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2004

Highend2004: Giradiscos Com Tomates



Transrotor Orfeo Gold com molho de tomate


Os tão belos quanto inatingíveis giradiscos da Transrotor são o ex-libris do HighEnd Show. Não é fácil convencer alguém a gastar um pequena fortuna (o modelo Gravità custa €50 000!!) quando pode ter som, imagem e multimédia por uma ínfima parte dessa verba. É tudo uma questão financeira. E de educação. E de ouvido.


Novos escribas nacionais recentemente convertidos à audiofilia (com que objectivo?) debitam agora nos jornais lugares comuns veiculados pelos press-release das marcas sobre as vantagens assépticas do som digital; são os mesmos que defendem a pasteurização, os transgénicos e o vinho obtido em laboratório. Nunca ouviram uma comparação controlada entre LP e CD. Perdoa-Lhes, Senhor, não sabem o que dizem.


A teoria digital tem o apelo da modernidade e uma lógica inatacável: bits são bits, podem transmitir-se sem perdas e sem distorção, não é verdade? De facto, não é bem assim: a música não são só notas traduzidas por zeros e uns, música é fundamentalmente tempo. A transmissão de dados entre computadores é assíncrona, música é sincronismo puro. O busílis da música digital está, pois, no tempo e no modo, como a história dita por José Hermano Saraiva. Os erros temporais designam-se por «jitter», e só recentemente se atribuiu ao «jitter» (ou à sua ausência) a importância fundamental que tem na reprodução de música. O digital soa tanto mais analógico, passe a contradição, quanto menos «jitter» medir. Não admira pois que haja quem esteja disposto a pagar muito dinheiro para comprar leitores-CD, transportes e conversores D/A que o eliminam ou reduzem ao nível de alguns picosegundos: a Audiomeca, com o fabuloso Mephisto; a EmmLabs, do carismático Ed Meitner, que tem colaborado com a Sony no aperfeiçoamento do SACD (eu utilizo um Sony SCD XA777es como referência); a Krell com algoritmos próprios de conversão; a Linn, com o UnidisK SC, que dispensa o processador, incluindo o controlo de volume dos diferentes canais!; a McIntosh, com o transporte/conversor MCD/MDA1000; a Onkyo, que exibiu em Munique o primeiro leitor-DVD do mundo com HDMI (áudio e vídeo) com dualpath (retorno de clock); a Teac, com a linha Esoteric, que atinge o limite teórico de redução de «jitter»; e tantas outras marcas que oferecem já conversão a 24-bit/192kHz. Para um formato que já nasceu «perfeito» com apenas 16-bit/44kHz, isto não é uma evolução é uma... revolução.
Ao contrário do que sucede com o analógico, o CD tem tanto mais distorção quanto mais baixo é o nível de sinal. Para compensar (linearizar) utiliza-se «dither», mais uma palavrão que não devia existir num mundo pretensamente perfeito, mas sem o qual muita da informação «ambiente» se perderia no sufoco digital do bit menos significativo. É o tal «ar», o Graal dos audiófilos, cuja presença é imediatamente óbvia quando se passa de CD para LP.


Eu sou como o frade que prega uma coisa e faz outra: por dever de ofício sirvo-me quase exclusivamente de CD/SACD: é mais prático e rápido no acesso às faixas, a oferta é vasta e o som, isento de estalos e estática é, por vezes, surpreendentemente bom. Mas é quando fico em imersão três dias num show como o de Munique, onde as principais marcas dão ao visitante a possibilidade de comparar LP e CD, que sinto a consciência pesada por elogiar tanto o CD ao longo do ano.


Faça um favor a si próprio: vá ouvir um bom giradiscos numa loja da especialidade em Lisboa ou no Porto e afine os ouvidos pelo diapasão analógico. Deixe que seja o coração a ditar-lhe o que a razão lhe nega.


Em Munique contei 37 marcas diferentes de giradiscos analógicos! Muitas delas têm representação em Portugal, embora esta seja uma área do áudio que se aproxima quase do secretismo do ritual maçónico. Eis apenas algumas das marcas que poderá ouvir numa loja perto de si (representante entre parênteses): Avid (Audio Elite), Basis (GP Audio), Clearaudio (Ajasom), Denon (Videoacústica), Linn (Transom), Michell (Imacústica), Musical Fidelity (Sintonia Fina), NAD (Esotérico), Pro-Ject (Corel), Rega (J.Nunes Alves), Thorens (JM Audio). Ou vá à Delmax ouvir o Rui Borges Turntable.


E há discos à venda?, pergunta o leitor. Eis dois endereços na Alemanha de onde pode mandar vir LP fresquinhos. Vi por lá discos da Josh Stone, da Norah Jones e da Patti Smith, e milhares de discos de vinilo de jazz e clássica recém-editados num formato que muitos pensavam estar morto e enterrado:Dacapo e BlueDanube

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