Delaudio950x225
Publicidade


2002

Projectar O Futuro



Dediquei uma vida ao som. Mas já não é possível fechar mais os olhos. O DVD com a sua dupla oferta de som e imagem veio revolucionar o entretenimento doméstico. Os audiófilos puristas são cada vez menos e muitos já desertaram para o outro lado do espelho. E são poucos os que regressam arrependidos. A imagem vídeo é a Medusa dos tempos modernos: olha-se e fica-se para ali petrificado. A imagem exige atenção. Total. Posso ouvir música e escrever ou ler ao mesmo tempo. Mas já não consigo escrever e ver um filme.


Contudo, atingi um tal nível de qualidade na área do som que um ecrã de televisão não é mais que um paliativo visual. Um bom plasma seria uma hipótese. Estão cada vez melhores, embora, salvo raras excepções, se mantenham os problemas ao nível do contraste - aos negros faltam nuances de cinzento. E aquelas imagens ultradefinidas são fantásticas mas falta-lhes ainda a «humanidade» - os tons de pele são falsos, irreais. Por outro lado, embora isto pareça uma contradição - um televisor é por definição bidimensional - os plasmas não têm profundidade, e refiro-me à imagem, porque a graça dos plasmas, ao contrário das pessoas, está exactamente em serem chatos.


Admito que não me importava de ter um plasma para ver o campeonato do mundo de futebol, se bem que adaptar uma imagem 4:3 ao formato 16:9 resulte quase sempre num estranho jogo de espelhos de feira popular: os jogadores parecem ganhar em largura e peso o que perdem em altura e elegância. Quando não lhes cortam mesmo a cabeça que, como se sabe, faz muita falta no futebol. Veja-se o Jardel.


No «Cinema em Casa», a qualidade das bandas sonoras em DTS exige uma imagem com pelo menos a mesma riqueza cromática do som. Quando a reprodução do registo tonal de um instrumento é fiel ao original, ouve-se melhor o que o intérprete pretende transmitir-nos, do mesmo modo que algo de tão surpreendentemente complexo de reproduzir, como a tonalidade exacta de vermelho de um simples semáforo, confere mais realismo à imagem, pois estamos habituados a vê-lo (há quem não veja!) no dia-a-dia.


Os melhores projectores continuam a ser os mamutes de três tubos de nove polegadas do tipo CRT - um para cada cor primária: vermelho, verde e azul. São pesados, enormes, caros, barulhentos, aquecem que se fartam e são difíceis de afinar - numa palavra são pouco domésticos. Ao longo dos anos, tenho assistido às vãs tentativas dos fabricantes para obter a mesma qualidade com apenas uma lente e diferentes tecnologias de amplificação/reflexão da luz: LCD (cristais líquidos), DLP (processamento digital da luz) e D-ILA (amplificação digital directa da luz).
Na CES2002, Las Vegas, a DLP deu um salto qualitativo enorme com a introdução de um novo «chip» da Texas Instruments de controlo digital dos cerca de 750.000 microespelhos que utiliza para reflectir a luz. E vi finalmente projectores «domésticos» com imagem cinematográfica de espantar - com a preciosa ajuda da Faroudja, claro (duplicação de linhas). Vivi quinze dias com um deles: Sim2 HT300. Mais algum tempo, e arriscava-me a desertar para o campo minado dos videófilos.
O Sim2 HT300 da série Grand Cinema utiliza a mais recente tecnologia de amplificação/projecção de luz e processamento digital da imagem vídeo (DLP. É italiano e tem um belíssimo design de Giorgio Rivoldini, da escola Pininfarina (pode até optar pelo vermelho Ferrari). Foi concebido a pensar no utilizador doméstico: é leve, silencioso (o som da ventoinha não passa de um sussurro morno), não tem fugas de luz para os lados (a respiração faz-se por baixo) e pode ser colocado numa posição elevada (ou até no tecto de cabeça para baixo), pois tem selector de inversão e compensação do efeito de trapézio, e bem atrás de nós, graças à concentração do feixe de luz, evitando-se a desagradável colocação entre o espectador e o ecrã. Todos os parâmetros são seleccionáveis por meio de controlo remoto (único senão: não é retroiluminado) com monitorização no ecrã.
A versatilidade do HT300 é apenas uma das suas virtudes: aceita todos os standards video (PAL, NTSC e SECAM) e é compatível com todas as fontes de sinal vídeo, incluindo as de alta-definição (480p, 720p e 1080i) tanto em 4:3 como 16:9 anamórfico. Pode também ser utilizado para projectar gráficos do seu computador com uma resolução de 1600 x 1200 pixels, mas foi especialmente concebido para o vídeo de alta qualidade. Até a temperatura de cor é regulável. Fundamental é ter um leitor-DVD com saída por componentes: pagar uma fortuna por um projector para ver sinais S-VHS é um desperdício. A opção DVI (digital video interface) será disponibilizada como upgrade.


Confesso que não estava preparado para ver cinema em casa com esta qualidade. Pela primeira vez vi no ecrã toda a escala de cinzentos antes só possível com um projector CRT. Com o HT300 um negro não desaparece no escuro indistinto do palco, continua lá: vê-se. É certo que a especificação para o contraste (1:1100) do HT300 bate o record mundial, mas isso não explica tudo. Num projector DLP, o contraste é mais importante que a luminosidade (800 AINSI lumens). Assim, a melhor imagem exige, hélas, uma sala completamente às escuras. Mas ver, por exemplo, «Moulin-Rouge», em DVD, no escurinho do cinema, projectado pelo HT300, é uma experiência maravilhosa: uma orgia de cores com especial incidência no vermelho - et pour cause. A perfeição colorimétrica do HT300 permite distinguir todas as «nuances» de cor presentes no filme, sem efeito de «arco-íris» ou pixelização, como o da gota de sangue que anuncia a morte trágica bailando sobre o batôn «rouge-cerise» nos lábios finos de Nicolle Kidman. Depois, é perdermo-nos no azul daqueles olhos, no brilho dos diamantes sobre a brancura marmórea da pele, na exuberância cintilante do rico guarda-roupa e na policromia dos cenários. Quase me esquecia de dizer que a banda sonora de «Moulin-Rouge» constitui um excelente complemento, tal o deslumbramento visual. Tudo isto sem pipocas, sem chatos a comentar o filme e engraçadinhos a mandar bocas. Sem falar no contraste entre os perfumes enjoativos e os sovacos agoniantes. A Kidman merece ser apreciada em silêncio respeitoso. Quase posso jurar que senti uma pluma afagar-me o rosto e, quando acendi a luz, encontrei uma lantejoula no fundo do copo de uísque.
Desde que o HT300 partiu, tenho andado angustiado. Consta que Tom Cruise confessou estar disposto a tudo para ter Nicolle de volta. Também eu.


Distribuidor: Videoacústica: 21 424 1770; email: [email protected]


Nota: Novo modelo SIM2HT300 Plus utiliza o novo «chip» Mustang DLP2 da Texas Instruments

Delaudio950x225
Publicidade