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A versão moderna do Musical Fidelity B1 é um choque de adrenalina para a sua música por apenas 699 €.
Nos arquivos sentimentais da Musical Fidelity, a letra A terá sempre lugar cativo, gravada a fogo nos dissipadores (quase) incandescentes do lendário A1 de 1985. Um pequeno amplificador integrado em Classe A, com 25 W de ternura sónica, que conquistou os corações dos audiófilos mais sensíveis — e as prateleiras das lojas, até falecer de calor.
Foi reeditado, em 2023, com os mesmos circuitos, mas melhor ventilação e componentes mais robustos, para a chama voltar a arder sem queimar as ‘sardinhas’.

Musical Fidelity A1 (reeditado em 2023)
Nota: leia aqui o teste do Musical Fidelity A1 (remake de 2023).
Menos célebre, mas não menos relevante, o B1 original, lançado pouco depois, quis democratizar essa filosofia musical, oferecendo uma versão mais acessível e convencional (Classe AB), mas ainda assim fiel ao espírito de musicalidade quente, arredondada. Pouco hi-fi e muita música.
O regresso do B1
Agora, em 2025, a Musical Fidelity faz regressar a série “B” com o B1 xi — que, ao contrário do novo A1 (fiel ao original até na topologia), é um projeto inteiramente novo, com outras ambições, outros circuitos e outras funcionalidades. Uma espécie de B1 revisto à luz da era digital — mas sem perder o sotaque analógico britânico de origem. Tudo a um preço acessível de 699 €.

Musical Fidelity B1 xi sem tampa
Ao contrário do A1 reeditado, que se mantém teimosamente em Classe A pura, o B1 xi opta por uma abordagem mais pragmática: 50 W por canal em 8 ohms, 100 W em 4 ohms, com uma topologia Classe AB generosa, alimentada por um transformador toroidal sobre-especificado — como manda a cartilha de Antony Michaelson, mesmo em tempos pós-Michaelson.
A Musical Fidelity nunca revela os segredos dos seus circuitos, mas quem conhece a casa pode esperar uma arquitetura discreta, com componentes selecionados, percurso de sinal curto e estágios bem desacoplados, tudo em nome da linearidade e da estabilidade térmica.
O aspeto exterior confirma-o: o 'chassis' é sólido, o painel frontal em alumínio escovado exibe só o essencial: pequenos botões de seleção de fontes analógicas e digitais ladeiam o enorme botão de controlo de volume. De resto, apenas o discreto logotipo da marca e a saída para auscultadores — sem exuberâncias, sem ecrãs, sem menus. Um amplificador como se fazia antigamente. Mas, ao contrário do Rotel A8, que testámos na semana passada, o B1 xi tem portas de acesso ao mundo moderno.

Musical Fidelity xi: painel traseiro
Bem-vindo ao século XXI
A ficha técnica do B1 xi é bastante completa para um aparelho que se apresenta com tamanha discrição. Há três entradas analógicas RCA — uma delas phono MM — e um DAC interno de qualidade respeitável, alimentado por entradas coaxial, ótica e HDMI ARC, o que permite ligar-lhe tanto um leitor de CD como um televisor ou streamer moderno.
Mas há mais: Bluetooth integrado, com suporte para aptX HD e uma saída de auscultadores frontal (6,3 mm), que surpreende pela autoridade com que alimenta modelos exigentes. Há ainda uma saída Pre-Out, para quem quiser ligá-lo a um amplificador de potência externo ou a um subwoofer ativo. Em suma: está lá tudo o que se espera de um amplificador moderno — mas sem comprometer a pureza da via analógica.
O B1 xi é um verdadeiro choque de adrenalina na sua música!
Choque de adrenalina
Acabara de testar o Rotel A8, o qual é a imagem da tranquilidade. Quando o substituí pelo B1 xi, foi um choque. O B1 é puro Michaelson, embora ele já não seja responsável pelas criações da Musical Fidelity, que espelham agora a energia de Heinz Lichtnegger, CEO da Pro-Ject e novo dono da MF.
Bastou avançar um quarto do percurso no controlo de volume e as colunas Radiant Acoustics 4.2, que eu também utilizei com o A8, deram um salto dinâmico. O B1 xi é um verdadeiro choque de adrenalina na sua música!
O som não é tão neutro como o do A8, mas é muito mais dinâmico, vivo e poderoso. O B1 xi é mais caro, mas oferece DAC e Bluetooth, enquanto o A8 é analógico-puro. Não são, portanto, concorrentes diretos por lutarem em categorias diferentes.

Musical Fidelity B1 xi: a imagem do presente e a filosofia do passado.
Vamos ouvir
- Em Norwegian Wood, do álbum Rubber Soul, dos Beatles, na versão remasterizada em 2009, revela-se a delicadeza da cítara de George Harrison e a leveza da voz de Lennon com uma textura quase tátil. A madeira da guitarra parece mesmo ressoar na sala, sem colorações ou artifícios.
- Com Kerala, por Bonobo, o Bi xi mostra a sua face mais rítmica, surgindo com batida firme, graves secos e definidos, sem perder a fluidez dos loops vocais etéreos que sobrevoam o plano central. Não há saturação, nem nevoeiro: há tensão dinâmica e controlo.
- Em ‘No Surprises’ dos Radiohead, o B1 xi revelou uma percussão sólida e um baixo cheio de corpo, sem afetar o ambiente melancólico, envolto num manto de silêncio tenso entre cada compasso, com as teclas a iluminarem a voz soturna como uma caixa de música. O B1 xi não dramatiza nem suaviza. Limita-se a reproduzir a faixa com a fidelidade emocional possível dentro da sua categoria de preço. No alarms, and no surprises here, como cantam os Radiohead.
- E, por falar em preço, em ‘Money for Nothing’, dos Dire Straits, a introdução icónica da bateria e o ataque mordaz do riff de guitarra são debitados com firmeza e impacto q.b., sem nunca soarem agressivos, antes excitantes, como se dissessem: ‘Lemme tell ya, them guys at Musical Fidelity ain’t dumb!
O palco sonoro é estável, bem dimensionado, com boa separação entre instrumentos e sem colorações evidentes. Há ali um equilíbrio tonal, que tanto respeita a beleza da simplicidade como sustenta a força da complexidade.
Comparado com o novo A1, o B1 xi soa menos quente, pois claro. E menos ‘romântico’ — mas é mais poderoso, mais versátil, mais apto a lidar com gravações contemporâneas e colunas menos dóceis. Onde o A1 cativa pelo perfume musical, o B1 xi convence pelo músculo dinâmico.
Conclusão: B de Best Buy
O Musical Fidelity B1 xi não pretende ser um tributo nostálgico, e não tenta replicar o passado como o A1. É, antes, a continuação lógica de uma linhagem, redesenhada para o presente. Mantém a assinatura sonora que tornou a marca respeitada entre melómanos — mas agora oferece conectividade, potência e polivalência dignas da década em que vivemos. Tudo a um preço acessível.
É, por isso, o amplificador ideal para quem quer casar tradição e modernidade, vinil e streaming, musicalidade e funcionalidade — sem cair em modas, nem pagar por extras que nunca se ouvem.
Como diria Shakespeare, se tivesse vivido para ouvir ‘jazz’ escandinavo em 24 bits: ‘B1 or not B1 that is no longer the question — The B1 xi is now the answer’.
Para mais informações, contacte o distribuidor ibérico:
Ou o seu revendedor local: IMACUSTICA, JLM