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2004

Shaolin Blues: Shanling Scd-t200c



Shanling SCD T200C, o leitor-SACD de Confúcio


O Shanling SCD-T200 é uma obra prima audiófila que concilia o melhor da tecnologia de ponta japonesa e americana, a tradição chinesa e a filosofia de Confúcio; uma obra de arte com o justo equilíbrio entre a solidez fria do metal que pauta a actual construção metálica ocidental e a leveza arquitectural do Oriente. Delicados «pagodes» de acrílico dissipam o calor da incandescência dourada das válvulas; a tampa manual, também em acrílico, debruça-se sobre o disco envolvendo-o num repousante halo de luz azul; as quatro válvulas 6N3, que fazem guarda de honra ao transporte, estão protegidas à rectaguarda por blindados, na forma de transformadores (e chokes) encapsulados em metal. O jogo cromático do alumínio preponderante e a transparência do Perspex banhado de azul etéreo poderá levar alguns a situar o T200 no limite do «kitsch» oriental. Mas a visão desta luminosa beleza excita invariavelmente o desejo de posse.



CONFÚCIO E AS LEIS DA NATUREZA


No fundo, o T200 é um Sony SCD1 (um modelo estéreo para audiófilos puros e duros de coração mole): o mesmo sistema de transporte/leitura e circuito de descodificação DSD acolitado por modernos DACs 192/24 da Burr Brown. Não admira que Eduardo Rodrigues, da Pedro's Hifi, que é co-importador, tenha gostado tanto do som: lembrava-lhe qualquer coisa...


A Shenzhen Electronics, que fabrica também os amplificadores Ming-Da («Melhor Som de Válvulas» da CES2004), partiu das mesmas premissas para chegar a conclusões diferentes: o T200 concilia o Yang e o Yin, o côncavo e o convexo, o Ren confuciano (a junção de dois seres para constituir o Ser Perfeito) e, finalmente, a válvula e o transístor, eternizando assim a velha polémica sobre qual das tecnologias reproduz melhor música.


Confúcio defendia metodologias inovadoras com base no passado ideal da tribo Zhou e considerava a corrupção no mundo o sintoma do não cumprimento pelos homens das leis da natureza (Tian). O T200 é a consecução dessa filosofia: oferece simultaneamente um circuito transistorizado inovador e válvulas, senda estas o símbolo do passado «humanista» de respeito pelas leis da natureza: os electrões transmitem-se melhor no vácuo que numa pastilha de silício.

DA TEORIA À PRÁTICA


A tampa é operada à mão (não acredite no manual: a função open/close no controlo remoto reporta-se ao modelo de gaveta S200): levanta-se, coloca-se o disco no leito e sobre este o estabilizador magnético; baixa-se suavemente (não a largue ou ela cai desamparada) e inicia-se o processo automático de identificação do disco CD/SACD. Demora uns segundos até que se acende o led identificador respectivo (default: SACD). A partir daí o acesso às faixas é quase instantâneo. Uma tampa motorizada, ou hidráulica, como a do Krell KPS25, seria ouro sobre azul. Nos discos híbridos, não é possível mudar de CD para SACD sem passar pelo stop, it's a Sony! O T200 leu todos os discos (incluindo RW) sem problemas. A saída digital revelou uma inesperada incompatibilidade com o Chord DAC64. Mas ninguém compra o Shanling para utilizar como transporte de um DAC externo.


O T200 pode ser ligado simultaneamente a um preamplificador através das saídas fixa (transístores) ou variável (válvulas). Também pode optar pela ligação directa a um amplificador estéreo (utilize cabos curtos), caso em que se pode regular o volume por meio do controlo remoto. Se o ligar a um prévio, verifique no visor do T200 se o volume está no máximo (96), correspondente a 2,5V de saída, servindo-se depois do prévio para regular a gosto. Se optar pela ligação directa ao amplificador (tube output apenas), baixe antes o volume com o controlo remoto ou arrisca-se a ficar com os altifalantes no colo.

O CÔNCAVO E O CONVEXO


O T200 é um leitor CD/SACD de excepcional qualidade sonora. O som é natural, cheio, doce sem perda de detalhe e, fundamentalmente, tem notável sentido rítmico, o que torna as audições viciantes com ambos os formatos, com óbvia vantagem para o SACD. Se não é adepto do milagre da multiplicação de canais e tem uma vasta colecção de CD/SACD em estéreo pode ficar já por aqui: a «visão do som», o disco que gira num frenesim azul sob o fogo fátuo das válvulas, ajuda a criar um ambiente propício a audições prolongadas.


Alguns críticos antes de mim preferiram os transístores às válvulas. Discordo em absoluto - (ver Nota). O som dos transístores é mais «compacto» e «redondo»: tem mais ênfase nos registos médios e subjectivamente menos informação nos extremos de frequência. As válvulas (deixe-as aquecer uma hora antes de comparar) são mais «expansivas»: têm mais riqueza harmónica, presença e impacte, tanto nos agudos como, pasme-se! nos graves. Se visualizarmos no espaço a resposta em frequência subjectiva dos transístores, esta é «convexa» por oposição à aparente «concavidade» das válvulas, com os registos médios mais «avançados» no primeiro caso e «recuados» no segundo. Contudo, por trás da linha «convexa» o ar é rarefeito, enquanto à frente da linha «côncava» desenhada pelas válvulas o espaço é amplo e arejado, permitindo aos músicos respirar livremente sem baias que lhes limitem os movimentos ou coarctem a inspiração.


O «côncavo» e o «convexo» completam o «Som Perfeito», o Ren de Confúcio.


Hélas, vai ter de optar por um ou outro, porque, embora estejam ambos sempre activos, não se podem ouvir ao mesmo tempo. Mas pode alternar em consonância com o género musical: mais «rockeiros» os transístores, mais «clássicas» as válvulas.


Nota: Sem alterar a minha opinião inicial, com o tempo notei que a saída a «transístores» tem «mais para dar» do que a minha vã filosofia pensava. As válvulas não substituem o opamp da saída a transístores, complementam-no. Assim sendo, a diferença audível talvez se deva à diferença de impedância (ou à sempre agradável distorção de 2ª harmónica, por exemplo...)




DIRECTO AOS OUVIDOS


Das quatro válvulas, duas servem em exclusivo o andar de saída para auscultadores (jack localizado no lado direito do aparelho e volume regulado no controlo remoto). Se quer apreciar em pleno a qualidade de um CD/SACD sem incomodar os vizinhos e a família, o T200 faz justiça aos melhores auscultadores do mundo. Se isto é um extra, em verdade vos digo que justifica por si só o preço do conjunto: 2 800 euros (o mais baixo em toda a Europa).


O Shanling SCD-T200 deixou-me com os olhos e os ouvidos em bico (no bom sentido, claro...).


Nota: Só há dois exemplares em Portugal. Para uma audição pessoal contacte: Pedro's Hifi, Shopping Palmeiras, Oeiras, telef. 21 456 0669




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