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2006

Nuforce Reference 9 Se - Parte 1: Introdução




As críticas são tão positivas e as conclusões tão definitivas que eliminam à partida qualquer veleidade de alguém pôr em causa o que foi dito, escrito e publicado na imprensa especializada mundial, sob pena de se cobrir de rídículo: e quem sou eu, que moro no sopé da serra de Sintra, logo não passo de um saloio, para contrariar as opiniões dos melhores críticos do planeta, incluindo Harry Pearson?...



Assumo que conheço muitos destes críticos famosos e, até por isso, não lhes reconheço autoridade ou superioridade moral (alguns são bem mais saloios do que eu…), além de que tenho o legítimo direito a ter a minha própria opinião, mesmo que discordante. Acontece que é coincidente - nem podia deixar de ser, pois as virtudes sonoras dos Nuforce são tão imediatamente óbvias que nenhuma pessoa honesta e de bom senso as pode desmentir - embora o leitor não deva confundir a razoabilidade da concordância, patente na simples leitura comparativa do meu e dos restantes testes (desta vez não fui o primeiro, hélas…), com sujeição ou submissão total ao peso da opinião maioritária. Escrevo para uma imensa minoria (para parafrasear o saudoso slogan do XFM) e estou-me borrifando para o que a maioria pensa - a não ser que a maioria pense como eu…



O facto de me ter integrado com prazer no coro de elogios aos Nuforce não é impeditivo de eu ousar “desafinar”, aqui e ali, nem a “desafinação” deve ser entendida como uma simples vontade pueril de ser diferente. Admito que li todas as críticas publicadas sobre os Nuforce 9.02 e SE antes de escrever a minha e sugiro que faça o mesmo, embora nada substitua a audição se pretende comprá-los. No áudio como na saúde, uma segunda opinião é sempre aconselhável, mas nós é que damos o corpinho ao manifesto…



Terminada a leitura intensiva, tentei fazer “tabula rasa” no meu espírito para que cada som ficasse nele gravado como se fosse o primeiro. Que as minhas conclusões finais não sejam muito diferentes - ainda que não totalmente coincidentes - só vem confirmar o sortilégio único destes amplificadores revolucionários. Ou então, que apesar dos meus esforços, eu me deixei influenciar…

O teste do NuForce 9 desenvolveu-se em duas fases. Após um primeiro contacto, no âmbito do Artaudio RoadShow, ouvi em minha casa, a título de curiosidade audiófila, a versão 9.02, durante um período de cerca de duas semanas. Seguiu-se um hiato de cerca de um mês e meio e, entretanto, chegou-me finalmente às mãos para um teste auditivo formal a desejada versão 9SE, concebida, segundo o fabricante, para “agradar” aos críticos e audiófilos fundamentalistas, desta vez já com o compromisso assumido de ser publicado no Hificlube. É o cumprimento tácito desse compromisso que aqui se inicia hoje aproveitando o intervalo do Campeonato do Mundo.



Não fiz qualquer comparação A/B entre o .02 e o SE, pelo que as referências são ditadas apenas de cor, um processo algo falível. Para melhor situar os leitores e marcar a minha posição de partida, recordo o que escrevi sobre os Nuforce 9.02, depois de os ouvir pela primeira vez no Hotel Açores:


“Durante cerca de uma hora, ouvi vários géneros musicais e diferentes tipos de gravação, e apraz-me registar que, independentemente da classe de amplificação, os Nuforce são amplificadores com muita… classe: elevada transparência, sem excesso de claridade ou ênfase; total ausência de grão (logo de fadiga auditiva: apetece ouvir sempre mais); graves articulados, entrosados e harmonicamente ricos, algo de muito raro em amplificadores com estas características e preço; elevada resolução e luminosidade dos registos médios, com definição e recorte perfeitos; agudos informativos, extensos e doces. Aqui e ali notei uma ligeira dureza nos registos médio-altos, que atribuo às gravações e à coloração típica dos altifalantes de kevlar das B&W, por oposição ao painel electrostático das Summit, a que tenho os ouvidos talvez demasiado habituados. Também senti falta do poder e extensão do grave do conjunto Krell/Summit. Contudo, os Nuforce soaram-me quase sempre como se estivesse a ouvir os Halcro dm58: a mesma neutralidade e textura uniforme do espectro sonoro, com fantástica reprodução das vozes; maravilhosa ausência de modulação no agudo (no som das flautas, em La Folia, por exemplo), surpreendente riqueza 'cromática' (imagens acústicas ricas de 'cor' e forma) e incrível capacidade microdinâmica. Habemus amplificator!...”


Mais tarde, já no remanso do lar, voltei a utilizar os Nuforce 9.02 a meu bel prazer, desta vez como amplificação de referência no teste da B&W CM1 disponível na integra no Hificlube:


“Os NuForce Reference 9 andavam aqui por casa em período de aclimatação antes da chegada da versão SE. Ora as Summit são incompatíveis com os Nuforce (é necessário fazer o upgrade da fonte de alimentação das Summit - ver teste). Assim as CM1 tiveram a rara felicidade de serem acolitadas por um par de amplificadores NuForce Reference 9, que são notáveis na capacidade revelada para “energizar” colunas de pequeno porte, conferindo aos graves, além de mais uma oitava aparente em extensão, poder, ataque, ritmo, articulação, definição e informação, a que se junta uma inusitada transparência e claridade, fruto da baixa distorção nesta importante área do espectro sonoro, e um controlo férreo resultante do elevado factor de amortecimento, cujo efeito instantâneo de “pàra-arranca” não cessa de me surpreender. O som seco (mas nunca estéril), transparente e incolor dos Nuforce é extensivo aos registos médios. De tal forma que denunciaram de imediato as diferenças entre as CM1 e as Concertino…”.


Sem beliscar a minha impressão inicial sobre o desempenho dos Nuforce 9.02, que mantenho, reforço e subscrevo integralmente, a audição continuada revelou, contudo, alguns “bugs” que, não pondo em causa a qualidade do projecto, só são admissíveis porque impende sobre os NuForce uma certa auréola idealista de “artesanato religioso”, além das idiossincrasias próprias da tecnologia de Classe D, apesar da implementação revolucionária, sem dúvida, que justificaria, por si só, uma nova designação (eu proponho a Classe N), pois é mais “analógica” que “digital” na sua génese.


O Nuforce 9SE, que aqui se analisa, pretende ser a versão audiófila do modelo 9 original, uma espécie de “Reserva Especial” do que à partida já era um amplificador de grande qualidade. Até lhe mudaram a cor para não haver dúvidas: os SE são ruivos, cor de cobre, e têm agora na fonte de alimentação uma bateria de condensadores. Acontece que eu preferia que tivessem mantido a cor preta e resolvessem antes alguns dos tais “bugs”, nomeadamente o ruído de comutação, que continua a ouvir-se nas colunas quando se liga inicialmente (c'mon guys, isto já não se usa: que tal mais um relézinho?), e a óbvia presença de RF, que torna quase impossível ouvir rádio na presença dos NuForce e obriga a utilizar cabos de corrente bem blindados, devido à utilização de uma portadora a 500kHz para modular a fonte de alimentação comutada, cuja filtragem não é suficientemente eficaz, nem mesmo com as ferrites utilizadas para enrolar e proteger a cablagem interna. O condensador em paralelo nos bornes de saída também não está lá a fazer nada e devia ser substituído por um condensador independente por canal entre cada borne e o chassis, isto segundo Sander Sassen, da Hardware Analysis, a única voz discordante no coro de elogios. Diz-nos o fabricante que é o preço a pagar para poder ter toda esta “potência limpa” disponível. Enfim, Tran Nguyen, o homem que projectou o Nuforce e também a fonte de alimentação do míssil Tomahawk deve saber o que está a fazer. O NuForce é, de facto, uma bomba!...



Aliás, também os ICE, os CIA e até os Halcro sofrem desta síndrome da RF que surge nos osciloscópios como “ringing” excessivo nas ondas quadradas de alta frequência. A vibração pode ser filtrada mas a distorção continua lá. Não há nada a fazer, é assim mesmo. É por isso que os amplificadores de Classe D têm limitação de banda acima dos 20kHz. Os NuForce são a excepção, pois, ao manterem a banda 'aberta' até aos 70kHz, “empurram” a inevitável distorção para patamares acima da banda áudio, com todos os inconvenientes que isso acarreta em Classe D. É uma vez mais o preço a pagar pela inacreditável transparência do som. Os NuForce têm, contudo, algumas vantagens óbvias: elevada eficiência, um espectacular factor de amortecimento (4000!) e imunidade (ou quase) face à impedância das colunas a alimentar.

Os NuForce devem ser os amplificadores com mais informação disponível na Internet: informação técnica, testes, artigos e opiniões de críticos e consumidores. Assim, sinto-me um pouco frustrado, até porque nada do que eu possa escrever aqui é novidade ou vai adiantar o que quer que seja a tudo o que já foi dito e escrito por esse mundo fora. É por isso que senti alguma relutância e atrasei para lá do razoável a publicação deste teste. Aliás, os leitores que dominam o inglês, não precisam da minha opinião para nada, pois podem facilmente aceder às descrições técnicas do fabricante, poupando-me, no meu caso, ao trabalho de as traduzir; e, no caso de todos os outros críticos, que têm a vantagem de escrever em inglês, de os transcrever simplesmente, tentando dar a impressão de que percebem alguma coisa do assunto: basta comparar para verificar que são todas iguais…


Vou limitar-me, pois, a dar a minha opinião sobre aquilo que ouvi de diferente entre os 9.02 e os SE. No fundo, creio, é isso que os leitores pretendem: que eu escreva preto no branco se o NuForce SE é melhor que o 9.02 e justifica a diferença de preço. Ou quiçá se será o melhor amplificador do mundo e arredores…


Continua

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