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2003

O Meu Diário 4: Kk Para Os Amigos



Foi graças a uma piada sobre Ken Kessler - e também pelo facto de ele ter votado no meu texto - que ganhei por unanimidade o primeiro prémio num concurso patrocinado pela Hi Fi News em 1986 (?). O prémio era um amplificador integrado Musical Fidelity A1. Lembram-se do A1? Parecia um grelhador de sardinhas. Foi o cabo dos trabalhos para o Antony Michaelson me enviar o amplificador. Na altura, a Esotérico ainda não era o distribuidor, e ele achava que se perdia o efeito promocional.


O texto breve consistia numa crítica ao primeiro disco-teste editado pela revista, o tal que tem um tipo a bater na porta de uma garagem, e que fez miséria em muitos sistemas de som. Eu fiz uma crítica séria, muito profissional, mas terminei num registo bem-humorado, dizendo que a dita faixa só podia ter sido gravada num dia em que Ken chegara tarde a casa e se esquecera da chave. Parece que foi um gozo pegado lá no escritório. Na altura de votar, já ninguém se lembrava dos outros textos...


Aqui há uns anos, no Festival de Música da Póvoa do Varzim, montei e demonstrei, com a colaboração da Imacústica, um sistema de som composto por amplificadores Krell e colunas Wilson Watt Puppies 5. Era o segundo ano desta notável iniciativa, cujo objectivo era oferecer aos «concert-goers» a possibilidade de compararem o som ao vivo com o som reproduzido por meios electrónicos.


No primeiro ano, foram as Apogee Diva (um sucesso tremendo, foi preciso mandar as pessoas sair da sala, já eram quase 2 da manhã); e no último, as Martin Logan Monolith com os Audio Research M300, creio. Entretanto, perdera-se o impacte da novidade, o sucesso foi relativo e ficámos por ali.


As Wilson 5 eram um pouco gordalhufas nos registos médios-baixos e tinham uns graves pesadões e incontroláveis. A sala tinha um tecto falso e isso também não ajudava nada. Nota: as «6» melhoraram, mas o problema só ficou definitivamente resolvido com as «7». Vai daí fiz um truque: coloquei um pouco de espuma na saída do pórtico reflex para «filtrar» o excesso de graves. Depois da demonstração com música clássica, que correu bem, alguém, creio que foi o Canizes, uma figura muito popular do hifi nortenho da altura, pediu: «Ponha aí a porta para ver como elas se aguentam...».


PUM!PUM!PUM!


A espuma - de que eu já me tinha esquecido - saiu disparada para trás, qual bucha de cartucho de caça, ao mesmo tempo que os ouvintes presentes levavam com o «chumbo» em cheio no peito. Caramba!...



Foi um prazer voltar a ver Ken, em Arcugnano, e com ele conversar e fazer turismo.


Ken Kessler é um «wilsonista» convicto: «Nenhuma outra coluna tem o poder de resolução e capacidade micro e macrodinâmica das Wilson», declarou numa das nossas muitas conversas audiófilas. «Neste particular, acho que as Stradivari não vão chegar lá, apesar de que, quando o Franco abriu o gás, they really kicked ass...», admitiu. «Mas são mais bonitas, lá isso são...», brincou. «E as Wilson não são um pouco frias?...», provoquei-o. «É uma questão de hábito, José, não são lá muito «musicais», okay, I grant you that, mas basta mudar um cabo e...voilá!, topa-se logo...», entusiasmou-se. «Ora para um crítico isso é uma informação fundamental...», rematou


Ken é o melhor conversador que conheço. O homem não se cala. Parece o Nuno Rogeiro: sabe de tudo. É especialista em relógios (highend, claro) e canetas de luxo. Já foi até convidado para escrever em revistas da especialidade. «Sabes porquê?: tenho de pensar no futuro... Vamos ali a um quiosque...», desafiou-me. «Aposto que há mais revistas à venda sobre relógios que sobre hifi...». De facto, havia à razão de 10 para 1! «Somos uma raça em vias de extinção», concluiu Ken.


Ken conta histórias e anedotas, discute política e aprendeu a falar italianês à sua custa e até nem se desenrasca nada mal. Dissertou durante uma hora ao jantar (em inglês, claro) sobre a causa palestina (Ken é de origem judia) e a União Europeia: «... a pior coisa que nos (vos) podia ter acontecido..., qualquer dia os países são todos iguais, a mesma comida, a mesma música, soa tudo igual como o low-fi...». E em jeito de brincadeira: «Não me dou lá muito bem nos países árabes. Tenho três pecados fundamentais: sou americano, judeu e vivo no Reino Unido...can anyone beat that?!...».



Nota: na próxima edição do «Diário» a minha discussão com Martin Colloms sobre o Krell SACD Standard e o SACD de uma maneira geral.

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