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2004

Elp, O Gira-discos Laser, E O Som Das Partículas



Robert E. Stoddard, um jovem engenheiro americano, da Universidade de Stanford, desenvolveu esta tecnologia em 1988. Os primeiros modelos foram comercializados sob a marca Finial sem grande sucesso. Na altura, o CD ganhava adeptos e o Finial tinha alguns problemas técnicos. Stoddard debatia-se com os fracos índices de reflexão dos discos, os diferentes ângulos das cabeças de corte das matrizes analógicas e a sensibilidade à sujidade nas espiras. Stoddard acabou por vender a patente à ELP, empresa criada com o objectivo de melhorar e comercializar o único gira-discos do mundo capaz de «tocar» LP com «agulhas» de luz. Ouvi-o pela primeira vez em 1999, no Highend Show, de Frankfurt, e juro que resulta mesmo! O sonho está à venda e tem um preço: 15.000 euros...



Agulha de laser


O ELP utiliza cinco feixes laser para recuperar das espiras já gastas o som analógico original: um para o canal esquerdo, outro para o canal direito (nos LP estéreo), dois para garantir que o braço de leitura se mantém estável sobre o centro das espiras; e o quinto para manter o braço sempre à mesma distância do disco (no caso dos discos empenados, por exemplo). Fotodiodos medem a luz reflectida e traduzem a impressão óptica em sinal eléctrico. Não há qualquer processamento digital do sinal: é analógico puro!


Como não há contacto físico, alguns dos problemas dos gira-discos convencionais não se verificam: influência do ângulo de ataque horizontal e vertical da agulha, compensação do peso de apoio e da força centrípta, distorção por efeito geométrico das espiras mais próximas do centro do disco, desequilíbrio entre canais, «feedback» acústico, empenos, excentricidade, etc. Mas um problema persiste: os discos têm de ser sempre previamente lavados e aspirados, ou o som tem mais estalos que uma máquina de pipocas. A maior parte dos discos monofónicos antigos têm a parede exterior das espiras em péssimo estado, pois era nesta que o «prego» das velhas grafonolas se apoiava no seu caminho para o centro do disco. Mas o ELP tem um selector que nos permite optar pela parede interior menos gasta.



O som dos cacos



Vitaliy Fadeyev e Carl Haber, dois físicos do Berkeley Lab, desenvolveram uma nova técnica de obter registos digitais sem contacto físico, a partir de gravações antigas em suportes deteriorados, incluindo cilindros de Edison e velhos 78 r.p.m., utilizando sensores de partículas, com base em experiências realizadas no famoso acelerador de Fermilab, na Suiça, onde se situa o Centro Europeu de Física de Partículas. Segundo Haber, o mesmo método que se aplica para seguir o trajecto de partículas elementares, quando chocam a alta velocidade com os detectores, produzindo ruído sem significado, pode também ser aplicado para analisar as espiras e suprimir o ruído. Assim os sistemas optométricos de precisão criados no âmbito do projecto ATLAS para observar pela primeira vez a partícula Higgs Boson, que só existe em teoria, foram também utilizados para recuperar «Goodnight Irene», dos Weavers, um registo de 1950 em muito mau estado, assim como «Nobody Knows the Trouble I've Seen», tal como Marian Anderson a cantou há 60 anos, depois de expurgados de estalos, fritadeira e outros ruídos mecânicos. O mais interessante desta técnica é a possibilidade de «reconstruir» o som original mesmo a partir de discos quebrados. A importância desta nova tecnologia para a preservação do património áudio da humanidade é enorme, embora eu ache que, sempre que se elimina o ruído das gravações antigas, se deita o bebé fora com a água suja do banho...

. Os interessados podem aceder aqui a excertos comparativos de áudio.


P.S. Agradeço a chamada de atenção do leitor Mário Gonçalves para esta curiosa experiência.

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