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No firmamento do áudio highend, poucos nomes brilham como Dan D’Agostino. Criador de equipamentos lendários, D’Agostino há muito se tornou sinónimo de excelência sonora.
Com o novo Pendulum Integrated Amplifier, a D’Agostino Master Audio Systems propõe um modelo que, embora posicionado como de “entrada” de gama, representa um verdadeiro manifesto de “democratização” audiófila, tornando o som highend acessível a um público conhecedor mais vasto. Com um preço relativamente “modesto” de 22 mil euros (sem módulos opcionais), o Pendulum concentra o ADN da marca num modelo compacto e com imediata identificação de origem.
Relojoaria suíça
O Pendulum impõe-se ao primeiro olhar. O chassis combina alumínio escovado com os emblemáticos apontamentos em cobre, num ‘design’ elegante, sóbrio, mas com a sofisticação de um produto de luxo.
O ecrã LCD central é mais do que um mero visor: é uma piscadela de olhos aos clássicos VUímetros analógicos dos modelos topo de gama da marca, casando a modernidade digital com o requinte clássico. Exibe, em tempo real, informações como fontes, volume, equilíbrio entre canais, polaridade e metadados musicais, sendo a seleção feita por meio dos botões rotativos que o ladeiam.
O comando remoto Bluetooth (instale a antena), revestido a Delrin e com o seu próprio ecrã LCD que espelha o painel frontal do amplificador, é um prolongamento natural da filosofia D’Agostino: precisão, intencionalidade e luxo. Com as dimensões de W43,2/H11,8/D35,6 cm e 15,9 kg de peso, o Pendulum é um exemplo da simbiose entre arquitetura industrial inovadora e engenharia de ponta.
O ADN de Dan
O Pendulum é, no fundo, uma discreta obra-prima tecnológica. A topologia do circuito de entrada JFET, herdada do pré-amplificador C2, eleva este integrado ao patamar dos Momentum (e dos Relentless!).
Um som puro, transparente, preciso, cheio de ‘nuances’ sonoras, mas com uma suavidade rara e graciosidade sob pressão, muito semelhante à dos melhores amplificadores a válvulas, como o primeiro amplificador que Dan construiu (ver entrevista).
A topologia do sinal é totalmente balanceada, com acoplamento direto e circuito complementar, eliminando qualquer vestígio de distorção, apesar de não recorrer ao penso rápido da realimentação negativa. No coração desta máquina, pulsa um transformador toroidal de 750 VA, suportado por um banco de condensadores de 25.000 μF: energia suficiente para domar até as colunas mais exigentes. Com 120W por canal sobre 8 ohms, que duplicam para 240W sobre 4 ohms, o Pendulum alia a autoridade à delicadeza: os graves surgem com garra, enquanto as micro dinâmicas respiram com naturalidade.
Modernidade versátil
Aquilo que verdadeiramente distingue o Pendulum é a sua versatilidade camaleónica. Os puristas analógicos serão os primeiros a ser seduzidos pelas quatro entradas de linha disponíveis — uma RCA single-ended (linha/phono) e três XLR balanceadas, incluindo um modo theater pass-through para integração em sistemas AV.
O módulo de phono opcional (1.380 €) oferece 60 dB de ganho para células MC com ampla adaptação de impedâncias. Já para os amantes do digital, o módulo adicional (3.420 €) transforma o Pendulum numa plataforma de ‘streaming’: PCM até 32-bit/192kHz, DSD128 (confirmado pelo Audirvana) e compatibilidade com Tidal, Qobuz, Spotify e Roon Ready (certificação pendente).
Entradas óticas, Ethernet, Wi-Fi e, pela primeira vez num produto D’Agostino, HDMI com eARC abrem as portas para os universos audiófilo e audiovisual.
O controle por app iOS é intuitivo e bem desenhado, embora os utilizadores Android possam sentir-se negligenciados. E ainda oferece a surpresa de uma saída para auscultadores, escondida no painel traseiro. Já lá vamos.

Todas as funções estão duplicadas no controle remoto, tornando o acesso mais fácil e prático.
Código Morse
É preciso algum tempo para chegar à conclusão de que a ergonomia do Pendulum está bem concebida. Ao princípio, pode ser algo confuso, com aquele jogo de roda/empurra dos botões rotativos, sobretudo o do lado esquerdo (standby, fontes, equilíbrio entre canais, polaridade e metadados musicais), pois o do lado direito só regula volume/mute.
É verdade que todas as funções estão duplicadas no controle remoto, tornando o acesso mais fácil e prático. Mas vai precisar de algum treino até perceber que, tal como no código Morse, um ponto (pressão breve, no botão ou no controle remoto) e um traço (pressão longa) têm significados funcionais diferentes.
O Pendulum nunca se desliga completamente. No modo standby (35 watts de consumo), o visor mantém-se sempre iluminado, exibindo o logotipo da marca.

No modo standby (35 watts de consumo), o visor mantém-se sempre iluminado, exibindo o logotipo da marca.
O ponteiro digital não funciona como um VUímetro. Limita-se a apontar o volume ou o diferencial entre canais. Ao selecionar o modo de polaridade invertida, o visor muda de cor (de verde para vermelho).
Nota: E ainda há quem defenda que não é possível ouvir a diferença entre “Inverted” e “Non-Inverted”. Perdoa-lhes, Senhor!, porque eles não sabem o que dizem...
Selecionada a fonte ou a função, por meio de rotação, é preciso pressionar depois o botão para ativar. O mesmo se passa com o controle remoto.
Se selecionar ‘Network’ (Ethernet RJ45 ou WiFi), os metadados da faixa que estiver a tocar na Tidal Connect, Qobuz, Spotify, ou outro Media Player como o Audirvana, por exemplo, surgem brevemente tanto no visor do Pendulum como no do controle remoto. Um mimo. Contudo, a transmissão Bluetooth do remoto podia ser um pouco mais estável.
Melhor que isto só com a App iOS. Mas eu sou androidiano, por isso tive de utilizar o iPad da minha mulher. Contudo, não tive problemas em utilizar o meu Samsung S25 para me ligar ao Pendulum via Tidal Connect ou mConnect.
Roon, not ready
Sim, já sei que falta mencionar o Roon. Mas, ao contrário do anunciado, o Pendulum ainda não tem a certificação completa. O Roon reconhece o Pendulum mas informa que, e transcrevo: ‘Unfortunately, the manufacturer has not yet completed certification for the device.
O processo de certificação demora algum tempo. Tenham paciência. Utilizei o Audirvana com grande sucesso. Não se fica atrás do Roon.

Os puristas analógicos serão os primeiros a ser seduzidos pelas quatro entradas de linha disponíveis — uma RCA single-ended (linha/phono) e três XLR balanceadas, incluindo um modo theater pass-through para integração em sistemas AV.
Universo digital
O módulo digital do Pendulum, que vinha já instalado, tem entradas HDMI (eARC), ótica e Ethernet, dispensando as mais audiófilas USB, AES-EBU e coaxial (SPDIF). E quando a resolução dos ficheiros está acima do que o Pendulum suporta, o Audirvana faz o downsampling automático e reproduz na mesma. Por exemplo: PCM384kHz (downsampled para 192kHz) e DSD256 (downsampled para 176,4kHz). E garanto-lhe que não vai ouvir diferença nenhuma.
Na longa entrevista que amavelmente me concedeu, que podem rever em baixo, Dan apresentou-se como um especialista em amplificadores, deixando as artes digitais para fabricantes como a dCS. Não obstante, os módulos digitais nos seus amplificadores integrados não representam um compromisso, mas sim uma resposta válida às tendências modernas de streaming.
Movimento contínuo
Na entrevista, vão perceber que os nomes que Dan dá aos seus produtos têm um profundo significado pessoal: Momentum é algo que Dan colocou em movimento e ninguém pode parar, enquanto Relentless representa a tenacidade de Dan perante a adversidade; e até o nome Progression reflete também esta ideia de movimento contínuo, patente na obra de Dan D’Agostino.
Já o nome Pendulum pode simbolizar os altos e baixos na vida de Dan; mas também um movimento pendular, no qual a cada avanço tecnológico se segue um retorno às raízes da emoção musical e do efeito “pele-de-galinha” dos primeiros tempos da Krell. E é isso que sentimos quando ouvimos o Pendulum no nosso sistema: “pele-de-galinha”. Tal como quando ouvimos os Momentum ou os Relentless.
Na entrevista em baixo, Dan estabelece uma ligação entre este movimento contínuo e a sua busca constante por um ponto de equilíbrio entre preço/qualidade, analógico/digital, tradição/modernidade, medidas/musicalidade.
Entrevista com Dan D'Agostino
Dan descobriu a mítica pedra filosofal, que transforma em ouro sónico o alumínio e o cobre com que fabrica os seus amplificadores.
Do Progression ao Pendulum
Em 2020, depois de ter testado os Progression Preamp e os Mono para a revista Hi-Fi News, fiz uma análise auditiva ao Progression INT e escrevi : “Se sempre desejou ter um Momentum Integrated, mas temia a aventura do investimento necessário, eis the next best thing for half the price…”.
Desta vez, Dan foi ainda mais longe: o Pendulum está tão próximo do som do Momentum e dos Relentless 800, que acaba por ser barato.
O pêndulo de Foucault
O Pendulum pode alimentar qualquer coluna, por mais difícil que seja, por isso alguém deve ter sorrido quando o liguei a um par de pequenas monitoras Sonus faber Concertino 4G.
O Pendulum vinha com o módulo digital instalado, assim pude utilizar o manancial de música da Tidal e os meus ficheiros de alta resolução via Audirvana (ver em baixo). Mas foi com um leitor Oppo, ligado por cabos Transparent Valhala balanceados, reproduzindo SACD que obtive o melhor som. Os amantes do vinil têm a opção de comprar o módulo Phono em alternativa.
Ouvi ainda o circuito de amplificação para auscultadores, com uma vasta coleção de modelos de diferentes marcas: Austrian Audio The Composer, Dali iO12, Meze Poet e Hifiman HE1000. A saída para auscultadores podia ter mais potência para os Hifiman HE1000 (que são auscultadores difíceis). O que sugere a próxima fronteira de Dan: um amplificador de auscultadores dedicado e poderoso, cuja existência ele me confidenciou.
O Pendulum está tão próximo do som do Momentum e dos Relentless 800, que acaba por ser barato.
Sublime viagem
Na entrevista, Dan confessa que já não busca a perfeição técnica da distorção com muitos zeros depois da vírgula. Tal como é possível enganar um detetor de mentiras, a realimentação negativa serve para enganar os equipamentos de medida. Um bom amplificador deve ter, à partida, boas medidas, claro. Mas com base num circuito bem projetado, não com o feedback como penso rápido.
Uma distorção de 0,01% é mais do que suficiente para consumo humano. A partir daí, o que conta mais para ele é a musicalidade, não as medidas. Dan não anda à procura de zeros, anda à procura de emoções. Infelizmente, para os comuns mortais, como nós, há demasiados zeros… no preço!
Bom com distinção
E se me perguntam o que distingue o Pendulum de outros amplificadores de estado sólido, que custam metade ou um terço do preço, eu respondo:
A total ausência de grão, a forma de apresentação dos músicos no palco sonoro, o contraste e a saturação das cores, a qualidade dos “negros”, ou seja, dos silêncios; o recorte e volumetria dos elementos musicais, a naturalidade da informação, a reprodução do decay, leia-se da morte natural dos sons; a resposta dinâmica, que é rápida sem ser brusca, e o ataque das notas que é eficaz sem nunca ser agressivo para a música. Tudo isto é ainda mais evidente nos Relentless. Mas isso é um sonho, que, segundo o poeta, é uma constante da vida, enquanto a realidade nos desperta antes para o que é (mais) acessível, como o Pendulum.
Impressões auditivas
Ouvir o Pendulum é ser transportado para a Variety Playhouse para ouvir Sara Bareilles cantar ao vivo “Let The Rain” (Tidal), acompanhada pela guitarra e pelas palmas do público, que em vão tenta acompanhar-lhe o ritmo, e termina com aplausos apoteóticos que soam naturais e não como ruído branco.
A presença palpável de Sara e a sua relação empática com o público são do melhor que já ouvi, desde o famoso Harry Belafonte no Carnegie Hall, onde tudo parece materializar-se com um realismo assombroso.
O SACD (não-híbrido) de Seiji Ozawa, com a Orquestra de Câmara de Mito, interpretando os concertos de Mozart para Flauta (Shigenori Kudo) e Fagote (Dag Jensen) é a melhor prova da superioridade sobre o CD. O equilíbrio entre a orquestra e os solistas, a captação do som em DSD e a sensibilidade artística do maestro Seiji Ozawa tornam a audição deste disco com o Pendulum um acontecimento musical emocionante.
Com Waltz for Debby, de Bill Evans, o Pendulum revela a sua faceta mais etérea. O contrabaixo de Scott LaFaro vibra com textura e peso, enquanto o piano de Evans cintila com clareza cristalina: cada nota parece suspensa como gotas de orvalho numa manhã silenciosa, enquanto as folhas musicais, caindo sobre a tarola do baterista Paul Motian, são varridas ao ritmo das suas vassouras.
Em Wicked Game, de Chris Isaak, o amplificador mergulha no coração da música: a voz brota quente, envolvente, carregada de melancolia, sobre um palco sonoro simultaneamente amplo e íntimo. O Pendulum não se limita a reproduzir som, traduz a intenção artística com uma honestidade desarmante.
Razão e emoção
O Dan D’Agostino Pendulum é mais do que um amplificador integrado. É uma afirmação estética, técnica e emocional, que exige algum investimento pessoal e financeiro, mas combina potência elétrica bruta com a subtileza de um mestre artesão, oferecendo, como nenhum outro nesta categoria, uma experiência auditiva que comove e excita ao mesmo tempo.
A sua versatilidade permite-lhe servir o vinilista exigente, o amante do streaming digital e até o cinéfilo inveterado. E, claro, todos os que gostam de música em geral.
Investir 22 mil euros (+€3.420 pelo módulo digital) no Pendulum, exige coragem. Mas, num universo onde o céu é o limite (Relentless), o Pendulum oferece um vislumbre do paraíso a um preço “razoável” que poderá ser o início de um novo capítulo na sua vida audiófila, assinado por uma lenda viva que continua “relentlessly” a ultrapassar as fronteiras do possível.
Veja, no vídeo em baixo, a apresentação de Bill McKeegan sobre como instalar o Pendulum.
O Hificlube.net agradece à Imacustica ter-nos proporcionado a audição e primeiro teste mundial do Pendulum.