já nasceu na era digital, enquanto lavra os sons na terra negra e fértil das espiras ondulantes e hipnóticas.

A arte de baixar e levantar manualmente o braço do gira-discos devia ter um capítulo na Ars Amandi, de Ovídio. Quando a agulha penetra a espira, inicia-se o coito musical, que pode durar apenas o tempo de uma faixa ou um lado completo: A ou B. O simples virar do disco já constitui em si uma suspensão da narrativa, que cria um sentimento de puro gozo de antecipação, que se perdeu com o CD, tal como se perdeu o ‘suspense’ dos intervalos no cinema.

No final, o disco continua a girar, mesmo quando a música já deixou há muito de se ouvir, numa atitude lânguida de abandono. Tal como os puristas que rejeitam os mecanismos de elevação automática do braço, o verdadeiro amante, satisfeito o desejo, não gosta de abandonar a alcova sem uma última manifestação de carinho: levanta o braço e limpa a agulha das trovas do tempo que passou.

Ao contrário do leitor-CD, o gira-discos (clássico) não tem a função ‘repeat’. Cada audição de um LP é, assim, um acto consciente e voluntário. Segundo Lévy-Strauss, todos os rituais se cumprem na repetição de gestos sagrados e imutáveis.

No CD, a música é uma complexa trama de números cabalísticos; não há contacto físico entre a agulha de luz e o disco; e o próprio acto de reprodução é regulado à distância por um controlo tão remoto quanto asséptico: não há, pois, desgaste, nem risco, no duplo sentido da palavra.

E, no entanto, haverá sempre quem prefira sofrer os efeitos perversos da electricidade estática, o desespero dos 'empenos', a angústia da morte anunciada das espiras, em troca do prazer de ouvir e coleccionar LPs raros, que se vão tornando assim objectos de culto.

No LP, a música dura o tempo da actuação de uma bailarina, que evolui em pontas de diamante sobre a superfície brilhante do disco, ao ritmo de 33 ou 45 rpm, num palco limitado pelo raio de acção do braço, sendo o tempo que passou e o que falta passar indicado no disco pela posição da agulha, qual ponteiro de relógio analógico.

No CD, tal como nos relógios digitais, só o tempo existe - daí a importância da precisão do ‘clock’ e os efeitos perversos do ‘jitter’ na sua performance.

O tempo musical é aqui apenas uma representação numérica, não há a noção de tempo em função do espaço, como no LP.

Ora o tempo, em si, sem a componente espaço, não passa de uma abstracção.

Ao determinar o tempo musical em função do espaço, o gira-discos tornou-se ele próprio, paradoxalmente, um objecto de arte intemporal.

O CD foi lançado no mercado com o arrogante slogan ‘perfect sound forever’. Eis que, passados 30 anos, vai acabar por ser substituído pelo streaming digital. Com ele cai também o mito da eterna juventude.

O LP, esse, está vivo e recomenda-se: velho, gasto, empenado; com a voz a perder a claridade de outrora e o catarro insinuando-se no discurso musical, continua a vestir-se religiosamente de preto para assistir ao funeral do CD...


José Victor Henriques in DN

Pro Ject 'The Beatles 1964 Record Player'

Pro-Ject VT-E (à direita em negro), o único gira-discos que toca LPs na vertical e pode ser colocado sobre uma mesa ou montado na parede. A Pro-Ject foi ao ponto de fazer um modelo para dextros e outro para canhotos...

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