O Phonitor X é um amplificador de auscultadores audiófilo criado e fabricado pela SPL, uma marca alemã que desenvolve tecnologia de áudio profissional, equipamentos para cinema, multimédia, hi-fi e radiodifusão há mais de 35 anos.
A indústria de áudio chinesa veio alterar significativamente o paradigma da alta fidelidade mundial. Longe vai o tempo em que da China só chegavam cópias baratas de produtos europeus. Hoje, da China, chegam-nos produtos que rivalizam em qualidade com os europeus — e até com os americanos — a preços acessíveis.
Contudo, tal como acontece na indústria automóvel, na qual a tecnologia chinesa dá cartas, o prestígio de marcas como a BYD ainda não se compara ao da Porsche, por exemplo. E o status que uma grande marca europeia confere ao seu proprietário continua a ter uma enorme influência na decisão de compra. O produto europeu é mais caro, mas tem mais prestígio, sobretudo o alemão, por razões históricas e de perceção geral de qualidade industrial.
Assim, quando a Esotérico me enviou para testar o prévio e amplificador de auscultadores SPL Phonitor X, que custa 2.549 € (com DAC opcional: +450 €), a primeira tentação é compará-lo com um produto mais barato de origem chinesa. Neste contexto, a SPL até é, em termos europeus, uma marca alemã relativamente acessível, ao contrário de outras, como a Burmester, MBL ou T+A, mas a construção continua a ser de qualidade germânica. Eu diria mesmo: de qualidade profissional.
De facto, na página da Esotérico, pode ler-se: a SPL é uma marca alemã que desenvolve tecnologia, áudio profissional, equipamentos para cinema, multimédia, alta-fidelidade e radiodifusão há mais de 35 anos.
Não admira, pois, que o Phonitor X (prévio e amplificador de auscultadores), aqui em análise, faça parte da Professional Fidelity Series, composta ainda por: Phonitor Xe (amplificador de auscultadores), Phonitor se (amplificador de auscultadores), Director Mk2 (DAC e prévio), Electro (prévio analógico), Diamond (DAC) e Phonos (prévio de Phono).
VOLTAiR 120V
Todos utilizam a tecnologia de referência exclusiva VOLTAiR (120V), que, segundo a SPL, e transcrevo do catálogo:
- ‘É única no mundo. Opera com tensão contínua (DC) de 120 volts, ou seja, quatro vezes a dos op-amps semicondutores baseados em CI. Note-se que o “120V” no nome desta tecnologia nada tem a ver com a tensão da rede elétrica da tomada. Refere-se, sim, à tensão interna de funcionamento com que os sinais de áudio são processados.
- A tensão da rede é transformada em tensão secundária necessária na fonte de alimentação linear interna com transformador toroidal. Retificadores convertem essa tensão alternada (AC) em tensão contínua (DC) requerida pelo aparelho de áudio.
- A tecnologia 120V funciona a ±60 V. Para lidar com uma tensão tão elevada, desenvolvemos amplificadores operacionais exclusivos capazes de operar a ±60 V DC: os SPL 120V SUPRA. Uma tensão deste nível destruiria componentes convencionais e op-amps comuns.
- A tecnologia 120V permite obter especificações técnicas excecionais e vantagens audíveis: na gama dinâmica e na relação sinal/ruído e headroom; na riqueza de detalhe e numa audição relaxante.’
- A SPL declara ainda que, e cito: ‘experimentar e ouvir as gravações e instrumentos originais é mais importante para a SPL do que seguir as regras’.
Ora, compete-nos avaliar até que ponto isto é assim.
Uma pauta não é um gráfico
Uma leitura generalista da vasta informação disponível ‘online’ sobre o Phonitor X, incluindo medidas de laboratório, permite-nos confirmar que estamos, de facto, perante um poço de força capaz de debitar 3,4 W sobre 120 ohms com 0,0009% de distorção.
Contudo, a distorção aumenta nas altas frequências, quando tem de alimentar auscultadores planar magnéticos de baixa impedância e baixa sensibilidade, ou seja, auscultadores do tipo dos que utilizei na audição.
Mesmo assim, falamos de uma distorção máxima de 0,24% aos 20 kHz, a qual é completamente inaudível. Como é óbvio, eu não ouvi nenhuma distorção — somente música, umas vezes mais bem gravada do que outras. Só isso. Aliás, isto não passa de uma questão académica, até porque a distorção do Phonitor X será sempre infinitamente mais baixa do que a de qualquer modelo de auscultadores (ou colunas, quando utilizado como pré-amplificador).
A SPL podia ter resolvido facilmente o assunto subindo a realimentação negativa, mas isso afetaria a qualidade do som. Ouvir as gravações e instrumentos originais é mais importante para a SPL do que seguir as “regras”, isto é, os ditames do cientificismo audiófilo, o daqueles que ouvem música com equipamentos de medida, em vez dos ouvidos.
O Phonitor X em vermelho flamante.
Do negro mate ao vermelho flamante
O Phonitor X apresentou-se de negro vestido. Pode ainda optar pela cor de alumínio ou vermelho flamante, a mais espetacular. O chassis é sólido e o painel frontal em alumínio parece o cockpit de um avião, com destaque para os VU mecânicos que indicam a tensão de entrada: logo, são independentes do volume selecionado pelo enorme botão rotativo central.
E já vamos perceber a importância que isso tem, porque pode estar a ouvir música a um nível muito baixo e a ver as agulhas a ‘bater’ no vermelho. Então… e se a agulha entra no vermelho, distorce — mesmo ouvindo baixinho?
Não necessariamente. O “vermelho” no VU do Phonitor X é um aviso de referência (+4 dBu = 0 VU), não um indicador de clipping instantâneo. O aparelho aceita níveis muito altos na entrada (até +32,5 dBu de headroom interno), graças à arquitetura de 120 V; logo, passagens rápidas acima de 0 VU raramente resultam em saturação audível, sobretudo com material musical.
Mas, cá está, em contexto laboratorial, as boas práticas recomendam baixar o nível de sinal na fonte na entrada (DAC), no transporte digital (Roon, por exemplo) ou atenuar a sensibilidade dos VU via DIP-switch (localizados por baixo do aparelho) para que a agulha não invada a zona vermelha.
O Node ICON pode ser a fonte de música digital perfeita para aliementar o Phonitor X.
Eu utilizei o Bluesound Node Icon como fonte, pois permite regular o nível de saída. Mas como gostei mais do som com o Icon no modo digital passthrough (0 VU), baixei o nível de saída em 3 dB no EQ paramétrico do Roon.
Proposta de EQ para os Hifiman HE1000 na plataforma Roon.
Crossfeed, Angle e Laterality
À direita, mesmo por baixo dos VU, estão as saídas para auscultadores: balanceadas (XLR 4 pinos) e single-ended (6,35 mm). Falta a Pentaconn balanceada de 4,4 mm, agora tão na moda.
À esquerda, encontram-se as funções EQ Matrix, reguladas por pequenos botões rotativos e deliciosamente táteis (dá gozo vencer a resistência de rotação por passos): Crossfeed e Angle.
O modo de Crossfeed, aqui com seis posições, entre MIN e MAX, não é novidade e consiste em “deixar escorrer” parte do sinal do canal esquerdo para o direito e vice-versa para obter uma “imagem estereofónica” mais próxima da que experimentamos na audição com colunas de som.
O modo Angle, não sendo exclusivo, já é mais raro; tem quatro posições entre 22° e 55°, sendo o ângulo definido pela distância entre as colunas virtuais que pretendemos emular nos auscultadores.
O SPL Phonitor X tem algumas funções exclusivas, como Matriz e Laterality.
E isso resulta? Sim, se não abusar (optei por Crossfeed=2; Angle=30º), vai obter um efeito acústico muito gratificante. E pode ainda fazer uma comparação A/B imediata, ligando e desligando o Matrix.
A sensação de uma imagem mais compacta (com maior presença dos músicos) ou mais ampla (com mais espaço para os músicos) é óbvia. A escolha depende muito do género musical e do tipo de gravação. Vai ser uma festa nos primeiros dias. Depois, o entusiasmo desvanece-se e acabamos por optar pela afinação padrão ou pela que mais nos agrada e esquecemos o assunto.
O terceiro botão regula o que a SPL chama de “Laterality”. Trata-se de um modo de afinação fina do equilíbrio entre canais. Ao rodar o botão de Balance convencional, reduzimos o volume no canal esquerdo ou direito para equilibrar o som ao centro, ou então puxamos o som todo para um dos canais. Com o “Laterality”, conseguimos centrar o vocalista, por exemplo, sem afetar muito a imagem geral. Um efeito muito curioso.
Fez-me lembrar um episódio hilariante, como todos, aliás, de “Seinfeld”, cujo título era “Serenity”. É isso, eu acho que a “lateralidade” restabelece a “serenidade” na música.
O prazer de ter um equipamento profissional de estúdio, no seu ambiente doméstico.
Com ou sem DAC? Eis a questão
Além do 'toggle switch' (comandos de alavanca muito curtos) do Matrix, há ainda outros quatro comandos deste tipo: dois para “Source” analógica: RCA/XLR e digital: ótica, USB e coaxial, se tiver optado pela versão 'all-in-one' do Phonitor X equipada com um módulo DAC 768xs.
O Phonitor X, que nos foi amavelmente enviado pela Esotérico Consultores de Som, é a versão sem DAC. O módulo pode ser comprado em separado e facilmente instalado.
Mas este Phonitor X também é um excelente pré-amplificador. Basta colocar o comando na posição para colunas de som, podendo atacar um amplificador externo ou colunas ativas (sem Matrix, exclusivo para auscultadores).
Finalmente, pode optar por 'Stereo' ou 'Mono', sendo este último modo muito útil para colocar colunas na posição correta ou para fazer misturas para serem reproduzidas em colunas monofónicas.
No painel traseiro, entradas RCA e XLR (as que eu utilizei com o Icon) e saídas de prévio RCA e XLR.
A potência declarada do Phonitor X é assombrosa: até 3,7 W (1 kHz, 120 Ω), com números igualmente robustos sobre 300 Ω e 600 Ω; e ainda 1 W aos 32 Ω. Para auscultadores famintos, há DIP-switches escondidos na barriga (que raio de ideia!), que aumentam o nível do andar de auscultadores (+12/+22/+24 dB), algo que muitos rivais não oferecem. Admito que os números são um pouco otimistas, sobretudo com cargas de 16 e 32 ohms, mas nunca senti falta de potência nem de macro dinâmica, que, não sendo ao nível da minha referência, é muito convincente.
O Phonitor X trata a música como matéria a revelar, e não como matéria a embelezar.
O Phonitor X é um instrumento profissional de estúdio que trata a música como matéria a revelar, e não como matéria a embelezar. Se anda à procura de um romance harmónico com a música, opte por um amplificador a válvulas. Vai ganhar em calor o que perde em fulgor dinâmico.
Neutralidade ativa
O Phonitor X diz-lhe na cara, ou seja, diretamente nos ouvidos, até aquilo que não quer ouvir, embora não soando tão árido como outras referências de laboratório, com medidas excecionais, como o Benchmark HPA4. Mas as medidas não são tudo. E o Matrix dá uma ajuda aqui e põe água na fervura.
Eu diria que o Phonitor X prima pela neutralidade ativa, o que é um bom ponto de partida, porque posso depois obter o calor tímbrico por outros meios. O Roon, por exemplo, disponibiliza equalização específica para cada tipo de auscultador, que depois tempero ao meu gosto, pois não é ao amplificador que compete linearizar a resposta dos auscultadores.
O Phonitor X limitou-se, assim, a carregar o piano pela “escala” acima, fornecendo energia e informação. O que cada auscultador faz depois com ela já não é responsabilidade do Phonitor X. Quanto à EQ, ela é sempre minha (sua) responsabilidade.
Os 32 ohms de impedância e a baixa sensibilidade dos Hifiman HE1000 não assustaram o Phonitor X; nem sequer os 16 ohms e a elevada sensibilidade dos Austrian Audio The Composer. O tom e o timbre de ambos são tão diferentes (daí a necessidade de EQ) que qualquer coloração eletrónica do amplificador tem um efeito nulo na audição destes ou de quaisquer outros auscultadores.
Às vezes, é preciso desmistificar o valor de certas opiniões, sejam elas de caráter técnico ou pessoal.
SPL Phonitor X pode ser utilizado como prévio de linha com um amplificador a válvulas como o LAB12 Mighty.
A secção do pré-amplificador (OUTPUT) por si só já vale o preço e combina perfeitamente com o meu amplificador de válvulas LAB12 Mighty (sim, comprei-o!). Durante longas sessões de audição, agora com colunas, é claro, o Phonitor X acompanhou muitas vezes as válvulas a brilhar no meu escritório,uma noite chuvosa, como um reconfortante fogo-fátuo.
Conclusão
O Phonitor X é uma delícia para os olhos, os ouvidos e os dedos (ergonomia profissional). E só o vou devolver porque já tenho quatro amplificadores de auscultadores, três deles com DAC, sobre a minha secretária. Mas vou ter pena de vê-lo partir, porque, além de cumprir bem a função de amplificar auscultadores, inspira desejo e orgulho de posse.
Para mais informações: ESOTÉRICO












