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Reviews Testes

Soulution 720

Pré-amplificador Soulution 720

A personagem de Sean Penn no filme “21 Grams”, alega que é esse o peso da alma humana. O prévio 720 da Soulution pesa (e custa) bem mais de 21...quilos! É muita alma (e muita massa), mesmo para um queijo suiço!

Sendo “de peso”, o Soulution 720 é, contudo, discreto, competente, confiável, durável, como todo o suiço que se preza. Tanto mais discreto quanto chez JVH teve como camarada de armas o prévio da McIntosh C2200 (agora do mesmo distribuidor: Ajasom) que, por comparação, deve ter sido concebido sob o efeito da ressaca de uma noitada em Las Vegas: palco iluminado de azul, onde evoluem bailarinas, que se espreitam através de um vidro fumado, como no peep show de um salão musical erótico kitsch, decorado com frisos dourados e botões de funções e luzes mil.

Soulution 720 _ detalhe de design

Soulution 720 _ detalhe de design

No seu despojamento terreno, a arquitectura exterior do 720 é quase de convento medieval,  mas as linhas geométricas são modernas a la Siza Vieira, com janela ampla e grossas paredes de alumínio escovado de cor neutra, para proteger a arte audiófila sacra da ameaça de interferências externas e cataclismos eléctricos internos.

Soulution 720 _ sem tampa

Soulution 720 _ sem tampa

Na porta-de-armas, os soldados suiços, que defendem a Fé no áudio, fazem o resto: o acoplamento das fontes é directo através dos terminais 1 a 6, sem transformadores ou condensadores nas linhas de defesa. Situação ideal, sem dúvida - mas potencialmente perigosa se equacionarmos a eventual presença de corrente contínua (DC) na fonte.


Qual a soulution? Um sensor ultra-rápido pressente a presença de DC na entrada, introduz um condensador de acoplamento no circuito, apenas e só durante o tempo que se justificar a sua acção. Genial. Está é uma medida por certo baseada no sistema bancário suiço: o inspector do banco actua e sai de forma discreta, dando depois total liberdade à iniciativa privada.


No conforto espartano deste convento fortificado, os sons vivem de acordo com uma filosofia muito própria, que contraria a actual religião maioritária no highend: a da simetria integral.


A Soulution cultiva o monoteísmo assimétrico, e é até fundamentalista na sua abordagem conceptual: acredita piamente que a salvação está em cometer o mínimo de pecados no caminho para o céu audiófilo. Ora, como a simetria integral implica duplicar os circuitos, como num jogo de espelhos, erradica-se a simetria da topologia e acaba-se com a tentação da vida dupla dos sons.


Ou, para utilizar uma linguagem menos “religiosa”, a construção é duplo-mono, com celas (compartimentos) bem separados entre si para evitar interferências, mas não é do tipo diferencial (balanceada da entrada até à saída), para limitar ao mínimo possível o número de componentes necessários, por muito bons que estes sejam: resistências de folha metálica Dale/Vishay – um luxo! As resistências e respectivos relés são também utilizadas no potenciómetro de volume, a que eles chamam “attenuator” , em conjugação com um circuito lógico que elimina a potencial amplificação dos clics, talvez por isso seja algo lento a responder.


 

Soulution 720 - controlo de volume: o melhor dois mundos

Soulution 720 - controlo de volume: o melhor dois mundos

Embora disponha, claro, de saídas balanceadas, com a vantagem da comutação de terra (ground lift), que isola o terminal do circuito áudio, eliminando eventuais situações de loop com o consequente ruído (hum). Nestes casos de pseudobalanceamento, tal como sucede, aliás, com o McIntosh2200 (a válvulas), eu prefiro utilizar as saídas RCA. Desde que os cabos sejam curtos, soam sempre melhor. Mas o Momentum só aceita cabos balanceados.


Ao pé do feérico C2200, o design do 720 é, pois, de uma simplicidade tão ascética quanto parca em ostentação mundana: no rosto, botão de volume e selecção de fontes e pouco mais. Ou seja, apenas as funções básicas indispensáveis à vida útil em comunidade .


Há outras funções “secretas”, programáveis apenas no Menu lógico. Rodando e pressionando o “selector” de Input acede-se à programação de múltiplos ganhos gerais e particulares: volume inicial e máximo fixos, volume independente de cada fonte, ganho entre canais (balance) e bypass total para integração num sistema surround; selecção de fontes para funções específicas (gravação) e possibilidade de lhes dar nome também: Phono, CD, SACD, etc. Além de Mute e Dim (luminosidade do painel).


Enfim, só senti a falta de Phase  ou melhor, Polarity (inversão de fase absoluta), mas quase todas as boas fontes digitais disponibilizam esta função hoje em dia.


Admito que não utilizei a funcionalidade Phono, cujos parâmetros de impedância são também eles reprogramáveis por meio de módulos externos do tipo plug-in. O circuito original de base é exclusivamente MC (Input 3). A largura de banda interna do circuito é limitada a 1Mhz e pode activar-se um filtro subsónico anti-rumble. Contudo, é possível a utilização de células MM de elevado ganho, diz-me António Almeida (Ajasom).


Uma das regulações possíveis nas entradas de linha é muito rara (creio mesmo que única) e deixou-me deveras curioso: tem a ver com a largura de banda, que pode ser High/ilimitada (até 40Mhz!, mas com a referida limitação interna de 1Mhz), até 200kHz (Mid) ou apenas  20kHz (Low)!

Análise espectral de um ficheiro HD Tracks a 192kHz

Análise espectral de um ficheiro HD Tracks a 192kHz

Então, estes suiços, dão-se ao trabalho de conceber um prévio com uma largura de banda na casa dos Mhz para depois nos deixarem “apertar-lhe as goelas”?!...Querem saber porquê? Tem a ver com as idiossincrasias das fontes digitais.


Em testes de análise espectral que efectuei a ficheiros, alegadamente de alta resolução da HDTracks, na maioria obtidos a partir de SACD, verifiquei, com espanto, que pouco há de musicalmente relevante acima de 30kHz. Contudo, a partir dos 65kHz e até quase aos 100kHz há uma bossa de “lixo” resultante do noise shaping (e também de ruído térmico), que convém eliminar com um filtro de passa-baixas.


O primeiro leitor SACD da Sony tinha um “limitador” comutável para não deixar passar este lixo de alta frequência que, ao ser amplificado, podia interferir com os sinais dentro da banda áudio. Actualmente, ter ou não ter filtro eis a questão. O 720 oferece a soulution, pelo sim pelo não...


Onde a Soulution não se poupou foi na fonte de alimentação, a árvore da vida do áudio. O 720 foi construído como um amplificador de potência, com andar de saída composto por 3 amplificadores operacionais e 2 transístores em cascata. O conjunto é capaz de gerar 3A de potência (limitado a 1A), o que o torna imune à capacidade dos cabos: 1 metro ou 10 é igual o litro.


A Soulution pretende assim garantir ao potencial comprador o retorno do elevado investimento (28 500 euros!), não só na solidez de construção e engenharia de topo, mas também no conforto espiritual de saber que acabou de comprar um tour-de-force tecnológico, ao nível do estado da arte do áudio highend.

Soulution 720, medidas laboratoriais irrepreensíveis

Soulution 720, medidas laboratoriais irrepreensíveis

Ter ou não ter largura de banda, eis a questão


A audição do Soulution 720 e a funcionalidade da limitação da largura de banda passante proporcionou-me uma experiência muito interessante.


Está cientificamente provado que nós, humanos, não temos capacidade auditiva além da banda áudio (20-20kHz) e, mesmo assim, dependendo da idade e do mau uso, com algum optimismo, pois o normal seria 40Hz-16kHz.


Assim sendo, o facto de a largura de banda do 720 se situar nos Mhz só poderia interessar aos morcegos. Limitar a largura de banda aos 20kHz (Low), 200kHz (Mid) ou 1Mhz (High) seria, neste contexto fisiológico, igual ao litro. Pois, olhem que não. Confrontado com a realidade, chamei uma testemunha mais jovem para ter a certeza que o meu cérebro não estava a ouvir coisas que os ouvidos já não podiam ouvir. E ela confirmou a minha análise.


De tal modo, que a posição Low só lá parece estar to prove a point: para nos provar que a largura de banda é assaz importante. O palco sonoro comprime-se e o “ar” torna-se rarefeito. Os músicos parecem estar mais próximos e presentes, mas surgem contidos num “colete de forças ”.


A diferença entre Mid e High já não é tão fácil de destrinçar. Em alguns casos, preferi mesmo a posição Mid, porque parecia ter o compromisso ideal entre presença e ambiente. Mesmo assim, na posição High, há uma evidente sensação de espaço e profundidade e uma atmosfera mais limpa e purificada.


E isto verifica-se mesmo com SACD, cujo ruído de alta frequência (noise shaping) justificaria, em princípio, a tal solução radical de limitação de banda. Nem tudo o que (a)parece no osciloscópio é, portanto...


A largura de banda é como a largueza de espírito: permite-nos ver (ouvir) mais longe, mesmo quando no horizonte há algumas nuvens de ruído...


 

Sistema completo Soulution Série 7: classe e distinção

Sistema completo Soulution Série 7: classe e distinção

Boas impressões de audição do Soulution 720


A integração foi fácil sem problemas físicos (de compatibilidade eléctrica) ou psicológicos (o 720 nunca impôs a sua presença na qualidade geral do som) de um conjunto com amplificação Dan D’Agostino Momentum Stereo e colunas Franco Serblin Ktêma (teste conjunto em preparação).  


Ao fim de umas horas, dei comigo a pensar, com alguma preocupação editorial, que não me ocorria nada para escrever que pudesse caracterizar o som do 720. E isso é bom, por definição, sobretudo num prévio, que se pretende que seja apenas uma ponte que une duas margens para facilitar o fluxo do trânsito musical sem necessidade de abrandar a velocidade.


Podia facilmente escrever que o som era macio, redondo, quente; ou, pelo contrário, transparente, claro, vivo, com boa presença, sem receio de me contradizer, porque o 720 se limitava a responder com verdade a todas as solicitações das minhas propostas musicais. Mas só me ocorria neutral, como o país de origem.


Se a Suiça é um país onde não há corrupção, o Soulution 720 é um prévio onde não há distorção, logo também não corrompe o sinal. Mais: o som do 720 é melhor que um bypass! Ora isto só pode dever-se à energia que é capaz de gerar para alimentar os cabos que utilizei (Siltech Classic balanceados com 3 metros). Não encontro outra explicação.


A presença do 720 só se sente na sua... ausência.  


O som do 720 é como a água pura dos Alpes suiços: incolor, inodora, mas, hélas, também sem “sabor”. Bastou substituí-lo pelo McIntosh C2200 para se verificar uma alteração substancial, não necessariamente uma melhoria, na qualidade geral do som, sobretudo ao nível da excitação dos sentidos.


A McIntosh é como a Harley Davidson: faz barulho e por onde passa não deixa ninguém indiferente. Está lá e gosta de mostrar que está. Exibe-se, marca presença. E esta demonstração de personalidade não é apenas visual, é também acústica.


O C2200 (agora na versão C2300) dá têmpero ao som, sobretudo nos registos médios, que se tornam mais carnudos e sensuais (chame-lhe “coloração eufónica” se quiser). E falo de têmpero, também – e não só - porque tem controlos de tonalidade. Mas o “sabor” está lá com ou sem os controlos no caminho do sinal. Como diria Juca Chaves, “é o jeitão dele mesmo...”.


Enquanto escrevia, passou-me à porta uma procissão. A santa no altar, a banda a tocar, os foguetes no ar a estralejar, as pessoas atrás a acompanhar, mais divertidas que em recolhimento espiritual. Religiosidade travestida de manifestação pagã. É assim também o C2200, a que se acrescenta o fogo-de-artifício das luzes.


A “banda” soou-me igualmente bem com o 720 e o C2200 no sistema. Apenas diferente. O 720 é para ser ouvido pelos olhos da alma, passe a aparente contradição. O 720 isola-nos do mundo exterior para rezar, em religioso recolhimento, na convicção de que só a pureza original conta; e soa bem mesmo a baixos níveis, porque a dinâmica é muito elevada (leia-se, o patamar de silêncio é extremamente baixo). O 720 é compostura e controlo. Nada nele é excessivo ou redundante.


Já o C2200 quer é festa e soa melhor alto, com todas as consequências nefastas que isso tem: mais distorção, menos precisão. Tudo nele é “carnavalesco”, no sentido também festivo de “pecado carnal”.


As válvulas são um gosto adquirido, o gosto pela “distorção gostosa” dos velhos amplificadores de guitarra, que alguns músicos famosos ainda não dispensam. Mesmo quando essa opção seria facilmente rebatível com um atestado de saúde como o que acompanha cada modelo da Soulution.


Se o leitor é um audiófilo purista e pretende libertar-se da materialidade, por vezes perversa, da música, para poder apreciar antes a sua verdadeira espiritualidade, sem as limitações físicas que a (nos) corrompem;  se pretende despojar-se de bens terrenos (quase 30 000 euros!) para alcançar o céu; se gosta de se isolar no recolhimento da sua sala de audição, o 720 pode ser a resposta aos seus anseios mais inconfessáveis. De preferência, complementado por outros componentes Soulution: a filosofia de concepção do amplificador estéreo 710 e dos monoblocos 700 é a mesma.


O prévio Soulution 720 é a versão audiófila do ouro em barra com timbre suiço, que o deixa a salvo da lenta agonia do euro. Faça as contas: quanto lhe custaria no futuro comprar o 720 em escudos-novos, com o euro franco-alemão então já a valer 400 paus?! Se dispõe da verba hoje, esta é a melhor altura para investir. Amanhã pode ser tarde. A troika anda por aí...

Apresentação nacional da Soulution no Hotel Sheraton, Lisboa, Novembro de 2010 em video HD


Entrevistas com:



  • António Almeida - Ajasom

  • José Filipe - Viasónica


Audição do sistema Soulution/Vivid

Pré amplificador Soulution 720

Soulution 720 _ detalhe de design

Soulution 720 _ sem tampa

Soulution 720 - controlo de volume: o melhor dois mundos

Análise espectral de um ficheiro HD Tracks a 192kHz

Soulution 720, medidas laboratoriais irrepreensíveis

Sistema completo Soulution Série 7: classe e distinção


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