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2000

Msb Link Dac Iii: O Cavalo De Tróia



Em termos de marketing, o nome é um desastre, admito. «Link» e «DAC» são termos técnicos. Como técnica é a MSB Technologies, uma empresa californiana que projecta e monta equipamento profissional para profissionais. Resolveu envolver-se no áudio doméstico e o sucesso não podia ser maior. No fundo, hoje em dia, a tecnologia digital consiste num «concentrado» de «chips» disponível em qualquer mercado asiático, tal como a mão de obra barata. Os MSB são pensados na América, entre dois mergulhos e uma «surfada», e montados algures na China ao preço da chuva. Passa-se o mesmo com a roupa: se tiver etiqueta de um grande costureiro italiano custa os olhos da cara; sem a etiqueta finaça a mesma roupa vende-se ao quilo. O conversor da MSB Link DAC III é assim uma espécie de «Armani» da feira de Carcavelos. Acontece que é «autêntico» e, se tivesse na lapela um nome sonante, como Theta ou Mark Levinson, o audiófilo pretensioso comia e chorava por mais. O MSB custa pouco mais de cem contos. Comparei as notas de audição com a memória de audições de conversores de mil (contos!) e mais, como o dCS Elgar, e passei algum tempo a tentar justificar a mim próprio a enorme diferença de preço, que não de desempenho. Embora ela exista, ou o melhor seria arrumar já o computador e dedicar-me à pesca. Tal como previ há anos, os fabricantes de «high-end» atingiram primeiro o limite da perfeição possível com o CD. Ora, como não é possível ir muito mais além, a concorrência aproxima-se perigosamente. Não é por acaso que se procura agora impor o Super Audio CD como o novo padrão de referência. Mas o CD não vai ser fácil de substituir pelo que não vem mal ao mundo se tentarmos tirar dele o melhor partido sem ter de gastar uma nota preta.


Desde que a Audio Alchemy lançou as suas miniaturas digitais que um conversor «barato» não me surpreendia tanto. O MSB Link DAC III não é perfeito, e o leitor-CD Krell KPS28c que utilizei como transporte e termo de comparação cá está para o provar: tem outro poder no grave, outra solidez nos registos médios e aquela sensação cremosa de chantilly acabado de bater nos agudos, sempre que é chamado a cumprir a função integral de ler/converter os sinais digitais. Mas não conheço nada deste preço que se compare ao MSB no campo da demarcação territorial do palco sonoro e da defesa dos direitos fundamentais dos músicos que nele habitam, em termos de: privacidade, leia-se espaço; preservação da identidade individual, leia-se pureza tímbrica; e liberdade de acção, leia-se dinâmica e ritmo. E isto na sua expressão mais simples, isto é, como conversor de sinais digitais obtidos a partir de CDs vulgares (44,1kHz/16-bit). É que o MSB Link DAC III pode ir mais longe, alcandorando-se aos píncaros dos 96kHz/24-bit.


O Link DAC III é uma plataforma digital de 24-bit sobre a qual se pode montar toda uma série de «upgrades»: HDCD, Virtual Surround,... enfim, nada que um leitor-DVD de preço idêntico não ofereça hoje em dia, o que o remeteria para a prateleira das inutilidades bem intencionadas, não fora, além da superlativa qualidade de som (nenhum leitor-DVD lhe oferece esta qualidade de conversão áudio), um «aditivo» especial que, embora faça subir o preço para uns ainda razoáveis 150 contos, o coloca a par do famoso dCS Purcell: refiro-me, claro, ao módulo de «upsampling» que «puxa» os CDs para os 96kHz (ou 132kHz), como quem monta um «turbo» num motor. Já se sabe que isso não significa que vamos tirar mais informação do disco apenas melhor informação, porque com uma frequência de amostragem mais elevada é possível efectuar a maior parte da filtragem sob formato digital e utilizar filtros analógicos mais suaves, logo menos agressivos para a pureza do sinal áudio. A diferença não é muito grande, sou sincero. Mas então porquê passei eu a ouvir música apenas com o circuito de «upsampling» comutado? Porque com alguns discos me pareceu que as vozes soavam mais encorpadas, os graves mais articulados e os agudos tinham menos grão (ausência de jitter?). Uma pequena diferença que em áudio, diz-me a experiência de vinte anos, custa normalmente uma fortuna para obter.


Para isso só precisa de ligar o seu velho leitor-CD ao «DAC III» por meio de cabo óptico ou coaxial e este ao seu prévio ou amplificador integrado. Se possuir um leitor-DVD que deixe passar sem truncar sinal digital a 96kHz (como é o caso dos Pioneer e do Denon DVD-5000) pode ouvir DVD-A (Chesky e Classic Records) em toda a sua glória. Antes para os ouvir com esta qualidade precisava de um conversor dCS Elgar (ou Delius) que custa tanto como um Volkswagen Lupo (e pensar que ofereceram 150 contos pelo meu velho e impecável Honda Civic na compra de um Lupo).


Ora, sendo António José de Almeida, da Ajasom, o importador de ambos e, já agora, do Audio Analogue Puccini, que fez as honras da anterior crónica, não deixa de ser curioso que eu tenha encontrado numa boutique de áudio de alta-costura (Avalon, Conrad-Johnson, Spectral, etc.) o pronto-a-vestir que responde aos anseios dos leitores para quem tudo o que custa mais de 200 contos tem de ter rodas e motor. Por outro lado, sabendo que a Ajasom tem a defender as suas muralhas digitais marcas como dCS, EAD e Forsell, sou levado a pensar no MSB Link DAC III como um autêntico... cavalo de Tróia. Ponha-se a pau ò António!...

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