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Wattson Madison LE + Madison Amplifier – Navegando no Oceano da Música Digital

Wattson Madison - Cover.jpg

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Elementar? Diga antes exemplar. O duo Madison parece compacto, mas é a via mais acessível para o high-end suíço: tempo certo, textura fina e autoridade sem exibicionismo.

O high-end suíço é caro: basta pensar na CH Precision, Nagra e Soulution. E é exclusivo também: a DarTZeel agora só vende por encomenda, com entrada substancial obrigatória. Não é só para quem quer, é para quem pode.

Ora, como não são muitos os que “podem”, a Wattson Audio, nascida com genes da CH Precision, surge como o caminho possível para o high-end suíço. Apesar de compacto e discreto — sem o “fogo-de-artifício” de ecrãs OLED e botões coloridos —, o duo Madison streamer/DAC + amplificador custar-lhe-á, respetivamente, 4 995 € e 6 495 €. Não é, portanto, barato. E, com a concorrência asiática feroz a oferecer muito por menos (veja-se Eversolo e HiFi Rose), como justificar o preço?

O tempo e o espaço

Um relógio digital dá-nos o tempo; um relógio analógico dá-nos o tempo e o espaço: ou seja, a representação geométrica do tempo que passou e do que falta passar.

Daí até um objeto que lê o tempo se transformar num objeto intemporal, de elevado valor e estatuto, foi um pequeno passo para o homem e um grande passo para a humanidade: tinha nascido a relojoaria de luxo suíça. O mesmo aconteceu com a roupa, os automóveis e, claro, o áudio — que no mercado high-end atinge hoje preços estratosféricos.

Neste contexto, a Wattson Audio é uma tentativa de tornar a tecnologia da CH Precision mais acessível (passe a contradição, pois o high-end é, por definição, exclusivo e caro).

Madison LE

“Lounge Edition” (e não Limited Edition) — é uma versão musculada do Madison original. Mas o essencial mantém-se:

Andar digital: eterna melodia

  • DAC dual Wolfson WM8742 (um por canal); PCM até 32/384 e DSD256 pela rede; 24/192 em S/PDIF; sem MQA.
  • Clocking com osciladores dedicados para os múltiplos de 44,1/48 kHz.
  • DSP SHARC com upsampling e filtro “short-tail/spline” focado no comportamento temporal (mínimo de pré/pós ringing ).
  • Processador LEEDH para atenuação digital de volume, concebido para minimizar perdas audíveis e manter linearidade a baixos níveis.
  • Motor de streaming próprio em TI Sitara (ARM); Roon Ready (RAAT), Qobuz Connect e Tidal Connect; UPnP/DLNA para Audirvana; Ethernet (sem Wi-Fi).
  • App de controlo para Android/iOS (funcional, mas básica em Android).

Analógico: onde o LE se distingue

  • Circuito totalmente diferencial, com dois pares de op-amps por canal.
  • Alimentação reforçada (reserva/filtragem aumentadas) e componentes premium nos pontos críticos (p. ex., condensadores de acoplamento).
  • Resultado audível: fundo mais negro, microdinâmica mais óbvia e maior autoridade quando ligado diretamente por XLR ao amplificador.

Arte trapezoidal

O LE apresenta-se numa caixa robusta, maquinada a partir de um bloco sólido de alumínio para eliminar ressonâncias e vibrações, com perfil trapezoidal e uma pendente suave. O acabamento cinzento-claro mate reforça a sobriedade, enquanto as três estrias e o logótipo gravado na tampa completam o conjunto.

  • Frente — sem ecrã tátil; apenas o botão rotativo de volume, ladeado por um semicírculo de LEDs de estado âmbar, mais quatro LEDs de estado (Power, Coax, Tos, Net) e saída jack de 6,35 mm para auscultadores.
  • Traseira — entradas RJ45 (Ethernet) e S/PDIF (coax/ótica); saídas XLR e RCA. Sem USB/HDMI. Opção por ligação UpNP.

Contacto íntimo (com auscultadores)

O Madison LE é um streamer/DAC de elevada qualidade — não é um headamp de alto débito. Com os Austrian Audio ‘The Composer’ (dinâmicos-abertos), tocou sem esforço: som carnudo e dinâmico, graves profundos e redondos, agudos contidos, quase crepusculares, mas ricos em nuances harmónicas. Registos médios próximos da perfeição: as vozes soam presentes, naturais e humanas, sem ‘trejeitos’ mecânicos.

Contudo, o amplificador de auscultadores do LE não substitui um amplificador dedicado de elevada potência quando se trata de planar magnéticos difíceis, como os HIFIMAN HE1000 (originais).

A Wattson declara para o headamp do LE: ≈150 mW/32 Ω, ≈50 mW/150 Ω e ≈10 mW/600 Ω (teto prático ~2,2 Vrms / ~68 mA a 32 Ω). Transposto para 35 Ω (HE1000), o máximo ronda ~140 mW, curto para picos dinâmicos com música real.

Considerando os 90 dB/1 mW dos HE1000, para ~115 dB (pico) seriam necessários cerca de 316 mW. A potência disponível não se reflete apenas no SPL, mas também na dinâmica e no controle do grave (como já experimentei com o notável amplificador de auscultadores Riviera AIC-10 BAL, também distribuído pela Ajasom).

Wattson Music Controller

A app Wattson Music é algo incipiente: cumpre o básico (fontes/volume) e tem um equalizador com três predefinições (Free Field / Near a Wall / In a Corner). É preferível usar Roon, Audirvana Studio ou Qobuz/Tidal Connect. BubbleUPnP ou mConnectLite (grátis) são ainda alternativas.

Roon e Audirvana

O Madison LE funciona na perfeição com Roon, Audirvana Studio (Prémio EISA 2025-26 “Music Playback Software”), Qobuz e Tidal Connect, sendo imediatamente reconhecido pelos respetivos softwares. Notei algumas diferenças: Roon parece ter mais energia no agudo; Audirvana soa mais linear.

O DAC do LE reproduz DSD128 sem problemas com ambos os softwares. Com DSD256, o Roon reproduz em modo nativo; o Audirvana faz downsampling para PCM 176,4 kHz, porque envia DSD256 via DoP (DSD over PCM) e isso exige um carrier PCM 705,6 kHz, quando o Madison não vai além de PCM 384 kHz pela rede. Mas, como, na prática, Qobuz/Tidal fazem ‘streaming’ a um máximo de resolução de 24/192 e os arquivos DSD256 são raros, isto não passa de uma discussão académica. De resto, Audirvana soa muito bem e é mais barato que o Roon.

LEEDH

É um algoritmo de atenuação no domínio digital (também utilizado por outras marcas). O seu objetivo é minimizar perdas audíveis e preservar a linearidade em níveis baixos, funcionando no DSP antes do DAC.

Se lhe parecer lento, isso deve-se à rampa anti-zipper (ruído de comutação), agravada pela latência da rede/aplicação; o controlo no painel frontal parece mais ágil. Além disso, evite a atenuação dupla (LEEDH mais normalização de volume na aplicação de streaming).

Amplificador Madison

  • Construção e design: estética espartana a condizer com o LE: chassis fresado em alumínio maciço, arestas chanfradas, perfil trapezoidal, para melhor rigidez, blindagem RFI e dissipação natural. 
  • Dimensões: 216 × 300 × 87 mm, 6,0 kg; só possível porque a fonte externa 36 V DC / 350 W vem num “tijolo” à parte.
    Frente: apenas um botão: toque longo liga/desliga; toque breve alterna RCA/XLR e Mute.
  • Traseira: bornes de colunas de boa qualidade; RCA/XLR; entrada DC; e três “toggles”:
    • Modos de saída: estéreo, bi-amplificação vertical e mono
    • Seleção de impedância: 8 / 4 / 2 Ω
    • Seleção de ganho: 20 dB ou 26 dB 
  • Há ainda porta Ethernet exclusivamente para atualizações de firmware (não é necessária para tocar música).
  • Ficha técnica — amplificador classe AB de baixo feedback, totalmente discreto e simétrico/dual-mono, com bipolares de alta potência por canal; 2 × 50 W/8 Ω, 2 × 75 W/4 Ω, 2 × 120 W/2 Ω; largura de banda 1 Hz – 400 kHz (-3 dB); SNR-A >120 dB; THD+N <0,05%; impedância de entrada 100 kΩ.

Mas quem melhor que Alexandre Lavanchy para nos apresentar o Madison AMP?

Mãos na massa

Com o LE ligado ao AMP por cabos Nordost Valhalla (XLR); e este às colunas com cabos Inakustik curtos e baratos, o som melhorou com a opção pela impedância de saída nos 4 Ω e o ganho nos 26 dB. As Sonus faber Concertino G4 e as Radiant Acoustics Clarity 4.2 são colunas monitoras pequenas, mas gostam de corrente: dois amplificadores em mono seriam a solução ideal. Outra alternativa é optar por colunas de alta sensibilidade (DeVore Fidelity, Blumenhofer Acoustics, etc.).

O Wattson Amplifier soou como extensão natural do LE: sereno, composto, linear, com um requintado halo “valvular”.

O Wattson Amplifier soou como a extensão natural do LE: sereno, composto, linear, com um requintado halo acústico “valvular”; e mostrou ter mais energia nos agudos e melhor controlo do grave que o LAB12 mighty, fazendo jus à sua natureza de estado sólido.

Elementar, meu caro Wattson LE

Eis uma frase que Arthur Conan Doyle nunca escreveu assim. Mas eu também digo que é elementar, caros leitores. Pois, se tivesse de escolher entre os dois, optava pelo LE — não pela sua ergonomia, mas pela harmonia musical e pela empatia com amplificadores a válvulas. Contudo, admito que este duo trapezoidal é atualmente a única forma “acessível” de comprar high-end suíço.

Vá ouvir ambos na Ajasom — ou aproveite uma viagem aos Alpes suíços para os conhecer. É tudo uma questão de apreciar a Natureza e levar a Música no Coração…

Para mais informações, contacte - AJASOM

Wattson Madison Cover


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