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2004

Profecias: Se As Paredes Falassem



Em 3 de Novembro de 1992, publiquei no DN /Compacto um artigo intitulado «Nostradamus», no qual profetizava que, num futuro próximo, surgiriam no mercado várias inovações tecnológicas, nomeadamente a gravação em memórias de estado sólido a par da ressurreição do culto do LP. Não foi preciso esperar muito: quase todas as profecias se concretizaram. Faltam duas: a música reproduzida em casa sem necessidade de colunas de som; e a projecção holográfica de imagens por meio de raios laser. Ou melhor, faltavam: a primeira vai ser este ano apresentada em Las Vegas.


Havia ainda uma outra que espero nunca se concretize: consistia em colocar implantes à nascença em todos os cidadãos para que pudessem ouvir música com ligação directa ao cérebro, além, claro, das comunicações ao país do governo em funções - é que não havia forma de o desligar ou sequer mudar de estação...
No meio das dezenas de convites que me foram enviados por email (o meu nome consta na lista oficial) para assistir a apresentações, jantares e vernissages várias na CES2004, seleccionei dois que ressaltaram pelo inusitado: um para a «Groovy Party» no «Ghost Bar», do Palms, com limusina à porta e a presença de «Austin Powers and his girls»!!; o outro para a demonstração de um produto revolucionário que permite reproduzir som utilizando as paredes da sala como transdutores. Ou seja: as colunas de som passam a ser as paredes!...


Irão um dia as colunas de som ser substituídas pelas paredes da sala? Duvido...
(instalação Delaudio/Monitor Audio)




A presidente da S3, a companhia promotora, só pode ser uma mulher, pensei, ou um homem divorciado posto fora de casa pela dita, por insistir em encher a sala de estar com os «caixotes» do «Surround 5.1», reduzindo o espaço de manobra da sogra e dos miúdos. Depois de terem feito desaparecer os inestéticos cabos com as tecnologias Bluetooth e WiFi, agora chegou a vez das próprias colunas. Isto numa era em que os discos vão dando lugar aos «downloads» e os leitores CD e DVD vão sendo substituídos pelos computadores. O meu prazo de validade como crítico de altafidelidade está a acabar...


Se eu já não tivesse visto Siegfried and Roy no palco a fazerem desaparecer elefantes, leões, mulheres e tigres brancos (um deles tentou fazer o mesmo com Roy mas falhou), não acreditava. Mas em Las Vegas tudo pode desaparecer como por magia, incluindo o dinheiro sob a forma de fichas de jogo...


A S3 começou por lançar um outro produto revolucionário: um pequeno aparelho que, colocado sobre uma daquelas longas mesas de conselho de administração, permite que os participantes oiçam as interessantes intervenções sem perder palavra. Ao tornar toda a estrutura da mesa num altifalante até o mais insignificante dos vogais pode agora ouvir todas as consoantes, tal como se estivesse sentado ao lado do Presidente.


Em Janeiro, vou a Las Vegas ouvir para crer. Depois conto como foi em reportagem alargada a publicar num Especial-Sons. Mas, entretanto, vou deixar os leitores tão intrigados quanto eu com esta nova tecnologia. Se me deixarem trago até umas amostras para convencer os mais incrédulos...



Terfenol-D



O sistema designado por S3i é composto por excitadores acústicos do tamanho de uma chávena de chá. Estas unidades produzem som de uma forma idêntica à de uma guitarra: quando uma corda é puxada ou percutida vibra e coloca por sua vez a caixa em vibração de que resulta o som. Os S3i vibram e colocam em vibração todas as estruturas com as quais estão em contacto. Estrategicamente colocados numa determinada superfície (uma parede, uma banheira, etc.) fazem vibrar essas estruturas em consonância e os ouvintes experimentam a mesma qualidade de som independentemente da sua localização dentro desse ambiente acústico. E «dentro» aqui inclui a água do banho...



Este tipo de «excitadores» não são novidade: os famosos Clark Synthesis, por exemplo (ver artigo relacionado), utilizam um princípio semelhante para reproduzir infrasons. A diferença reside no facto de os S3i não terem partes móveis que possam avariar, ou aquecer e danificar as estruturas que colocam em vibração. As unidades são compostas por um metal que se expande e contrai sob o efeito de um campo magnético.



Na base desta tecnologia está um material magnetorestritivo chamado Terfenol-D, que tem características previsíveis e repetíveis quando sujeito a um campo magnético, nomeadamente a mudança de forma em microsegundos, tão rápida que produz uma vibração modulada por um sinal eléctrico correspondente ao sinal musical. O Terfenol-D é o mais poderoso material conhecido com estas características. Foi concebido para aplicações militares mas recentemente foi tornado público sob patente e aplicado com sucesso na indústria de electrónica de lazer.


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