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Reviews Testes

Audioquest Nighthawk

Em Agosto, enquanto uns se acotovelam para ouvir música nos festivais, eu assisto solitário ao concerto dos Nighthawk. Quem apostam que tem melhor som?...

Audioquest é um dos mais famosos fabricantes americanos de cabos audiófilos. Nighthawk é a sua primeira – e bem sucedida – incursão no território dos auscultadores, depois do sucesso do Headamp-DAC Dragonfly e do mais recente ‘filtro’ Jitterbug (Nota: ambos os testes estão disponíveis na secção Reviews/Testes do Hificlube).

Enquanto os leitores estão de merecidas férias, eu trabalho. Agosto é um mês calmo para os críticos de áudio. Não há shows, os produtos novos – e interessantes - são poucos, muitos distribuidores fecham a loja e as cidades esvaziam-se, e compensam a fuga dos residentes com hordas de turistas tut-tuc colina acima, tuc-tuc colina abaixo, selfando-se, twitando furiosamente e ouvindo música com supositórios espetados nos ouvidos ou auscultadores que se confundem com as bandoletes coloridas de segurar o cabelo, enquanto aguardam a vez na fila dos pastéis de Belém, o corpo exposto lagostando-se de sol rosa-choque, antes de se lambuzarem de creme e canela com que registam as impressões digitais nos poucos postais ilustrados que sobreviveram ao Whatsapp, Instagram e Facebook.


Sem a pressão da época alta, que começa em Outubro, e o mercado a banhos, dedico-me a coisinhas mais leves e inovadoras: os auscultadores Nighthawk, da Audioquest, por exemplo, que, como o nome indica, ‘caçam de noite’, quando a família dorme no ninho.


Nos últimos anos, os auscultadores passaram de acessórios de recurso esporádico a componentes essenciais de um bom sistema de reprodução áudio. Nunca como agora houve tanta oferta de marcas, modelos e diferentes tecnologias de transdução, dos mais vulgares ‘dinâmicos’ aos ‘híbridos’ e ‘ortodinâmicos’ ou ‘planarmagnéticos’ e electrostáticos.


E pensar que tudo começou com a moda dos ‘supositórios’ utilizados pelas tribos nómadas urbanas, que se deslocam nos transportes públicos isoladas do mundo que as rodeia, sinalizando a sua presença com aquele tss-tchh incómodo e incompreensível para quem só ouve da música a franja de frequências altas que escapa impertinente do canal auditivo alheio.


Estes jovens cresceram e multiplicaram-se, tornaram-se mais exigentes mas não perderam o hábito de ouvir música com auscultadores. Há outras razões, claro: práticas (de espaço), económicas (de preço, em comparação com colunas de som); e sociais, como poder ouvir música alto sem incomodar familiares e vizinhos – não que eles nos respeitem a nós: mora aqui ao lado uma tribo do hip-hop e do rap lusíada...


Era uma questão de tempo até os fabricantes de áudio highend introduzirem o factor ‘qualidade audiófila’ no conceito de auscultadores, explorando este vasto manancial de potenciais consumidores que definham em outras áreas mais nobres.


Tal como na indústria de calçado, a moda dos ténis em nada afectou o mercado dos sapatos de luxo, fabricados à mão, utilizando os melhores materiais e com design exclusivo; pelo contrário, potencia-o e copia-o: vendem-se ténis com diamantes incrustados...


Daí à inevitável inversão de valores que as modas sempre acarretam vai um passo, sobretudo quando são acompanhadas por um boom de vendas que as justificam. Hoje abundam no mercado do áudio modelos de auscultadores exóticos na construção e no modo de transdução que são tudo menos práticos (enormes, pesados e pouco portáteis) ainda menos sociais, pois sendo do tipo aberto, deixam ‘passar a música’ tal como os supositórios primordiais; e nada económicos, apresentando-se com preços de mercado superiores aos de muitas colunas.


Nota: ver artigos relacionados


O que se ganhou e muito foi na qualidade de som que, em muitos casos, é superior ao de colunas de som dez vezes mais caras, ao afastar-se da equação o efeito-de-sala e as perdas em função da distância ao ouvinte, permitindo utilizar altifalantes ultraleves e membranas ultrafinas e sem massa, cuja velocidade de resposta, riqueza de detalhe ínfimo, surpreendente reprodução de graves e ausência quase total de distorção envergonham muitas colunas famosas.


Perde-se, é certo, a sensação física de ‘impactância’, passe o termo, e ‘espacialidade’, embora tanto num caso como noutro seja em parte uma questão de adaptação fisiológica e psicológica.


Neste contexto, lançar um novo produto que se destaca imediatamente da concorrência num mercado inflacionado, exige um projecto de base bem concebido e desenvolvido, tanto no plano técnico como comercial.


Audioquest Nighthawk

Audioquest Nighthawk, auscultadores de categoria highend a um preço razoável.

Audioquest Nighthawk, auscultadores de categoria highend a um preço razoável.

Há 3 aspectos fundamentais que distinguem o Nighthawk da concorrência, ao nível da construção: o design, a mecânica e os materiais.


O ‘falcão’ consegue o feito raro de integrar graciosamente linhas clássicas num design futurista e original. As cápsulas são ovais e envolvem as orelhas sem apertos ou constrangimentos. A maciez de veludo da pele sintética (à base de proteína?) das almofadas fofas e a elasticidade da bandolete torna-os fáceis de colocar e confortáveis e agradáveis de utilizar, até porque são também leves e deveras bonitos.


A leveza não é, pois, apenas física é também visual: a engenhosa suspensão, que permite o ajustamento fino constante da colocação, parece suspender as cápsulas no ar, ainda que os quatro eixos de apoio suscitem algum receio de fragilidade (o material flexível é à base de silicone e garantidamente resistente, mas não convém forçar muito).


Os auscultadores são do tipo semi-aberto, com um ‘respirador’ circular – que suporta a suspensão - protegido por uma grelha biomimética, isto é, que copia a natureza, regulando a impedância do acoplamento com o ar exterior. O relevo particular da grelha, obtido por tecnologia 3D, foi buscar a inspiração às asas das delicadas borboletas talvez para contrastar com a rapacidade do falcão.

O desenho especial da grelha biomimética foi concebido com tecnologia de impressão 3D.

O desenho especial da grelha biomimética foi concebido com tecnologia de impressão 3D.

Aliás, uma grelha com uma função semelhante, já tinha sido utilizada pela Philips no modelo Fidelio L1, ainda que sem este delicioso elemento lepidopterológico, que é mais marketing que ciência. As cores das asas das borboletas resultam da forma como reflectem a luz, pois não contêm qualquer pigmento, portanto as cores não são reais.


O padrão da grelha também parece mudar com a reflexão da luz, embora aqui o objectivo seja o oposto: o que se pretende é a ausência de coloração (no som).


Si non è vero è bene trovatto, e o departamento de marketing da Audioquest está uma vez mais de parabéns, depois do Dragonfly e do Jitterbug (Nota: ver testes disponíveis na secção Reviews/Testes ou em Artigos Relacionados), temos agora o falcão com asas de borboleta...


Dos quatro elementos fundamentais: ar, fogo, terra e água, é o ‘ar’, portanto, o elemento que define este produto, daí talvez a escolha de nome de ave – nocturna e solitária, como é por norma a audição com auscultadores.

As cápsulas dos Nighthawk são fabricadas em madeira líquida de base celulósica, que permite a moldagem e controla as ressonâncias.

As cápsulas dos Nighthawk são fabricadas em madeira líquida de base celulósica, que permite a moldagem e controla as ressonâncias.

A Audioquest é o primeiro fabricante a utilizar ‘madeira líquida’, um material composto sustentável de origem vegetal (desperdício celulósico de pasta de papel) para moldar as cápsulas dos auscultadores. À vista e ao tacto deixam-nos na dúvida sobre se são fabricadas em plástico ou em raiz de nogueira polida.


Curiosamente, o som parece ter um agradável ‘toque’ de madeira, embora a unidade activa seja composta de material biocelulósico, leia-se papel tratado, com um cone ultraleve de resposta rápida para os registos médios e agudos, e suficientemente rígido para poder suportar a opção pelo grave carnudo graças ao 'motor' Tesla.

Os cones dos altifalantes são fabricados com um material biocelulósico extra leve e rígido.

Os cones dos altifalantes são fabricados com um material biocelulósico extra leve e rígido.

Os Nighthawk vêm acompanhados por dois cabos longos, um mais fino para utilização portátil com jack de 3,5mm; e outro mais pesado para utilização doméstica, com um adaptador de 6,35mm, ambos forrados a tecido e de excelente qualidade de construção, como é lógico esperar da Audioquest.

Last but not the least, quando me olho ao espelho com eles colocados, não me sinto ridículo, como acontece com outros modelos que testei recentemente, e que, apesar da excelência do som, pesam tanto que parece que nos estão a dizer: no pain, no gain. Queres bom som? Aguenta-te aí com 600 gramas em cima da cabeça durante horas!...


Pese embora o nome bélico decalcado do helicóptero de guerra Blackhawk, o Nigthhawk não é um instrumento de tortura audiófila ou uma arma de guerra. O ‘falcão’ voa alto e dá asas à tua música!...


O voo do falcão

Eu sei que os auscultadores não devem ser provados em ‘verde’. Mas a tentação é grande. Logo que os tirei do belíssimo estojo em cabedal, depois de ter de violar três selos de segurança (!), não resisti e liguei-os ao McIntosh MHA100 com o cabo mais longo. É óbvio que a Audioquest optou por lhes ‘dar um gand’a baixo’, pois não precisei dos habituais +2,5dB no grave, necessários com a maior parte dos auscultadores dinâmicos, para sentir o corpo da música. Ao agudo faltava ainda algum requinte e suavidade, pelo que os deixei durante mais umas horas a cargo de Michael Jackson ‘Thriller -25 Super Deluxe Edition’, em modo ‘repeat’ com têmpero de ruído rosa.

O estojo em pele mostra o cuidado da Audioquest com todos os pormenores que fazem do Nighthawk um produto de excelência.

O estojo em pele mostra o cuidado da Audioquest com todos os pormenores que fazem do Nighthawk um produto de excelência.

Quando voltei, o ‘falcão’ planava lá bem em cima, com um som quente e macio num pano de fundo tonal de pôr-de-sol. Ainda não estava pronto para a caça de altanaria, mas já voava alto na minha apreciação. Passaram-se uns dias, e comecei a compreender onde Skylar Gray, o seu criador, queria chegar.


A arte de afinar auscultadores não é muito diferente da do enólogo. Primeiro, é preciso optar por um determinado tipo de som: encorpado e texturado no grave, frutado nos registos médios, com notas de madeira, baunilha ou outras especiarias e mais ou menos acidez no agudo.


Já oiço as reacções dos leitores. Mas afinal o objectivo não é a busca da linearidade perfeita?


Não. Talvez por estarem tão próximos dos tímpanos e interferirem com o relevo interior do nosso pavilhão auricular, que é diferente de pessoa para pessoa, até uma pequena variação na posição das cápsulas em relação aos ouvidos altera o equilíbrio tonal – o ajuste fino permitido pela suspensão do Nighhawk é aqui fundamental, porque se ajusta suavemente à medida que movemos a cabeça sem nunca termos a sensação de aperto ou desconforto.

O Nighthawk voou na companhia de um trio de luxo: Macintosh MHA100, Chord Hugo e iFI Micro DSD.

O Nighthawk voou na companhia de um trio de luxo: Macintosh MHA100, Chord Hugo e iFI Micro DSD.

Um par de auscultadores com uma resposta absolutamente plana não soa ‘plano’ a toda a gente. Nós somos mais sensíveis a determinadas frequências que outras, pelo que os fabricantes tentam obter um som subjectivamente ‘plano’ a partir de uma resposta objectivamente ‘ondulada’. A partir daí, vale tudo e à chacun son goût, que é como quem diz cada cor seu paladar.


Ultimamente, a tendência tem sido emular o som das colunas, reforçando os graves, sobretudo o médio grave, retrair a zona do espectro à qual somos mais sensíveis (1-2kHz) e puxar a zona de presença (3-4kHz), conferindo claridade ao som; segue-se uma ligeira depressão aos 6-7kHz, onde vive a sibilância e o sopro das bandas magnéticas, e aviva-se depois os 8-9kHz para iluminar o palco sonoro e realçar o detalhe mínimo, só então deixando a curva morrer mais ou menos lentamente acima dos 10-12kHz, mantendo o brilho ou optando pelo lusco-fusco intimista, consoante a pendente.


E resulta, porque, sendo embora uma resposta com ondulação, compensa a curva fisiológica do ouvido humano, e é percebida como natural e aparentemente plana pela maior parte dos ouvintes com audição saudável. O ponto de partida é regra geral este, depois há variações mais ou menos acentuadas. E sabemos todos como o diabo está nos detalhes…


Nota: a actual excepção é o revolucionário Hifiman HE-1000, que é provavelmente o mais linear que já ouvi - e também os mais caro...


Ao optar por dar ênfase ao grave do Nighthawk, a Audioquest criou assim a base de sustentação do seu carácter tonal, que contrasta com a voz ‘esquálida’ de alguma concorrência e o aproxima mais da actual moda ‘orgânica’, da qual o Audeze LCD3 é o expoente máximo e o PSB M4U é o parente acessível (ver Artigos Relacionados).


Esta opção corajosa confere-lhes uma extraordinária musculatura dinâmica, sobretudo com faixas instrumentais com muita percussão, embora aqui e ali se insinue com um leve insuflar do peito nas vozes masculinas.


O que é notável é o facto do Nighthawk se aproximar do LCD3 ao nível do detalhe e da transparência da gama média e doçura do agudo, ao mesmo tempo que o grave tem massa e energia para propulsionar o ritmo da música, perdendo na comparação apenas com os poderosos oBravo HAMT-1, cuja tensão e extensão é inaudita na minha já longa experiência. Claro que são ambos 3 vezes mais caros.


E, claro, não tem aquela grandiosidade da imagem, só possível com os super dipolos planarmagnéticos, embora apesar de tudo seja fantástica se considerarmos que é um auscultador dinâmico e semi-aberto. Tente tapar as grelhas com as mãos e vai ver a influência do respirador na reprodução do ar, do espaço – e até no tom e no timbre. O segredo do ‘falcão’ está na ‘respiração’ e no ‘voicing’, que, não sendo neutro, é consensual: este é o tipo de som que a maioria dos ouvintes prefere.

O Nighthawk é suficientemente sensível (107dB) para poder ser alimentado pelo Dragonfly. Claro que com uma amplificação musculada como a do MHA-100 a performance sobe a outro patamar de qualidade.

O Nighthawk é suficientemente sensível (107dB) para poder ser alimentado pelo Dragonfly. Claro que com uma amplificação musculada como a do MHA-100 a performance sobe a outro patamar de qualidade.

Os Audioquest Nighthawk são bastante sensíveis e podem ser alimentados até pelo Dragonfly.


Contudo, pela sua qualidade justificam a utilização de head-amps à altura dos seus talentos, como o iFI Micro DSD e o Chord Hugo, com os quais fiz duas parelhas de enorme sucesso: mais seco o iFI e mais frutado o Hugo.


Nota: pode aceder aos testes de todos os componentes referidos na secção Reviews/Testes.


O facto de soar ainda melhor com a minha referência actual McIntosh MHA-100 só abona em seu favor, pois parece não haver limites para a performance de que o ‘falcão’ é capaz. Além de ser o modelo de auscultador dinâmico circumauricular mais bonito e confortável de utilizar do mercado.


A Audioquest está, pois de parabéns. Não é fácil acertar à primeira – eles conseguiram acertar na mouche! Tal como o falcão, quando ataca é pela certa...


 


Distribuidor: Esotérico, Consultores de Som


Audioquest Nighthawk: +/- 599 euros


Nota: para mais informações clicar em Distribuidor em Destaque para aceder ao site da Esotérico.

Em Agosto, enquanto uns se acotovelam para ouvir música nos festivais, eu assisto solitário ao concerto dos Nighthawk. Quem apostam que tem melhor som?...

Audioquest Nighthawk, auscultadores de categoria highend a um preço razoável.

O desenho especial da grelha biomimética foi concebido com tecnologia de impressão 3D.

As cápsulas dos Nighthawk são fabricadas em madeira líquida de base celulósica, que permite a moldagem e controla as ressonâncias.

Os cones dos altifalantes são fabricados com um material biocelulósico extra leve e rígido.

O estojo em pele mostra o cuidado da Audioquest com todos os pormenores que fazem do Nighthawk um produto de excelência.

O Nighthawk voou na companhia de um trio de luxo: Macintosh MHA100, Chord Hugo e iFI Micro DSD.

O Nighthawk é suficientemente sensível (107dB) para poder ser alimentado pelo Dragonfly. Claro que com uma amplificação musculada como a do MHA-100 a performance sobe a outro patamar de qualidade.


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