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2003

Nordhost Valhalla: O Cabo Das Tormentas



A minha experiência diz-me que os cabos de coluna multifilares entrançados têm tendência para ganhar grão no agudo à medida que oxidam; os cabos unifilares múltiplos com isolamento fio a fio têm problemas de linearidade devido à impossibilidade de manter uma geometria estável ao longo do cabo; daí que a opção por cabos unifilares múltiplos espaçados com isolamento independente e geometria plana invariável (tipo fita) me pareça a mais adequada. Depois, é o tempero entre a baixa resistência e indutância do cabo, de forma a manter a atenuação constante independentemente da frequência, desde que a capacidade esteja dentro de parâmetros racionais. Finalmente, um dieléctrico (revestimento) que não absorva energia provocando arrastamento e desvio de fase. E muita fé.


Valhalla Reference é o cabo para colunas topo de gama da Nordost Flatline Corporation, uma empresa que, como o nome indica, produz cabos «de fita», chatos - no sentido de planos, que de chatos não têm nada. Já uma vez apelidei os cabos de «perfumes de áudio», porque, tal como os ditos, no mundo da alta costura, são um acessório - logo, um negócio da China. Há quem diga que qualquer fio de cobre cumpre a mesma função e que as propaladas virtudes de certos cabos não passam de banha-da-cobra. Seja como for eu prefiro um som «perfumado» a um som a cheirar a suor - e alguns são um autêntico pivete acústico. Todos eles se arrogam de uma ou outra característica técnica a raiar as artes alquímicas. No caso dos Valhalla, o cabo é composto por quatro secções de dez filamentos de prata cada percorridos por uma malha helicoidal que sustenta o dieléctrico (revestimento) de Teflon transparente. Como os condutores ficam suspensos no vácuo (não tocam no dieléctrico), a constante dieléctrica (1,38) é próxima da do ar (1,0). Isto faz com que o atraso na propagação do sinal seja de uns meros 1,06 nanosegundos, ou seja, 96% da velocidade da luz! E chega de alquimia.


Os Valhalla são, além disso, lindos: têm a beleza dos cabelos e do canto das sereias, parecem fitas do laço de um fato de noiva - símbolo de pureza virginal. É essa pureza e fidelidade absoluta que os torna tão transcendentes ao ponto de nos ser vedado definitivamente o caminho de retorno. Aqui não há divórcios (aliás, seria um desastre financeiro). Só a morte (ou a surdez) pode roubar o ouvinte ao sortilégio deste som. Não é um amor à primeira vista, admito, mas uma vez vencido o cabo da tormentas, eis-nos no paraíso prometido.


Com as Wilson Watt/Puppies tive dificuldade em justificar a fama e o proveito dos Valhalla, em relação, por exemplo, aos Siltech, que também utilizam condutores de cobre puro banhados a prata fina. Fiquei indiferente aos protestos de outros críticos que avalizavam com o seu prestígio a superior reprodução de graves, a total ausência de grão electrónico, até o volume do som que, dizem, parece aumentar como por magia. Eu já tinha tudo isso com os Transparent Audio e os Siltech. Até que liguei os Valhalla às Martin-Logan Odyssey. E foi preciso um painel electrostático para tornar evidente a diferença subtil em termos de espaço, de escala e volumetria, de verosimilhança e tangibilidade da imagem estereofónica e seus intervenientes activos. Por comparação, os outros cabos, que antes me soavam pouco menos que perfeitos, apresentam agora furtivos indícios auditivos (não mais que uma fugaz sensação de desconforto) de que apertam, limitam, restringem, numa palavra: comprimem, perturbando assim o débil equilíbrio da teia de harmónicos que gravitam na órbita dos sons fundamentais, deixando no ar apenas a sombra evanescente do que antes era um amplo e duradouro sorriso musical.

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