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Editorial

Selecção natural



O video que se segue de um sketch de “Not the 9 o’clock News”, dos anos 80, com comediantes bem conhecidos, Griff Rhys Jones, Mel Smith e Rowan Atkinson, antes da fase Mr. Bean, é uma caricatura brilhante de humor, mas espelha bem o conceito de “selling hifi with an attitude”. Ou de como não vender um “gramofone” a quem o quer comprar!...

Formação. Formação. Formação.


Os políticos não se cansam de advogar a importância da formação nas empresas. Nos últimos anos fecharam dezenas de lojas de hifi. Crise? Questões económicas? Falta de crédito? Má gestão? Dívidas? Falências? Insolvências? Desemprego?


Desencanto? Havia muito mais interesse quando tudo era bem mais difícil e a oferta era pouca.


Falta de tempo?, só se ouve música no carro entre a casa e o trabalho.


E a vasta diversificação da electrónica de consumo dos tablets aos smartphones e a dispersão dos interesses da juventude também não ajudam.


Foi tudo isto? Sem dúvida. Mas terá sido só?


É um facto que, num país em grave crise económica, há coisas mais importantes que o hifi. Pagar a renda da casa, por exemplo. A prestação do carro. O colégio dos filhos. A conta do supermercado. Da água. Da luz. Num mundo em que tudo é eléctrico, até a cultura “big brother”.


Haverá sempre quem escape às crises, e até quem aproveite para ganhar com elas: em chinês crise também significa oportunidade. E, sendo o highend um mercado de nicho, mesmo nas sociedades doentes, existem felizmente pessoas nacionais ou estrangeiras com saúde financeira e em número suficiente para manter este e outros “nichos” em plena actividade, ou o marasmo económico seria ainda maior.


Gente rica com cultura musical e audiófila, que gosta de coisas boas, tem dinheiro e não se importa de o gastar em equipamento áudio de qualidade.


O problema de qualquer sociedade não são os ricos. Que são poucos. E deviam ser muitos. São os pobres. Que são muitos. E deviam ser poucos.


O objectivo de uma boa política social não é a utopia demagógica de acabar com os pobres à custa dos ricos por decreto. É criar condições favoráveis à economia que permitam a migração do maior número possível de pobres para a classe média. E dar a todos educação, saúde e justiça. Nem que para isso se tenha de tornar os ricos um pouco menos ricos.


E a liberdade de acção e de expressão para subir na vida, pelo esforço e pelo mérito, criando postos de trabalho e abrindo espaço para que mais e mais pobres deixem de o ser, garantindo ao mesmo tempo o mínimo de dignidade aos mais carenciados para que tenham esperança e nunca desistam de lutar.


É um processo (demasiado) lento, hélas, com avanços e recuos, cuja evolução se deu no sentido inverso nos últimos anos em Portugal.


A classe média, se não está em vias de extinção, é hoje uma espécie ameaçada – esta sim, por decreto!


Apesar de tudo, é a classe média e média-alta que ainda vai mantendo o comércio tradicional em actividade. Por isso deve ter o atendimento personalizado, que é dispensado aos ricos e negado aos pobres. O preconceito é inimigo do conceito. Todo o cliente é um potencial comprador. Aqui e agora. Amanhã. No futuro. Ou nunca. Não interessa.


Mesmo nas sociedades desenvolvidas, como os EUA e o Reino Unido, o que matou o comércio tradicional de hifi foi a “atitude”. Vendedores sem formação, que gozam com o cliente, ridicularizam a sua falta de conhecimento, em lugar de o aconselhar com profissionalismo e amizade, ou tentam vender-lhe o que nunca poderá apreciar verdadeiramente, sem primeiro o informar das potencialidades do produto, abriu a sepultura de milhares de lojas. Até ícones como a Sound By Singer de NY ou a House of Hifi, de Las Vegas, já fecharam as portas.


Por cá, a cova já estava aberta há muito. Seguiu-se o funeral. Sem direito a um Requiem sequer. A crise económica foi apenas a última pázada de terra sobre o caixão da arrogância de quem pensava que vender bem era só uma questão de porta aberta e crédito fácil. Foram todos para a vala comum – como Mozart. Que também era um génio...


Neste contexto, não surpreende que se tenha verificado no mercado especializado uma selecção natural que, embora tenha obrigado alguns dos principais distribuidores de hifi a dialogar directamente com o consumidor final, por falta de intermediários, teve como feliz resultado que Lisboa e Porto tenham hoje algumas das melhores lojas da Europa.


Às quais se junta agora a nova loja da Viasónica, no Largo do Casal Vistoso, 3B, no Areeiro, a inaugurar brevemente (o Hificlube publicará uma reportagem), nas antigas instalações da Delaudio e também ex-Imacustica, cuja actual loja em Lisboa está ao nível do melhor que há no mundo (ver Artigos Relacionados).


Nota: agradeço ao Alberto Silva (da Esotérico, de João Cancela, um dos pioneiros da distribuição de highend em Portugal) ter-me enviado o link do video que inspirou e ilustra este editorial.


 


 


 


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