Nada se perde, tudo se transforma. Em 2003, publiquei no DN e aqui um artigo intitulado ‘Adeus Kempinski’.
O Kempinski era hotel de luxo, em Frankfurt, onde se realizou durante vários anos o High End Show ou ‘HiFi Among the Trees’, que se mudou, em 2024, para as instalações mais prosaicas e industriais do MOC, em Munique. Eis que 21 anos depois, com dois anos de interregno, devido à pandemia, o High End está de novo de malas feitas. Em 2026, vamos para Viena, de Áustria.
Este artigo não pretende ser uma reportagem exaustiva, mas apenas uma despedida, escrita ‘de ouvido’, pois vou colocando no papel; ou melhor, digitando, à medida que a minha memória me dita aquilo de que se lembra, sem recorrer a notas ou documentos. Depois, é só juntar fotos ou vídeos.
Nota: Nas reportagens individuais, por distribuidor/patrocinador, vamos ser mais exaustivos.
Adeus, Munique!
Nota: Vídeo com som direto captado por telemóvel, somente para dar ao leitor uma ideia da música que se ouviu em cada sala. Mais para a frente na reportagem, publicaremos vídeos com som captado com um gravador digital Nagra SD.
‘Gone with a bang’
Como dizem os anglo-saxónicos, ‘the High End is gone with a bang’. Em 2025, os distribuidores e fabricantes investiram no espetáculo de despedida. E, tal como num motorshow (por falar nisso, também iremos ao MotorWorld hoje), são os Ferrari e os Lamborghini que mais despertam desejos, aspirações e chamam todas as atenções. Assim foi no MOC, também.
Three Million Dollar System
O distribuidor alemão Audio Referenz, cujas representações correspondem grosso modo às da nossa Imacustica, costumava expor, em espaço aberto, as ‘bombas’ da Wilson e Dan D’Agostino, com algum cuidado estético (flores por todo o lado), mas em péssimas condições acústicas, com gente a passear por ali de saco de catálogos na mão.
Mas, este ano, investiu forte num auditório dedicado (e tratado pela nossa Vicoustic) para demonstrar o que apresentou como ‘The 3 Million Dollar System’, composto por fontes dCS, amplificação Dan D’Agostino Relentless Pre/ 4 x 1600 e colunas Wilson Audio WAMM+Subsonic. Ou seja, um sistema idêntico ao que ouvimos em 2019, na Imacustica, em Lisboa: Wilson Audio WAMM: uma experiência emocional.
A entrada dos visitantes era regulada por app, e a equipa do Hificlube.net, não só foi a primeira a entrar, logo na 5ª feira, como ficou sentada na ‘sweet spot’. Neste caso, não era assim tão ‘sweet’, pois as WAMM estavam muito afastadas entre si, e talvez o foco fosse melhor duas ou três filas mais atrás.
Por outro lado, talvez tivesse sido melhor ouvir o sistema, depois de bem rodado. Mas o desejo de informar prevaleceu sobre o desejo de ouvir. E assim, fomos dos primeiros a mostrar o sistema no Facebook, praticamente em direto, e depois no Hificlube.
Este é o tipo de sistema que basta olhar para ele para ficar impressionado. E, quando a sessão abriu com uma peça de Stravisnki, gravada ao vivo por Peter McGrath, uma senhora sentada ao meu lado deu um pulo, tal o impacto do timbalão. Seguiram-se mais algumas faixas de discos comerciais. Eu e o Pedro Henriques teríamos saído de lá ‘a bater mal’, como diria o meu saudoso amigo Eduardo Rodrigues (onde andas Eduardo?), não fora o facto feliz de já termos ouvido as WAMM, na Imacustica-Lisboa.
Na minha opinião, as WAMM tocaram ainda melhor em Lisboa, o que é natural, pois trata-se de um auditório de raiz, e não de um auditório improvisado. Talvez este sistema vá estar presente na inauguração das novas instalações da Imacustica-Porto. E, então, vamos poder ouvi-lo de novo e tirar-teimas.
Nota: voltaremos a este sistema na reportagem exclusiva sobre os produtos representados pela Imacustica presentes no High End 2025.

Dan D'Agostino e Peter McGrath
Grandes sistemas
Outros fabricantes/distribuidores não quiseram ficar atrás e demonstraram no MOC os seus sistemas de colunas topo.
E, por topo, entenda-se em termos de preço e tamanho, mas nem sempre com os melhores resultados. Num show com estas características é mais fácil obter bons resultados com colunas pequenas, como veremos mais à frente.

Acapella Hypersphere
Absolutamente impressionantes: na estética, na tecnologia, no poder. Um sistema excessivo em tudo. Até parecia que eu estava dentro da garganta do Leonard Cohen. Sinceramente, não era capaz de (con)viver com elas em casa.

Avalon Saga signature
Classe pura. O som high-end como ele deve ser tocado e ouvido. Com amplificação Doshi.

Aries Cerat
Em 2024, demonstraram as monumentais Contendo. Este ano foram mais ‘modestos’ e apresentaram as Pallas, um sistema de 4-vias semi-ativo com 16 altifalantes de graves! Das colunas ‘esquisitas’ estas são das poucas que tocam música. Mas só de pensar em olhar para elas durante horas dá-me vómitos!

Burmester
Tal como a MBL e a Transrotor (em baixo), a Burmester é um dos ex-libris do áudio alemão. Apresentou a nova Reference Line, composta pelo prévio 249, o amplificador estéreo 259, e este discreto gira-discos 257.

Cessaro
Mudaram de sala, e o som mudou – para pior. As Cessaro Horn Acoustics Beethoven II F4 não me convenceram desta vez. Eis a prova de que há demasiadas variáveis num show para se poder fazer uma avaliação séria da qualidade do som de um sistema. Esta constatação é extensiva a todas as minhas opiniões nesta secção, que devem ser lidas com uma pitada de sal. Porque muito pode depender da sala ou da música selecionada: e os alemães adoram ouvir percussões eletrónicas. De facto, os asiáticos compraram a maior parte das grandes marcas europeias: até a suíça Goldmund é agora chinesa!...

Clarisys Atrium
Dizem-se herdeiras das Apogee. Eu tive três pares de Apogee (Calypso, Duetta e Duetta II) e sei do que falo: Perdoa-lhes, Senhor, porque eles não sabem o que dizem.
Numa sala enorme, as colunas-de-ribbon Atrium ofereceram um dos piores sons do certame. Aliás, nem percebi bem o que se pretendia provar com esta demonstração. Jason Blum, da Apogee, deve estar às voltas no túmulo.

ESD Phoenix System
ESD
Desta vez mandaram as Phoenix em vez das Dragon. Menos espetaculares, no aspeto, imponência e preço. Igualmente más na reprodução de música.

ESD Horn E20
E fizeram-se acompanhar das Horn E20, uma espécie de antenas parabólicas decoradas com motivos da cultura chinesa.

IO Design
As IO Design Naked são fortes concorrentes ao pior som de Munique. São colunas open-baffle com estrutura metálica. Mas eu só consegui ouvir graves e médio-graves. Cheguei a pensar que os tweeters-de-fita estavam pifados. Para esquecer.

Kharma
Já ouvi as Enigma Veyron 2D tocarem melhor, em anos anteriores (este ou outros modelos). Não parecer ter havido o mesmo cuidado na apresentação e na montagem. Nem na seleção musical!...Mas são, de facto, enigmáticas e belas.

MBL 101 Xtreme MkII.
MBL
Talvez a melhor audição que fiz das MBL 101 Xtreme MkII. Era capaz de viver com este sistema omnidirecional. Tudo soa bem: de frente ou de lado, e até por trás!
Nota: Voltaremos a elas, na reportagem da Ajasom.

Western Electric Snell Horn Cinema
Western Electric
São como o Vinho do Porto. Como é possível umas colunas de 1928 tocarem música desta maneira? As Western Electric Snell Horn Cinema foram um dos grandes sons do High End 2025, passados quase 100 anos. Temos andado a fazer o quê?

YG Acoustics Gemini
YG Acoustics Gemini
Fui ouvir as YG Gemini numa demonstração especial no MotorWorld. Estavam no sítio certo. Caramba, são uma bomba! Aquilo é o Ferrari das colunas YG. As melhores colunas YG que já ouvi! Ponto. Até tive medo de perguntar o preço. A música selecionada nem por isso, mas gostos não se discutem.
Pequenos sistemas, grandes sons
Electrocompaniet/Revival Audio
Sem tweeters de berílio ou caixas de carbono, apenas um caixote de sabão com altifalantes vulgares aparafusados no painel frontal, as Revival tocaram muito bem com amplificação Electrocompaniet.

Epos KIM 21
Epos KIM 21
As Epos KIM 21, da Fink Team, são a coluna comemorativa dos 21 anos do High End, de Munique. Fabricaram apenas 21 pares e custam 15 mil euros. Mas tocam muito bem.
Nota: Voltaremos a elas em pormenor, com apresentação em vídeo exclusiva na reportagem da Ajasom.

Kii Seven
Kii Seven
De pequenino se torce o pepino. E as pequenas Seven tocam como gente grande, agora sem fios e em alta resolução. Um som poderoso, equilibrado e, sobretudo, focado.
Nota: Voltaremos a elas em pormenor, com apresentação em vídeo exclusiva na reportagem da Ajasom.

Lindemann Source II, Combo, Move+Groove
Lindemann
Source II, Combo, Move+Groove. Um sistema pequenino, baratinho, muito acessível, com um som inacreditável! Nota: Voltaremos a elas na reportagem exclusiva da Imacustica.

Magico S2
Magico S2
As Magico S2 (sem subs) encheram a sala com um som de grande categoria, com amplificação Pilium e fontes Wadax. É certo que vi por lá um Oladra, mas não justifica tudo. Uma sala bem tratada acusticamente faz toda a diferença.
Nota: Voltaremos às Magico S2 na reportagem exclusiva da Imacustica.

TAD Evolution Two
TAD
As Evolution Two são pouco menos que fantásticas. Que ataque! Que dinâmica! Que resolução!
Nota: Voltaremos às TAD na reportagem exclusiva da Exaudio.

Transrotor
A coleção de gira/discos Transrotor merece ser vista ainda mais do que ouvida. Fazem sempre grande sucesso de público no MOC, onde não tocam, apenas giram. As razões do sucesso são óbvias (veja a foto)
Coisas esquisitas

Once Custom Sound Nur
Once Custom Sound
Colunas de corneta esbeltas e elegantes. O modelo-de-chão Nur é uma interessante representação do moderno ‘design’ turco. Talvez um pouco ‘bizantinas’ para o meu gosto.

Stones 593 Titania
Stones 593 Titania
Talhadas na pedra natural (Trachite euganea) à força de martelo e escopo pelo escultor italiano Michell. São um pouco toscas no acabamento, mas isso parece estar na moda: vejam-se os produtos nacionais da Cinnamon Audio. Não as ouvi. Apenas vi – e registei. Uma coisa garanto: não têm colorações de caixa…
Gira-discos
São às dezenas, assim como as colunas de corneta e os amplificadores com válvulas estranhas. Eis alguns exemplos:
Os lusitanos

A Innuos, que junto com a Vicoustic, é a empresa de áudio nacional com mais projeção internacional, apresentou o Server Nazaré. Fui ouvir, e gostei. E elogio a coragem da Innuos para surfar as ondas gigantes do mercado do highend. Vou ter de ouvir com mais tempo e atenção.

Innuos Nazaré Streamer
Headphone World
Um mundo à parte. De silêncio. De intimidade. De privacidade. E também de obsessão. Vi por lá tipos que colocaram na cabeça (ou dentro dos ouvidos) todos os auscultadores disponíveis. E eram muitos! São uma moda.
Entrei de câmara em punho no auditório da Meze e lembrei-me logo de uma sala de chuto, meio às escuras, com as pessoas em transe a ouvir os diferentes modelos.

Sobretudo os SILVA! E não é uma homenagem ao mais comum dos apelidos portugueses. Silva em romeno significa ‘floresta’, ‘árvore’. E a caixa dos auscultadores SILVA é de… madeira. Topam?
Nota: voltaremos aos diferentes modelos na reportagem exclusiva dos respetivos distribuidores ibéricos.
Já sinto saudades de Munique. Aqui conhecia o endereço de cada marca e modelo e quais as salas que soavam bem. E também onde se comia bem. Para o ano, em Viena, vamos ter de ‘apalpar terreno’ novamente. Por outro lado, já não vou sentir aquela sensação de ‘déjà vu’, quando as mesmas pessoas (só que mais velhas) demonstravam os mesmos sistemas, na versão Mk qualquer coisa, tocando na mesma sala as mesmas músicas de sempre.
Nota: Voltem ao Hificlube diariamente para seguir a reportagem nas próximas duas semanas. Quando parece que já tudo foi dito, mostrado e analisado, há sempre qualquer coisa diferente para divulgar.