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2003

Herman Sic(k)



Ilustração de Fernando Guerreiro Martins (direitos reservados)


O bobo


A Herman, tal como ao bobo medieval, tudo se aceita. Porque produz bem-estar (?) e alegria na corte; faz esquecer a estupidez dos dias iguais; e faz sentirem-se inteligentes aos cúmplices no gozo alarve sobre os alvos do seu humor corrosivo.

O poder tolera-o: por muito menos rolavam cabeças na Idade Média.


Este humor só aparentemente mina o poder por dentro. De facto, é uma mina. Para ele e para o poder que dele se serve: rindo-se dele próprio, ri-se afinal do povo e do próprio Rei, leia-se Estado, como só aos bobos era permitido.


Um bobo não é um palhaço - Shakespeare sabia-o bem, Herculano também -, um bobo é uma instituição: tem a função política de sublimar a (má) consciência colectiva com atitudes grotescas e a denúncia brejeira do que todos sabem mas calam.

O poder agradece e retribui. Principescamente. Paradoxalmente - ou talvez não.

Até quando?

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