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2000

Nad 317: Forte E Feio



Numa época em que o mercado está decididamente virado para o AV e para os amplificadores de cinco canais com descodificação Dolby Digital e dts, é bom saber que ainda há quem se preocupe com o estéreo de qualidade a um preço acessível: pouco mais de cem contos.


 


A filosofia da NAD parece ser garantir o máximo de potência de pico disponível por cada escudo gasto com um mínimo de mariquices acessórias ou fantasias pirotécnicas. Em circunstâncias adversas - e por circunstâncias adversas entenda-se, por exemplo, ter de alimentar colunas de baixa impedância ou atacar mais de um par de colunas para animar uma festa - os NAD soam olimpicamente mais alto, mais forte e mais longe que os adversários, contrariando em muito as especificações referentes à potência. Quando a NAD diz que um amplificador seu tem 80W/c pode pôr mais 20W em cima que não se engana muito. O segredo está na fonte de alimentação sobredimensionada (Dynamic Power). E se acontece perderem o fôlego fazem-no com graça e estilo (Soft Clipping), poupando as colunas à ignomínia de darem o berro em público.


 


Raça de campeão


 


Com o modelo 317, a NAD atinge o justo equilíbrio entre potência (80W/c), musicalidade e preço (apenas 120 contos!). O NAD 317 soa como uma bofetada de luva branca em muitos amplificadores integrados aristocratas que «se dão ares» nos salões e soçobram miseravelmente no campo de batalha. O NAD 317 é também uma resposta singela aos muitos leitores que me enviam e-mails simpáticos e angustiados, desejando passar das palavras aos actos mas sem terem o necessário poder de compra. É um pouco a vingança dos fracos e oprimidos que podem assim desafiar os poderosos deste mundo para um duelo: uma simples comparação A/B - é quanto basta. Vai cair a máscara a muito amplificador que se arroga de centenas de watts mas depois não os tem no sítio quando a situação o exige. É que ele há watts e watts.


 


Dentro do 317 está um poderoso amplificador 214 construído à volta de um transformador toroidal Holmgren de 500VA. A NAD limitou-se depois a integrar um prévio que aceita 6 entradas de linha, incluindo 2 tape in/out com «dubbing» bidireccional para o copianço (não tem entrada phono). Se quiser pode separar o prévio do amp ou triplicar a potência (240W) fazendo «a ponte» (monofónico). Tem controlos de tonalidade e um útil botão para os desligar. Ou como diz com humor o anúncio da NAD: «a bell and a whistle and a button to turn them off». E ainda: um controlo remoto. Os terminais para as colunas já são do tipo «europeu», e lembram-me uma máquina de picar carne: mete-se o cabo nu por um lado e anda-se à roda pelo outro até apertar. Detesto estas modernices ditadas pelas apertadas normas de segurança da nossa querida comunidade. Mas se é para proteger as crianças, como dizem, então seja.


 


Já agora a Europa também podia exigir que os amplificadores europeus fossem fabricados na ... Europa. Em Portugal, por exemplo, em vez de num qualquer lugar recôndito da imensa China? Mas a única maneira de oferecer esta qualidade a este preço é pagar mal a quem trabalha - vamos ter de aprender a viver com isso. Afinal todos os outros fazem o mesmo, incluindo os japoneses.


 


Assim, o NAD 317 não parece à primeira vista oferecer nada que, por este preço (ou até por menos), não seja possível de encontrar noutro lado. Isto porque a NAD investiu mais no que se «ouve» e menos no que se «vê». Por fora o ar espartano e militarista reforçado pela cor cinza-verde-azeitona; lá dentro, em vez dos habituais circuitos integrados, circuitos discretos; em vez das resistências e condensadores comprados ao peso, componentes seleccionados de baixa tolerância: resistências de filme de metal e condensadores de polipropileno, por exemplo. Tudo luxos de coisa cara. E depois os 80W sobre 8 Ohms do NAD 317 não são como os outros. De facto, são mais de 100W/c... que se transformam em 180/4 Ohms... 250/2 Ohms... Upa, upa, a avaliar pelo que lhes ouvi tocar. Para um leigo isto pode significar que o NAD 317 tem uma excelente «ponta final». E é desta raça que se fazem os campeões: os NAD 317 dão o litro.


 


De surpresa em surpresa


 


Isto não devia constituir surpresa para mim: os NAD sempre foram assim. A esta genica extra (potência de pico) a NAD chama-lhe «envelope dinâmico». E eu sempre achei que o «truque» tornava os amplificadores lentos e duros de ouvido, leia-se, «electrónicos», quando atingiam o seu limite. Ou seja, o som deixava transparecer o preço. Ora o NAD 317 é um amplificador tão bom que eu até tenho vergonha de ter escrito aqui sobre certas coisas cujo preço dava para comprar um automóvel.


 


Houve claro ocasiões em que o NAD 317 revelou as suas origens humildes. Apesar da inegável capacidade para alimentar colunas difíceis como as Sonus Faber Extrema (muito bem também com as BW Nautilus 804), pode perder alguma transparência quando toca baixinho (potenciómetro de volume?); por outro lado, a níveis muito elevados os registos médios endurecem um pouco, e lá grita uma ou outra obscenidade acústica. A meio-gás, contudo, o NAD 317 transcende-se, e é um prazer ouvir música por longos períodos. E «meio-gás» é quanto basta para lhe saltar a tampa a si, caro leitor.


 


O NAD317 é um amplificador silencioso (não dá estalos, não «ressona», não sopra) de carácter agradável e melodioso, com uma fugaz translucidez que paradoxalmente não parece afectar a definição e claridade do som antes parece temperá-lo. De uma maneira geral, a sua musicalidade intrínseca atinge um patamar muito elevado com laivos de um romantismo eufónico (predominância de distorção de 2ª harmónica?) e cativante, à guisa dos amplificadores a válvulas. O corpo da grande gama média é uno e indivisível, apenas com uma mui ligeira (e benigna) velatura dos registos médio-altos mas sem nunca se perder a inteligibilidade e clareza dos enunciados. O controlo da sibilância revela uma judiciosa utilização da realimentação negativa. O todo assenta num grave robusto, redondo e polido como um seixo do rio. Tonalmente nota-se alguma predominância das cores quentes.


 


No conjunto, o NAD317 está contudo muitos furos acima do que é habitual na sua categoria de preço revelando muito bom entrosamento rítmico e harmónico. Não é um amplificador rápido, é um amplificador seguro de si que leva sempre a música a bom porto - todo o género de música.


 


Se ainda não foi apanhado pelo vírus do AV e procura um amplificador integrado estéreo entre os cem e os cento e cinquenta contos para alimentar colunas caprichosas, não deixe de ouvir o NAD317. Vai arrepender-se se não me (lhe) der ouvidos.


 


Ou não fosse NAD uma outra forma de escrever DNA.


 


Distribuidor: Esotérico


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