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2004

Audioshow 2004: O Código Da Vinci




Quando vi na publicidade ao Audioshow 2004 o televisor e o projector de cabeça para baixo, ainda tive a esperança que era uma espécie de «código da Vinci», uma mensagem subliminar de que finalmente ia inverter-se a tendência videófila dos últimos anos. Logo alguns especialistas argumentaram que também se colocam projectores invertidos no tecto. Além disso, ou a coluna era do tipo «tweeter-para-baixo» ou...

O meu estado de espírito agravou-se quando dei de caras com um simulador de Fórmula 1 que acelerava mesmo à porta da «Organização» para gáudio da multidão: o lugar no cockpit era muito disputado...


Tudo isto num «show» de génese audiófila! Juro que cheguei a temer o pior. O que vem seguir: um espaço, tipo «arcada», para jogos de vídeo?...


De resto até gostei do Audioshow 2004: afinal apostou-se e bem no áudio puro, no analógico e nas válvulas. Havia também muita gente no Sábado, mais do que é habitual em certos acontecimentos ditos culturais que contam sempre com a presença atenta dos media: dos festivais de banda desenhada à moda. No ISCTE, só estava o DNMusica/Sons por razões óbvias...



A BELA PAVLALAGUNA



Independentemente das discussões acaloradas que vão durar semanas nos fóruns e clubes audiófilos na internet (veja a reportagem ilustrada aqui no Hificlube) sobre qual o melhor som e/ou imagem e quais as novidades que merecem destaque na imprensa especializada, esta edição do Audioshow 2004 ficou marcada pela actuação ao vivo da diva extraterrestre Plavalaguna, não a do «5º Elemento», de Luc Besson, mas a da Bowers e Wilkins, também conhecida por BW 800 Nautilus, a coluna-caracol.


As Nautilus nunca antes tinham actuado em Portugal. Não são uma novidade mundial mas, na impossibilidade de enumerar as centenas de peças presentes, justificam plenamente o destaque.



MÃE-CARACOL

As Nautilus, inspiradas no molusco cefalópode com o mesmo nome, um fóssil-vivo cujos parentes viveram há 100 milhões de anos, são o orgulho da indústria áudio britânica. Galardoadas com o Prémio Milénio, foram exibidas no Pavilhão do Reino Unido, na Expo'98.


A BW alega que a estranha caixa das Nautilus é a primeira no mundo com «coloração-zero»: tanto a longa espiral como a curiosa cabeleira de «tubos» de diferentes comprimentos são «câmaras de absorção» da radiação traseira. Os complexos moldes da caixa foram concebidos em computador com a precisão do milímetro e fabricados em fibra de vidro e carbono reforçada com compostos acrílicos. Cada uma destas estranhas «criaturas» repousa sobre um bloco de granito de 50 quilos. Os altifalantes de liga de metal foram especificamente concebidos para este modelo, assim como os filtros divisores (externos). Cada uma das colunas utiliza quatro amplificadores: são «caracóis» de muito alimento! No caso vertente foram amplificadas pelos novos Classé Delta. Trata-se, como é obvio, de colunas caras (ao preço a que a libra está, devem andar pelos 15.000 contos!) e, mesmo assim, só se fabrica por encomenda.



SONS EXTRATERRESTRES

A Artaudio, distribuidora da BW, e o Alberto fizeram um bom trabalho: a sala tinha dignidade para receber a Mãe-Caracol. A iluminação estava perfeita e convidava à audição intimista. A decoração sóbria não distraia o ouvinte do essencial. Apraz-me assim registar que foi a minha melhor audição das Nautilus. Das duas vezes anteriores, respectivamente em Paris e Milão, acolitadas por electrónica Jeff Rowland, nem de perto nem de longe atingiram este nível: o silêncio intersticial é fantasmagórico e a cauda de reverberação, o chamado «decay», chega a ser emocionante, em especial com música antiga e piano. Quando o engenheiro de som coloca sobre o cenário acústico de abertura a voz «folk» de um solista alguns dbs acima, e ele parece surgir do nada no palco virtual entre as colunas, o «efeito de surpresa» provoca-nos um arrepio de prazer. As BW800 Nautilus podem soar «frias» e analíticas a ouvidos habituados ao tradicional «som de madeira» das caixas acústicas. Mas esta limpeza asséptica está prenhe de musicalidade e os graves são profundos e articulados ainda que sem a «visceralidade telúrica» e a «escala» dos pesos-pesados do highend. Só há um aparente ponto negro no rosto da perfeição: julguei ouvir um ligeiro «ringing» na gama média-alta típico de altifalantes metálicos. Mas pode ter sido apenas um problema do registo original que as Nautilus se recusaram a esconder debaixo do tapete...


Nota: Este texto publicado no DN no rescaldo do Audioshow contém excertos de outros textos já publicados no Hificlube

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