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2006

Highend Show - Porto - 2006: Parte 1




Um “highend show” não é paradoxalmente o espaço e o tempo ideal para ouvir sistemas de som e chegar a conclusões definitivas sobre o seu desempenho. É o espaço e o tempo possível para estabelecer referências para audições futuras.



Talvez seja por isso que Ken Kessler evita comprometer-se sobre aquilo que realmente ouve em reportagem. Eu podia ter a mesma atitude: alegava que as condições de audição não eram as mais propícias, escrevia meia-dúzia de banalidades genéricas, tipo pescadinha de rabo na boca, que tanto se podem ler da direita para a esquerda como ao contrário, deixando a interpretação subjectiva para as entrelinhas, e ficava de bem com Deus e com o Diabo.



Ora eu não fujo nunca a uma boa polémica, nem pactuo com cenas de ciúmes ou acusações de juízos de intenção. Toda a gente sabe que aquilo que eu escrevo não é a verdade absoluta - é a minha verdade, à qual a minha longa experiência dá talvez um pouco mais de credibilidade que ao comum mortal. Só isso. De uma maneira geral, qualquer ouvinte mediano, descontada a subjectividade que sempre se infiltra de forma insidiosa nos comentários avulsos de quem deseja dizer algo de diferente para sobressair do anonimato, chega facilmente às mesmas conclusões, isto quando dispõe dos mesmos elementos que eu. É aí que reside o busílis da questão: eu disponho de mais informação, o que não significa que faça sempre o melhor uso dela…



Estou já habituado às lamúrias dos expositores sobre a falta de tempo para montar e afinar os equipamentos, aos problemas acústicos das salas, da corrente de sector, da localização, das condições atmosféricas, da falta de sensibilidade dos visitantes, da juventude dos equipamentos, do cabo milagroso que afinal não chegou, dos discos pedidos por gente estranha e anónima, quem sabe se com a intenção velada de os prejudicar…



E mais habituado estou ainda a ouvir discos de gravação minimalista que até fariam brilhar um “rack system” rasca numa loja da Worten.



Hoje em dia não é preciso ter uma câmara anecóica para testar colunas de som. Basta ter um programa de computador para eliminar da equação o som da sala. Mentalmente é o que faço: tento eliminar da equação o que pode prejudicar o resultado da audição. O que fica é um denominador comum, e é sobre ele que me baseio para opinar. Nunca me dei mal: uma coluna de som pode soar melhor aqui ou ali, assim ou assado, com este ou aquele amplificador. Mas nada nem ninguém pode mudar a sua natureza intrínseca.



Uma “4-vias” não “integra” a menos de 3 metros de distância. Ouvindo-as de pé ou sentado de lado, tenho apenas uma vaga ideia da qualidade da imagem estereofónica. Se para garantir mais lugares sentados, é preciso “encostar as colunas à parede”, o efeito pernicioso dos modos da sala faz-se sentir também com mais acuidade. Assim, se acho que algo não está bem num som que ouvi, esforço-me por voltar ao local do crime. Sentado noutro lugar, com outro disco, outras faixas, outros discos, com outro volume, até numa configuração diferente, acabo por sair inevitavelmente com outra opinião. Ou não…



Creio mesmo que a maior parte das diferenças de opinião se devem não aos equipamentos mas às circunstâncias em que foram ouvidos.



No meu caso, não posso ainda abstrair-me de ter ouvido a maior parte destes equipamentos noutro tempo e noutro espaço, e de já ter formado uma opinião anterior. Mas, repito, há coisas que são imutáveis, pois estão na natureza dos equipamentos. Ou na falta de sensibilidade de quem os montou. Ou de quem os ouviu...



As pessoas que ouvem e dão a ouvir “sons” são, pois, também um factor importante a ter em conta no resultado final. Quais os interesses? Quais as expectativas? O desejo de agradar não garante um bom som, mas pode garantir uma boa audição. Contudo, querer agradar não basta, é preciso saber agradar. E para isso é preciso ser exigente consigo próprio: o bom demonstrador nunca está satisfeito.



O audiófilo é um ser insatisfeito por natureza, porque o som absoluto é uma quimera, e o deslumbramento inicial cedo cede ao tédio e ao desejo de mudar. As paixões duradouras dão muito trabalho…



Ao trabalho, pois.



O HighEnd Show, Porto 2006, foi o certame audiófilo onde senti haver menos stress e ranger de dentes por parte de expositores. Salvo raras excepções (é justo referir que chovia na sala “Challenger” atribuída à Topaudio, pelo que foi necessário mudar todo aquele equipamento à última hora para a sala “Discovery”), havia condições mínimas de dignidade para a demonstração dos equipamentos, com os condicionalismos já referidos no texto de abertura dos quais a vibração dos armários-cama não era o menor. Mas a paz ambiente, tanto no interior do hotel como no interior dos expositores, repercutiu-se positivamente no espírito dos visitantes. Nem sempre, hélas, nos resultados acústicos (e visuais).



AJASOM
O público encheu permanentemente a sala da Ajasom


Levou para o Porto o excelente “circo” audiovisual (ver video), com base em electrónica Meridian, que tinha demonstrado na FIL, em condições menos favoráveis. Pode parecer estranho, mas preferi Lisboa ao Porto. Talvez porque se perdera o efeito da novidade. Objectivamente, preferi o desempenho do Runco ao Sim: mais resolução, mais detalhe, mais profundidade, cores mais saturadas e naturais. Mantenho a minha reserva à afinação do som DTS, que favorecia em demasia os canais traseiros em detrimento do canal central.

A passagem do revolucionário “subwoofer” da Wilson Benesch para o centro melhorou o impacte e a integração geral. A estrutura montada à entrada da porta limitava ainda o efeito de “envolvência” dos canais traseiros, denunciando em demasia a sua presença e localização.



Ora nada disto altera a minha opinião de que as colunas de parede Meridian A330 com filtros activos são uma das poucas soluções verdadeiramente highend neste tipo de configuração AV “domésticamente” aceitável. E concordo com João Jarego, ressalvado o facto de admitir ser amigo pessoal de António Almeida, quando diz que, num certame no qual quase todas as colunas eram da mesma “escola”, as Meridian podiam considerar-se revolucionárias.



O que se trata é que a primeira audição elevou muito alto o meu grau de expectativa e de exigência. E para isso muito contribuiu a Série G de leitores e processadores digitais, que espero testar em breve.



Bob Stuart sempre apresentou em Las Vegas espectáculos audiovisuais memoráveis. Com a Ajasom foi finalmente possível reproduzi-los em Portugal. A comprová-lo está o êxito das sessões contínuas de cinema com a sala permanentemente cheia de um público atento e rendido à evidência.



Este ano na CES, quando Bob me perguntar pela décima vez sem resultado: “Então, José, nunca testas nada meu?..., já lhe posso finalmente responder com mais do que um simples encolher de ombros…



ARTAUDIO
ArtAudio: Rotel/B&W CM7


As três salas comprovavam a aposta na divulgação digna dos seus produtos. Estavam prometidas as B&W 802D, em troca apresentaram as CM7, que, segundo o Alberto, são uma versão das CM1 com mais uma oitava de extensão no extremo inferior do espectro. O “voicing” é o mesmo, confessou-me, vais gostar. E gostei. Mas não muito. Admito que ouvi as CM7 sem o respeito que elas me deviam merecer, como todos os sistemas que disputam o “país real” e não a… utopia, porque sabia de antemão que, mais tarde ou mais cedo, iria poder ouvi-las à minha vontade. No Porto, soaram-me algo “hifi” ou talvez fosse do disco. Ou da amplificação Rotel. Não voltei para constatar ou contestar.

Já o conjunto Classé/B&W 805 agradou-me sobremaneira. Quando entrei, Brell cantava Jojo: voz grave, cheia, poderosa, gravilhenta, com apenas um ligeiro toque de peito - se induzido pela caixa ou pela sala, não posso garantir. Mas ali não se ouvia hifi, ouvia-se música. E a pureza da voz feminina de Loreena McKennitt só veio confirmar a arte “camaleónica” das 805, que encheram aquele quarto do hotel Sheraton de paixão musical. Se tivesse que escolher um sistema “doméstico”, seria este. Aliás, o João Rodrigues faz-me sempre sentir em casa…

E agora vamos à primeira polémica. O Alberto e o Jorge Gaspar (AudioElite) são dois “mestres” demonstradores. Têm personalidades e gostos diferentes mas são ambos sobretudo corajosos e sabem sempre tirar o melhor partido dos sistemas que lhes tocam, é o termo, em sorte. Eu sei que o Alberto teria preferido levar as 802 para demonstrar as (muitas) potencialidades dos NuForce 9SE, mas a Final é uma nova representação da ArtAudio que precisa (e merece) ser divulgada.



No áudio como na vida a beleza não é fundamental mas, tal como o dinheiro, ajuda muito. E as Final Reference 1000i que fizeram a sua estreia em Portugal, até pelo facto de serem altas, elegantes e… transparentes, na melhor tradição electrostática holandesa (ver as belas Audiostatic), atraíram os olhares femininos, porque a razoável altura é bem compensada pela leveza etérea da membrana e de toda a estrutura de suporte.



Acontece que, embora sejam apresentadas como sendo da banda larga (38Hz-25kHz -3dB ) o som é também ele leve, sobretudo nas oitavas inferiores. Houve até quem comentasse que as Final reproduzem melhor os “pling” que os “plong”. Só conheço uma coluna electrostática “full-range”: as SoundLab, que é do tamanho de uma asa-delta enfunada.



Aliás, é o próprio fabricante que sugere a utilização de “subwoofers” abaixo dos 40/60Hz. E é aqui que entra a proverbial sensibilidade, bom senso e honestidade do Alberto. Teria sido fácil dar mais “estaleca” às Final, subindo um pouco a frequência de corte e o volume relativo dos “subs” da B&W, mas isso iria afectar a sua principal virtude: a transparência e ausência de colorações de caixa. A própria opção por “subs” da categoria dos pesos-leves já é em si uma clara declaração de princípios audiófilos.



Acresce que as Final e os Nuforce têm características muito semelhantes de claridade e leveza nos registos médios. Um amplificador a válvulas teria “colorido” o som das Final de uma tonalidade sépia mais romântica e consensual, tornando-as mais lentas, logo menos incisivas e recortadas. O Alberto prefere a nudez crua da verdade às mentiras piedosas. Honra lhe seja feita.



Sem querer escamotear as evidentes limitações das Final para movimentar ar dentro de uma sala, sobretudo quando os “subs” não foram lá postos para carregar o piano mas apenas para dar uma mãozinha amiga sempre que era preciso descer a escada, leia-se, escala, tonal, admito que gostei do que ouvi numa audição quase privada, já no final da tarde de Sábado. E o Alberto, sabendo que eu iria apreciar o seu esforço, porque sei bem o que custa casar “alhos com bugalhos”, não se limitou a passar música barroca ou vozes de anjos sem sexo, arriscou mesmo deixar cantar um contrabaixo, sem que eu conseguisse identificar o ponto de “passagem de testemunho”, como se os “subs” estivessem lá afinal só para vista…



É um facto que até as pequenas B&W 805 têm mais “meat to the bone”. Mas, ao contrário de outros, eu, quando me sento num restaurante para comer um robalo grelhado com legumes, não me queixo depois que, se tivesse mandado vir tripas, ficava de barriga mais cheia…



Se tivesse que escolher o sistema com melhor equilíbrio acústico/estético seria este. Não será o “som final” mas também não é motivo para temer o “juízo final”…




AUDIOELITE

Quando passei por lá a primeira vez, alguém tinha pedido para ouvir um disco de música funk a abrir. O som das Revel Performa F 52 estava um pouco duro mas o controle do ML Nº 432, aliado à resolução da linha da frente composta por prévio ML Nº 326 e leitor-DVD ML Nº51, era inegável. Aliás, a maior parte dos distribuidores evitou carregar no acelerador, o que não foi o caso aqui. Ora só isso mostra coragem: o som é como a imagem, quanto mais ampliada mais se vêem os defeitos…


Não cheguei a ouvir o outro conjunto exposto: Elac/Yba Design


Neste andar os quartos eram todos idênticos, e achei curioso que cada “hóspede” tenha escolhido “tocar” para o seu lado, tentando ludibriar os modos de ressonância. De uma maneira geral, conseguiram. O Jorge Gaspar escolheu “disparar” no sentido do comprimento. A imagem ficou mais concentrada e sólida reforçando a noção de ataque. Houve quem achasse o som das Revel agressivo. Mas teria sido fácil ultrapassar essa “questão” colocando a rodar discos de música barroca a níveis de música de fundo…



Quando lá voltei, no Domingo, tive oportunidade não só de ouvir música variada com um leque que se estendeu de um DVD dos Steely Dan à Abertura do Barbeiro de Sevilha, da Naxos, mas também de conversar com o Jorge sobre as suas opções de afinação. As Revel F52 são extremamente versáteis e têm controlos de tonalidade para contornar dificuldades de colocação. No grave é possível optar por “espaço aberto” (Normal), “paredes próximas” ou mesmo “dentro de estante” (Boundary), uma vez que este modelo foi obviamente concebido para aplicações AV, daí ser mais “explícito” e “gráfico” na forma de apresentar a música. Notei o que me pareceu um ligeiro ênfase numa zona alargada entre os 5 kHz e os 10kHz que lhes confere uma característica de velocidade mas também de excessiva vivacidade, face a um ligeiro recuo na zona de presença. O som será tanto melhor quanto mais baixo estiver sentado o ouvinte em relação ao eixo do tweeter. Por vezes, uma ligeira inclinação da coluna para trás é quanto basta para compensar.



Para controlar uma ressonância da sala reforçada pela vibração do armário-cama, “Maître” Gaspar optou pela igualização “Contour”, cortando assim o nível da oitava inferior e secando a transição médio-grave, resultando naquele grave tenso que fazia sobressair a batida forte do baterista dos Steely Dan. Na minha opinião, para compensar deveria ter “cortado” também 1 dB no volume relativo do agudo, algo que eu só (pres)senti quando ouvia uma peça de Mozart.



O Jorge fez-me a vontade e cortou apenas 0,5 dB: basta mudar a posição de um switch na traseira da coluna. Ao domar o excesso de vivacidade, perdeu-se um pouco de ar e de enfoque, mas ganhou-se na pureza do timbre.



Eis a razão pela qual não se devem fazer juízos demasiado rápidos, em especial quando se está a ouvir uma coluna cuja resposta foi concebida para ser “flat” dos 33 Hz aos 18kHz e que não é totalmente isenta de colorações. As F52 não são as Ultima Salon ou Studio mas constituem uma resposta mais adequada para as necessidades da vida moderna.



Na AudioElite ouvi um som cru, seco, vivo, focado, tenso, rápido e controlado, num ambiente de calor humano e de paixão pela música - todas as formas de música!







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