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2004

Ces 2004: Melhor Som E Imagem



Lá como cá, um bom som num «show» é como agulha num palheiro. Mas ainda há quem, por milagre ou teimosia, o consiga produzir. Do outro lado, estamos nós, correndo de um lado para o outro, o que dificulta qualquer análise objectiva. Mas a experiência diz-me que um «bom som» é como uma grande amor: ao primeiro ouvido, sabe-se logo que é aquele que nos levava ao altar.
Las Vegas não é terra para exercitar a monogamia, salvo seja: ouvi por lá, não um mas vários sons, que me deixaram pelo beicinho, tanto em estéreo como em surround. Para escrever este artigo não recorri às minhas notas (sou preguiçoso para as tomar), apenas à minha memória: admito que possa vir a acrescentar algo ao que fica escrito quando descobrir que fui injusto e me esqueci deste ou daquele. Mas preferi escrever ao correr da pena: o amor não se conforma com os métodos da razão pura.
Dali+Ming DA+ Messenger


Já o afirmei algures a meio desta verdadeira maratona: o melhor som estéreo que ouvi em Las Vegas foi reproduzido por um amplificador chinês de nome Ming-DA com colunas Dali. O som estava alto e era tão rico de harmónicos que senti uma exaltação no peito, o coração bateu forte e fiquei feliz por saber que ainda tenho a capacidade de me emocionar e deslumbrar, tal como nos primeiros tempos da minha carreira audiófila, quando zarpei da pátria à descoberta do fascinante mundo dos sons. Ao contrário do «estado sólido», é a graciosidade das válvulas no limiar do «clipping» que torna o som tão excitante.


Nota: Esta é uma extraordinária tese de Russell O. Hamm, apresentada em 1972 na AES, que abriu os meus horizontes e tornou finalmente clara a razão da superioridade sónica das válvulas: a compressão benigna!O Ming-DA é a demonstração prática da teoria defendida por Hamm com base num circuito concebido por BK Buttler. Voltarei a este tema oportunamente.
Vandersteen Quatro


Não foi preciso andar muito no Alexis Park para ouvir outro grande som, Audio Research/Vandersteen Quatro, este já com as características de doçura e musicalidade que normalmente associamos às válvulas: um som repousado e repousante, e aquela noção subliminar de que «tudo está em fase», que é também o «ex-libris» de outra famosa marca de colunas: as Thiel.
TAD Model 1


Muito bem também as Amphion, Pro AC, TAD e Usher, estas últimas são marcas cuja ausência no mercado português brada aos céus.
Gallo Nucleus Ref 3


Mas foi preciso um brinquedo feio, concebido por Anthony Gallo, a Nucleus Reference 3, cuja caixa de graves se parece com um tacho de alumínio; e que, sem grelha, são um susto digno de um filme de ficção científica tipo «Alien», para me voltar a empolgar: há muito tempo que não ouvia um grave tão definido e articulado com o resto do espectro. Eu bem procurei o «subwoofer» escondido, mas Gallo garantiu-me que vinha tudo do «tacho de guisado». Eis um som «bem apurado», daqueles que apetece «molhar o pão e lamber os dedos»...
Joseph Audio Pearl+Joule Electra


As Joseph Audio alimentadas por Joule Electra OTL Rite Of Passage agradaram-me, tanto quanto o conjunto da Audionote me desiludiu. Não havia nada de errado, mas com o Ongaku presente e, tendo como fonte o LP, esperava sentir de novo aquele arrepio na espinha que volta só de pensar no Ming-DA.
Teres, o gira-discos do braço de pau (?!)...


Também tive outras desilusões, a mais inesperada das quais foi a sensação de desconforto quando ouvi o resultado da implementação da tecnologia ICE Power na sala da Jeff Rowland: deixou-me...eh...frio. E as Mantra que me impressionaram com SACD, soaram menos bem quando o gira-discos Teres tomou conta das operações. Um gira-discos com braço de madeira? Se bem lembro das minhas leituras técnicas sobre o assunto, as forças envolvidas na reprodução de um LP não se coadunam com as fantasias de um carpinteiro...

Halcro+JBL na sala da DTS


O melhor som surround (sem imagem) foi-me proporcionado na 1ª categoria pela instalação Wilson/Halcro e na 2ª categoria pela Thiel. A sensação de presença física dos músicos (e do público) chegou a ser sobrenatural em certos momentos.


Com imagem, voltou a ser a Halcro, desta feita com monitores profissionais JBL, na sala da DTS. Caramba, nunca o termo «overkill» teve tanto sentido: 16 amplificadores Halcro dm58!


Mas o conjunto Krell/ Resolution com imagem Runco (a melhor de todo o certame) não se ficou atrás: os «subwoofers» da Krell têm uma capacidade única de movimentar o ar, não apenas no sentido acústico mas físico do termo. Sente-se o sopro das explosões. Os excertos de o «Pirata das Caraíbas» e «X-Men2» foram experiências cinematográficas de pôr os cabelos - literalmente...


Já no stand da Denon ficou provado como um bom revender/montador é por vezes mais importante que um bom produto. No canal central o solista soava como se estivesse no fundo de um túnel, enquanto uma projecção ectoplásmica do resto da banda soava atrás de mim mais alto que nos canais frontais.

Rui «Gladiador» Calado não estava comigo nessa audição (só nos juntámos para conhecer a Norma Jean...) ou teria corrido tudo à espadeirada. O distribuidor da Denon nos EUA bem podia mandar aquele seu funcionário fazer um estágio na Videoacústica: o António Monteiro explicava-lhe como se faz neste pobre jardim à beira mar plantado...

Von Schweikert, à grande e à americana


Mesmo tendo optado por não escolher apenas «um som», admito que me senti esmagado pela demonstração da VAC/Von Schweikert (em áudio, tamanho continua a ser argumento); a exaltante riqueza harmónica do conjunto Ming-Da/Messenger/Dali; a transparência, única na minha experiência audiófila, da matriz digital a 24bit/96kHz reproduzida pelo Nagra-D, na sala da Wilson/Halcro; e a surpreendente coerência, ritmo e ataque das RHB, que não conhecia (Ver CES 2004: Colunas - Parte 3).

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