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2003

Audioshow 2003: A Minha Avaliação- Introdução



Há críticos como Ken Kessler que se recusam a dar a sua opinião sobre o que ouviram num hifishow, limitando-se a descrever o que viram para evitar ter de engolir sapos como já me aconteceu a mim algumas vezes. Eu prefiro arriscar: não gosto de ser acusado de não me assumir para não ferir susceptibilidades pessoais ou comerciais. Todos os que me conhecem sabem que não tenho pápas na língua e digo o que penso doa a quem doer. No interesse de todos: distribuidores, revendedores e consumidores. E por respeito aos leitores. O que não significa que concordem com a minha opinião. Por isso pedi que me enviassem outras opiniões e pontos de vista e publiquei-as na integra.


Mas a avaliar pelas opiniões publicadas na secção Correio (ver Artigos relacionados) constata-se que em áudio «o remédio de um homem é o veneno de outro». Só uma subjectividade exarcebada ou parâmetros objectivos pouco criteriosos podem justificar que «o melhor som» de uns seja «o pior som» de outros. Não há aqui tons de cinzento: ou é preto ou é branco.


Partindo do princípio que todos estão de boa fé, esta total «inversão de polaridade» só pode ter resultado de diferentes condições de audição (alterações ao set-up, dias diferentes, discos diferentes, lugares diferentes na sala) ou diferentes estados de espírito.


Mais do que os ouvidos abertos o visitante deve ter um espírito aberto e não abordar a audição com ideias preconcebidas. Quem ouve um sistema, colocando-lhe na testa à partida o estigma das « válvulas» ou dos «transístores», do «digital» ou do «analógico», «single-ended» ou «push-pull», «estéreo» ou «surround», «com» ou «sem» imagem, «japonês», «inglês» ou «americano», fabricado por uma multinacional ou por um maduro num vão-de-escada, está, de facto, a avaliar o seu «carácter» pela cor da «pele». Chama-se a isso preconceito.


Há duas formas de ser júri numa avaliação: concentrar-se nos defeitos ou nas virtudes.


A primeira tem como paradigma o júri do programa «Ídolos», da SIC. Tem uma ideia preconcebida do que procura e elimina quem não se enquadra nesse edifício conceptual: «já chega, não nasceste para isto, és bonita mas não sabes cantar, tens voz mas tens um ar pesado, aparece cá para o ano, ó pá, desaparece!, etc.».


Do lado oposto, está o júri da «Operação Triunfo»: «podes melhorar, estuda, aplica-te, não desanimes, tens potencial, explora-o, vais conseguir, não chores, etc.».


O ideal é uma abordagem em que os defeitos e virtudes sejam igualmente realçados e o contexto explicado para que se possa concluir sobre a real valia de um determinado equipamento de som ou sistema, deixando ao leitor a tarefa - pessoal e intransmissível - de o integrar no quadro mental variável e único dos seus gostos, conhecimentos técnicos, necessidades e condições domésticas de audição, para não falar nas financeiras, conferindo assim alguma objectividade ao que, sendo do domínio dos sentidos e das emoções, é por definição subjectivo.


Ao longo da minha carreira de 20 anos, já passei por várias fases: a paixão das válvulas, o deslumbramento dos transdutores exóticos de «ribbon» e «painel», a consciência da superioridade da analógico sobre o digital, a «xenofobia» em relação ao «surround» e à imagem. Não me arrependo das minhas paixões, envergonho-me apenas da minha intransigência. Fica o aviso aos mais novos. Hoje estou mais ecuménico. Os anglo-saxões dizem do gosto católico (catholic taste) que tudo lhes serve. Nem tudo me serve mas, como bom cristão, recuso-me a condenar alguém (ou algo: leia-se sistema ou equipamento) antes de o ouvir...


José Victor Henriques


P.S. Já estão online no Hificlube as minhas avaliações pessoais sobre as demonstrações nas salas Alfida/Viasónica, e Ajasom/Audio Eclipse. Entretanto podem continuar a enviar os vossos textos.

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