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2006

Yba Design: Émotion Vraie



Yves posa junto dos novos Passion, no Hiltonde Las Vegas, antes de revelar a novidade Design


Quando Yves-Bernard André me mostrou orgulhoso, em Las Vegas, os novos Yba Design e divulgou o preço provável, pensei: “Isto é um negócio da China…”. E era, de facto. Depois da experiência chinesa dos Audio Refinement, Yves-Bernard confessou-me que, desta vez, tinha tido ainda mais cuidado na escolha do seu parceiro asiático.



Eu sempre tive paixão pelos “Passion”, ao ponto de ter dedicado ao Intégré um texto de literatura comparada (ver em Artigos Relacionados), e admito já que, se eles fossem também fabricados na China, a única diferença seria, por certo, apenas no preço, pois o que conta são os genes.


No fundo, a China não passa de uma linha de montagem gigante, com mão-de-obra barata e inesgotável. E a velha Europa social, sempre tão pronta a criticar abusos dos direitos humanos, sabe que a China pratica “dumping” sócio-económico e assobia para o ar.


Se olharmos friamente para a questão, todos ganham: os consumidores europeus e os milhões de chineses, que antes só comiam arroz uma vez por dia, e agora têm telemóveis clonados para telefonar à família a dizer que não vão jantar a casa porque ficam a fazer serão na fábrica. Por outro lado, perdem-se postos de trabalho na Europa e qualquer dia não há consumidores, porque sem emprego não há dinheiro, logo não há consumo: eis um assunto polémico para o Durão resolver em Bruxelas…


Mas o Hificlube não é um blogpolítico, é uma página pessoal de inspiração audiófila, que inspira muita gente a ler (pudera, é de borla!), menos a escrever (escrever dá muito trabalho...) e, espera-se, bastante mais a comprar, pois sem garantir o pão dos distribuidores ficaríamos nós sem o objecto da escrita. A não ser que eu ganhe o Euromilhões, caso em que passarei a comprar tudo o que testo e ofereço depois aos leitores - fica a promessa…


Assim, quando o Jorge Gaspar me telefonou a dizer: “Já chegaram os Yba Design”, lembrei-me da alegoria da borboleta que bate as asas na China e provoca um terramoto em Portugal. De tal sorte, que uma ciática me atormentou nos meses seguintes, e o projecto Yba ficou em stand-by. Como resultado, aquilo que era para ser uma “cacha”, só agora é publicado no Hificlube, com substancial atraso em relação ao João Zeferino, que já escreveu - e bem - sobre eles na revista Audio nº 193 - é verdade, eu às vezes até compro e leio a Audio…


Aliás, quando leio o Zeferino, tenho a estranha sensação de me estar a ler a mim próprio, quase como se ele utilizasse as técnicas de “samplagem” de alguns músicos, remisturando palavras, expressões, frases, até conceitos. Eu não sou dono da língua portuguesa, mas um dia, em Frankfurt, não resisti e confrontei-o, com simpatia e amizade. Ele defendeu-se:


“Não é plágio, é inspiração. E também admiração, porque aprendi muito consigo. Li tantas vezes tudo o que escreveu que talvez tenha assimilado o seu estilo no meu subconsciente…».


Ora, perante tamanha franqueza e honestidade, fiquei também eu logo ali seu admirador. Mais ainda quando ele “assimilou” de tal forma o “meu” estilo que eu não teria dúvidas em subscrever - no essencial - o que escreveu sobre os Yba Design. O que me deixa numa situação embaraçosa: quem pode agora vir a ser acusado de plágio sou eu…


Mas só no essencial, porque eu nem sempre concordo com o Zeferino. Não concordei, por exemplo, com o título “O melhor supera-se a si mesmo”, a propósito do Denon DVD-A1XVA. E porquê? Porque a única diferença entre o XV e o XVA é, e cito, “o escalamento do sinal de vídeo até à resolução de 1080p”. Que, segundo explica Zeferino no seu artigo, não foi utilizado pois não havia equipamento compatível. Assim sendo, não será aqui a alegada “superação” uma mera… especulação?...


Eu também tive o XVA cá em casa quando fiz uma análise genérica ao Denon AVR 4306, e escrevi o seguinte:


“O AVR-4306 deixa passar sinais a 1080p, como os fornecidos pelo A1XV-A, que a Videoacústica teve, em vão, a amabilidade de me emprestar para satisfazer a minha curiosidade, pois de pouco nos serve actualmente, enquanto não começarem a chegar ao mercado os plasmas HD-1080p mostrados na CES 2006, e que custam uma pipa de massa”.


Afinal, sempre há uma diferença de “estilo” entre nós. Se bem que eu não teria feito melhor descrição dos:


YBA Design YA201/YC201

As linhas direitas e limpas, de arestas vincadas das caixas negras que assentam sobre tripés de alumínio de cor natural, o Y estilizado, a opção por “legendar” os botões no mostrador, toda a lógica de funcionamento, incluindo o controlo de volume em 128 passos de 1 dB, provam que a filosofia subjacente é a mesma da Emporio Armani - uma linha mais acessível mas com a dignidade e a classe que o nome de família lhe confere: YBA. Por comparação, a Audio Refinement era um filho bastardo, que Yves-Bernard gerou mas não perfilhou.


Claro que eu teria também referido que uma cara bonita não é tudo na vida: as fichas e bornes dos Design parecem ter sido compradas numa loja chinesa (et pour cause, não é que foram mesmo…), a gaveta plástica do leitor sofre de Parkinson - treme quando abre -, o mecanismo de leitura é lento pelos actuais padrões CD-drive e o contraste do mostrador é fraco.


Ou seja, Yves-Bernard André aceitou os compromissos do contrato OEM, em tudo o que não tivesse efeitos sobre os custos - menos no controlo remoto, mas esse é opcional -, desde que não afectasse sobremaneira a qualidade do som, apostando antes na qualidade do alumínio das caixas para controlar os efeitos deletérios dos campos magnéticos e da vibração, uma vez que, por convicção audiófila, não pactua ao nível da topologia e dos componentes electrónicos em lugar-chave do circuito.
Yba YA201, a estrela da companhia


João Zeferino optou por testar o conjunto. Embora minimalista, o design dos Design é, de facto, tão personalizado que um Y só fica mesmo bem colocado ao lado ou, melhor ainda, em cima de outro Y. Qualquer X aqui seria uma incógnita. Mas se “Z” os tivesse ouvido separadamente, teria verificado como eu que o YA201 é, claramente, a estrela da companhia e constitui um salto qualitativo substancial em relação aos integrados da Audio Refinement. O novo circuito simétrico em triplo push-pull liberta o som do YA201 de um ligeiro véu electrónico de doçura induzida que, se a memória de duas breves audições informais não me falha, caracterizava a linha agora descontinuada, quase como um filtro purificador de água retira o gosto a cloro da água.


O YA201 é, pois, fundamentalmente, neutro - e, neste aspecto particular, afasta-se também da cativante eufonia quasi-valvular dos Passion - daí talvez as referências recorrentes de JZ à “limpeza” geral do som.
Yba YC201, o elo mais fraco


Contudo, o som-do-conjunto é determinado pelo elo mais fraco: o YC201. Trata-se de um leitor-CD competente, que utiliza a mais recente tecnologia de conversão (192kHz/24-bit c/ upsampling), com uma surpreendente capacidade para recuperar informação do disco, sobretudo na gama média, de que resulta um discurso de rara inteligibilidade e transparência, cuja claridade é porventura responsável pelo “carácter leve” a que também se refere JZ.


Reparem que eu escrevi “responsável” e não “culpado”: o YC201 é, sem dúvida, o par ideal, eu diria mesmo exclusivo, para o YA201 - e não só em termos estéticos. Aqui não existe nenhum crime de lesa-música, em especial se as suas preferências recaem sobre a música barroca e o jazz minimalista e, de uma maneira geral, sobre todos os tipos de música que não exijam picos sustentados de grandes massas orquestrais, situações em que a claridade se pode transformar em excessiva alacridade.


Mas dá-se bem com o rock, pois a menor extensão e peso específico do grave tem como contrapartida o recorte fino dos sons de baixa frequência que estão na base da inefável expressão “sentido rítmico”.


Ou, como escreveu JZ, e eu transcrevo com a devida vénia: “No extremo inferior do espectro, os Yba Design conjugam rapidez e articulação e um sentido rítmico notável” - eu não diria melhor…


Contudo, se para si, caro leitor, rock é sinónimo de prego-a-fundo, opte por colunas de sensibilidade razoável. Aliás, já era assim com o Passion Intégré. E cito de novo JZ: “Yba escolheu o caminho da informação e do requinte em detrimento da força”.


Também eu mantenho que os Design são “barrocos” enquanto os Passion são “românticos” (os grandes Passion, o Intégré é mozartiano). Mas tanto o ornamento (algo acídulo: os Design são um pouco brilhantes nas primeiras 100 a 200 horas de utilização) de traço preciso e fino, de Paganini; como a paixão trágica iluminada pela luz dramática e crepuscular de sentimentos contraditórios face ao espectro da morte, de Mahler, não são necessariamente conceitos antagónicos na complexa ideologia acústica da YBA: a la recherche de l'émotion vraie.


Os Yba Design são obras de arte audiófila como os Passion o foram antes deles. Talvez por isso eu nunca tenha conseguido fazer um teste formal aos Yba, composto pelos três itens obrigatórios: apresentação, descrição e audição, e acabe sempre enredado nas minhas próprias contradições literárias.


Numa das Rückert Lieder, referidas por JZ no teste auditivo, intitulada 'Blicke mir nicht in die Lieder', que numa tradução livre significa algo como: “Não queiras ver-me nas canções que eu escrevo”, Mahler avisa o ouvinte que não deve ser demasiado curioso sobre o processo de criação do poeta: o que conta é o resultado final, e não como foi conseguido….



Os Yba Design são a versão feminina dos Passion: on écoute aussi avec les yeux…


Daqui envio os parabéns à AudioElite por mais esta oferta de qualidade a preço moderado: os Yba Design têm verdadeira classe europeia - a transparência da gama-média é como o algodão, não engana - a um preço da China…eh…comunista.


E um abraço audiófilo para o João Zeferino por me ter deixado a papinha toda feita…


Yba Design YC201: € 1 .150


Yba Design YA201: € 1 .350


Controlo remoto: € 100


Distribuidor: AUDIOELITE, 21 795 15 01


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