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2003

«ground Zero»



No dia da abertura do «Home Entertainment Show», realizou-se também em NY a cerimónia oficial do fim dos trabalhos na «Ground Zero» - a terra queimada onde antes se erguiam as famosas Torres Gémeas



O «buraco no meio» é tema recorrente em reuniões de audiófilos; verifica-se quando as colunas de som não reproduzem uma imagem sólida no centro do palco sonoro. Uma questão que ficou reduzida à sua ridícula dimensão, perante a trágica efeméride daquela triste e leda manhã de 11 de Setembro.


Onde antes se erguia imponente o maior par de «colunas» da Grande Maçã, está agora um buraco enorme. Que urge preencher. De imaginação. De esperança.


Vi as torres desmoronarem-se na televisão como um castelo de cartas, que a CNN baralhou e deu de novo, uma, duas, mil vezes, como se, à custa de ser repetida, a insuportável verdade se pudesse tornar mentira.
Senti um desejo irreprimível, quase doentio, de ver para crer.


Lancei-me ao rio de pessoas, que percorriam em silenciosa peregrinação a via dolorosa de Fulton Street, para assim chegar mais perto do local do sacrifício ritual. Há flores, T-shirts com dedicatórias, fotografias e inscrições mil nas paredes e vedações. E lágrimas nos corações. Que as dos olhos secaram como as fontes de NY, por força do plano de poupança de água, como se a cidade também já não tivesse lágrimas para chorar por mais alguém. E há no ar um cheiro acre, que passados oito meses ainda nos arranha a garganta. Ou será da raiva?


«We will never forget», lê-se num dos muitos cartazes.


Como foi possível duas torres feridas de morte resistirem de pé até ao limite para caírem depois exangues sobre si próprias do alto dos seus mais de cem andares, sem arrastar consigo os prédios vizinhos? É a pergunta que nos assalta perante esta visão do inferno. Das torres já nada resta, pelo que são estes prédios, hoje vazios, que delimitam o palco da tragédia aos olhos dos visitantes; o inimaginável holocausto vivido por uma cidade que sempre soube receber no seu seio todas as raças, todos os credos, todas as culturas.


Em oito meses de escavações, foram removidas milhões de toneladas de escombros e, segundo as estatísticas, quase dois mil corpos queimados, estropiados, dilacerados, além de 20.000 (!) pedaços de outros que não foi possível identificar: judeus? árabes? negros? brancos?, todos alegadamente sacrificados em nome de Alá. Um Deus que, como o nosso, manda pregar o amor, a paz e a compreensão entre os homens.


Pode haver muitas ideias de Deus; do Diabo só conheço uma: é a personificação do Mal. E esta chacina só pode ter sido obra sua.


Por isso rezei: Pai nosso, que estais no Céu, livrai-nos do mal. Amén.




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