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2012

Salon Hifi Paris 2012_ Parte 1: We’ll Always Have Paris




We'll always have Paris


 


O Salon de la Hifi (eles dizem “ifi”) et du Home Cinema comemorou 35 anos nesta edição. E eu tenho andado a fazer reportagens do “Salon”, pelo menos desde 1985, quando publicava as reportagens a preto e branco na revista Imasom e, mais tarde, já em gloriosa quadricromia no DN.


 

Jean Hiraga, posando com a revista Imasom (foto histórica JVH- 1986)


O “Salon” esteve, durante muitos anos, associado às “Journées de la Haute Fidelité”, patrocinadas pela Nouvelle Revue du Son de Jean Hiraga, que, terminado o horário oficial, se reunia pela calada da noite com os audiófilos fundamentalistas, em autênticas catacumbas para demonstrar amplificadores a válvulas e colunas de corneta, que me deixavam em êxtase. Permito-me transcrever um excerto de um episódio que podem ler na integra em Artigos Relacionados:   Seriam oito horas de uma noite chuvosa. O táxi abandonou-me à minha sorte num bairro de ruas estreitas e desertas, tipo Bairro Alto. Com a morada escrita num papel amarrotado fui bater a uma porta de ferro, daquelas com portinhola de casa-de-passe clandestina. Ao ranger da ferrugem, seguiram-se degraus de pedra. «Onde é que me vim meter?, pensei, «ainda sou feito aqui, e ninguém sabe onde estou...».


O sentimento de medo logo se desvaneceu com o sorriso aos pés da escada de Jean Hiraga, qual guru rodeado de fiéis, que acolhe mais um iniciado no Templo do Som: seriam cinquenta os refugiados da ditadura comercial que poucos anos depois conduziria as «Journées» para a guilhotina. Era o fim do império do áudio na cidade-luz.


Lá estavam as enormes «cornetas» que Jean Hiraga utilizara para demonstrar o seu amplificador a válvulas Lectron JH50, num «caveau» audiófilo, que logo associei às catacumbas de Roma onde os cristãos se refugiavam para fugir à ira de Nero.


 


   

Protótipo de coluna desenhada por Jean Hiraga, com caixa de graves, de dupla corneta para médios e graves     Ao contrário de Jean Hiraga, Jean-Marie Hubert, presidente da SPAT, outro grande amigo e organizador de tudo o que é salão de electrónica em Paris, é menos idealista e mais pragmático.  


Jean-Marie HUBERT, entrevistado por JVH para o HIFICFLUBE (em francês)    Jean-Marie sabe que há mais mundo para além do highend esotérico, e que é preciso dar ao visitante o que ele e a família querem: som de qualidade a qualquer preço sem dúvida, porque desperta a curiosidade; som de qualidade em relação ao preço, porque cria expectativas de compra (e de venda); cinema em casa e integração domótica ou, no mínimo decorativa, porque estabelece consensos no seio do casal:


 



Há muitas formas diferentes de ouvir e de olhar. We’ll always have Paris, lembrava Bogart à bela Ingrid.


 


De dia, a torre Eifell é uma imponente estrutura metálica que domina a cidade e as suas gentes. Não é possível abstrairmo-nos da sua omnipresença. A torre, que a cada esquina nos espreita por cima dos telhados, é o farol, a referência física para nos movimentarmos em Paris.


 


À noite, parece uma delicada filigrana que ilumina Paris como uma vela devota, que se eleva ao céu numa prece, com insustentável leveza. E, no entanto, continua a ser o mesmo gigante de ferro de quatro patas firmemente implantadas no chão do Champs de Mars.


De noite ou de dia, haverá sempre quem se apaixone sob os auspícios da torre, e quem se suicide por amor... 


 


Há a Paris by day e a Paris by night. A cidade é a mesma, a iluminação é que é diferente, logo também o jogo de sombras e nuances de luz e cor, como são diferentes as emoções que suscitam no observador: o ponto de vista (ou de escuta) pragmático ou romântico, depende do gosto de cada um e da sua vivência pessoal.


      Dou um exemplo: o Novotel, palco do “Salon” (à direita na foto), é o antigo Nikko, onde nos anos 80 vivi empolgantes episódios audiófilos: as primeiras experiências com as Apogee, as Magnepan, as fabulosas Infinity, e tantas colunas de corneta tão estranhas na forma quanto inverosímeis na função.   De tal modo, que tinha do hotel a memória romântica de um ambiente luxuoso e requintado que, de facto, não se verifica hoje, apesar das 4 estrelas. Talvez porque, na altura, eu era ainda uma “criança” inocente no áudio, e terei criado um imaginário muito pessoal, no qual tudo me parecia (soava?) fantástico e único.   O tempo não nos envelhece apenas, torna-nos mais sábios, exigentes e, porque não, um pouco cínicos, em relação ao que nos é apresentado invariavelmente como insuperável ou revolucionário. Hoje, tendo a não me deixar arrebatar por um “palminho de som”, só porque as colunas são bonitas e se apresentam bem. Passei a gostar de colunas “balzaquianas”, com som amadurecido e boa argumentação sonora, sem perderem a dinâmica e o gosto pela vida.

Porque a música sem vida é como a vida sem música.

  Waterfall à luz do dia e à transparência (via-se o quotidiano de Paris lá fora...)

Inspirados nos estados de espírito da torre, alguns distribuidores optaram por demonstrar os seus sistemas “à luz do dia”, o que é óptimo para a qualidade de imagem dos meus vídeos (Parte 2 da reportagem);
   

Sistema Soulution Series 5/Magico S5: audição na penumbra romântica,
em silêncio e à porta fechada, para criar ambiente...


Enquanto outros preferiram o velho “misticismo” do “quarto escuro”. E não é que “às escuras» o som parece também mais leve e etéreo!...


      Enquanto repórter acidental, o que vos posso garantir é que, sem abdicar do meu gosto pessoal, prestei, junto à réplica da estátua da Liberdade, preito de vassalagem à liberdade de expressão e de opinião, e tentarei ser o mais justo possível na apreciação das coisas e loisas que por lá vi e ouvi, sabendo o leitor de antemão que é o highend que me move e me inspira, e não a electrónica de entretenimento. Não é um disclaimer, é um facto, que não renego.      

A tribo audiófila de Paris: gente feliz sem lágrimas   Os “audiófilos” de Paris não são, como se prova no video acima, muito diferentes dos que encontro em outras paragens: conversam mais do que ouvem, deambulam por aqui e por ali, entram e saem das salas por impulso, de um pulo, como se mudassem de carruagem no Metro, em “estações” de corredores apertados apinhadas de gente.      


Gostam de mexer, de espreitar, de tocar, de fotografar, de coleccionar catálogos (até levam mochilas às costas). Mas também levam os filhos, as namoradas e as esposas, e não se pode dizer que há um grupo etário definido, embora, lá como cá, aquém e além mar, os audiófilos sejam maioritariamente de alta meia-idade e de classe média alta, uma raça que os políticos europeus, em especial os nossos, se têm esforçado por exterminar. O que vi por lá, isso sim, foi alto entusiasmo, muito interesse e muita paixão pelo som de qualidade.


      As fontes de som eram variadas, com ênfase no streaming, mas quase todas as salas tinham giradiscos a “rodar”, não necessariamente a tocar. E o CD mantém a sua posição de destaque.       


Havia até quem expusesse no corredor, estacionando na contramão, atrapalhando o tráfego, porque era Sábado.


    Cinema Em Casa ao mais alto nível: Lexicon/Stewart/JBL 


Por razões logísticas (e financeiras?, suponho), não havia nenhum supersistema highend em demonstração. Refiro-me, sobretudo, às colunas de grande porte, como as Wilson XLF e as Focal Utopia (ambas as marcas ausentes), que não são fáceis de transportar em elevadores de hotel e depois colocadas em salas apertadas, pois os grandes espaços foram adjudicados pelas multinacionais japonesas: JVC, Sony, Yamaha, por uma questão de “imagem”.


 
Sala da Estelon/Musical Fidelity  
Assim, o highend era alto na qualidade e médio no tamanho (refiro-me às colunas, porque são sempre elas que “dão a cara” pelo som): Athom, Avantgarde, Estelon, Franco Serblin, JBL Synthesis, Magico, Rockport, Sonus Faber (as Venere, pois claro!), Usher, Vienna (umas novas “Baby”), Waterfall, que gostei de ouvir pela primeira vez; e algumas coisas “esquisitas”, como as Jo, que fazem sempre as delícias dos “caçadores de catálogos”.    

Salon Hifi 2012 Paris: à vol d'oiseau

E, como se pode ver nas fotos do slideshow (abra em full screen 1080p) havia muitas outras: mais ou menos redondas, como as Elipson e as Arquittetura Sonora; ovais, como as Eclipse, cilíndricas, como as Leedh; ou, as para mim desconhecidas, Aurelia, com nome feio e som bonito (excelente sentido rítmico).        


Na imagem, o monitor 4K é, como muito bem diz Jean-Marie, na sua entrevista, stupéfiant, sobretudo com material 4K original. Mesmo tendo sido registado directamente do ecrã, a imagem resultante é notável de contraste e resolução.


 
Sony WPL VW1200ES, a projecção 4K. Bom, mas...         Angelina e Johnny Depp - The Tourist upsampled para 4K (pequeno excerto)    O projector com filmes em Blu-Ray a 1920/1080p “puxados” para 4K já não me convenceu tanto. A Angelina Jolie estava linda ao sol morno de Veneza, mas isso está ela sempre, até com chuva... Mas a imagem do Daniel Craig (Casino Royal) tinha mais grão que a praia do Guincho. A técnica de upsampling nem sempre é uma boa solução: garbage in, garbage out em 4K, ou seja, quatro vezes mais lixo...
Preferi de longe a sessão de filmografia chinesa com o clássico Flying Daggers. As JBL Everest são imbatíveis em som de cinema, ou não tivessem sido concebidas para esse efeito. São tão rápidas que a cena dos tambores chineses, que já vi/ouvi mil vezes, tinha transitórios de cortar a respiração. Uma vez mais, a imagem gravada não faz justiça ao que se via no ecrã.  

The House Of the Flying Daggers, a JBL atingiram o cume do Everest...



APERITIVO COM EXCERTOS EM VIDEO HD DE TODAS AS AUDIÇÕES
(comentários na Parte 2)




Menu de degustação com videosHD de 30 s c/ todas as audições


PARTE 2: AUDIÇÕES DINÂMICAS EM VIDEO
(brevemente)   No próximo capítulo vamos, então, ouvir e ver as colunas e os seus comparsas de ocasião (amplificadores, DACs, giradiscos, cabos...), porque é delas que vive sobretudo a nossa memória de audição nos shows. Do mesmo modo, que foi a mudança de tércio, de um tinto de Bordeaux fraquito para um Médoc de alto gabarito, que salvou o meu almoço com a minha adorada esposa no excelente La Fontaine de Mars (cuisine française de région)...     La Fontaine de Mars, boa comida regional francesa, excelente serviço, preço a condizer...     Assim, nada melhor que oferecer-vos acesso gratuito, via You Tube, por ser mais universal, embora eu prefira qualidade do Vimeo, gravações video fidedignas (som não-editado), das principais demonstrações que, hélas, nem sempre primaram pelo profissionalismo, tanto no gosto da decoração e da selecção musical como, sobretudo, da correcta instalação dos equipamentos e condições de audição: de mãos vazias, dadas ou entrelaçadas, segurando crianças, ou sacos negros do patrocinador Son&Video.com, o pessoal instala-se no palco sonoro e faz jus ao espaço que ocupa: fala alto e bom som e defende a estabilidade da imagem estereofónica, mantendo-se lá, inamovível, como a réplica gigante da estátua da Liberdade, implantada na Île des Cignes, ali no Sena, mesmo em frente do Novotel, oferecida em 1986 pela comunidade americana de Paris ao povo francês! Amor com amor se paga...


       


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