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2012

Audioshow 2012 – Parte 2: Os “peso-pesados”: Alexia, Altair, Isis



    
Pestana Palace 'Cavalariças' (foto do site do Hotel)  


Sim, hostilidades, porque, neste campeonato há sempre muitos interesses comerciais em jogo, num mercado em recessão, no qual os potenciais compradores de um sistema de dezenas, quando não mesmo centenas de milhares de euros, não abundam. Assim, qualquer opinião mais ou menos favorável do crítico, assume quase a importância da decisão de um árbitro validar um golo que pode ditar a “sorte do jogo”.É por isso que eu prefiro nunca dar opiniões definitivas neste contexto. Mas a natureza humana alimenta-se da competição e da polémica e gosta da catalogar, de classificar, hierarquizar. 


Felizmente, os players do nosso mercado cultivam o fair-play, e, sendo eles próprios especialistas na matéria, conhecem a performance dos equipamentos que demonstram, e são os primeiros a reconhecer as limitações impostas pelo ambiente de “show”, relativizando aquilo que pode ter corrido menos bem e aceitando as críticas construtivas.


O tempo é escasso para montar sistemas que podem, em circunstâncias normais, levar semanas a “afinar” e meses a “desabrochar”, mesmo em salas com tratamento acústico.


Aliás, todos estão conscientes de que a sala é a principal variável a ter em conta, nestas como em outras situações. E a magnitude da sua influência no resultado final minimiza outros factores tão ao gosto dos audiófilos, como os cabos – mas não a amplificação.


O relacionamento das colunas de banda larga, como é o caso, com as salas, é a principal fonte de polémica nas avaliações avulsas e apressadas, porque dele depende a performance do grave. É uma (quase) inevitabilidade com a qual temos de aprender a viver ou morrer a tentar controlar.


Situação que ainda por cima varia não só com o ponto de colocação das colunas, mas também com o ponto de escuta: duas pessoas, dentro da mesma sala, podem estar a ouvir diferenças de vários dB, que alteram significativamente o equilíbrio tonal.


E o que dizer das fontes? Da selecção musical? Do volume do som? Até da sala estar vazia ou cheia de um público entusiasmado, de pé, sentado, que conversa, que comenta, que entra, que sai, que dispara flashes, que se levanta para violar o espaço sagrado do “palco sonoro” e espreitar por trás das colunas, durante a demonstração em curso, ou se debruça sobre o leitor-CD, mostrando o traseiro aos presentes, felizmente sem a atitude provocadora de baixar também as calças, como sucede nas manifestações de cariz político.


Os “shows” são feitos para permitir a divulgação dinâmica – e não apenas estática – de equipamentos que de outro modo as pessoas não teriam oportunidade de apreciar em razoáveis condições de audição. E o facto de as pessoas quererem tocar neles, além de os ouvir tocar, é humanamente saudável. Ora o crítico aqui é apenas mais um elemento desse público heterogéneo e de gosto eclético, cuja opinião, embora fundamentada na experiência passada, deve ser relativizada e enquadrada no “meio ambiente” que a suscitou.


Afirmar que uma determinada coluna soou melhor do que outra deve, pois, ter sempre subjacente o contexto dessa afirmação. Quando? Onde? Como? Porquê?


Não será mais importante o crítico expressar os seus sentimentos e emoções no desenrolar da audição?


No Japão, realizam-se “shows”, nos quais todos os sistemas são montados no mesmo palco de um único auditório, e demonstrados em sucessão. No Highend, de Munique fazem-se comparações sucessivas entre colunas (montadas sobre rodas para facilitar a colocação), na mesma sala, com o mesmo sistema, os mesmos trechos musicais e o mesmo nível de sinal aferido a 1kHz.


Nem por isso as conclusões têm maior valor científico. Ir a um “show” de alta fidelidade é uma actividade cultural, não uma experiência científica. A música é, sobretudo, arte, antes de ser ciência. O que não invalida a importância das duas abordagens possíveis, que podem ser complementares ou antagónicas: ouvir os sons ou apreciar a música deles resultante – ou a magia de ambas.


No Audioshow, como, aliás, em quase todos os “hifishows”, por esse mundo fora, a atribuição pelo público ou pela crítica do “título” de “Melhor Coluna de Som” depende, hélas, de demasiados factores e não apenas das colunas em si: da sala, do sistema complementar, da selecção musical, do demonstrador e do ambiente geral. Ou até, por razões de política comercial, como sucede com os prémios anuais da imprensa especializada.


As pessoas que partilham a experiência comum, num determinado espaço e momento, o conforto, a iluminação, a decoração, o acolhimento, até a sensação de bem-estar e de tempo disponível do ouvinte, tudo tem influência na avaliação subjectiva.


Por maioria de razão, a avaliação do crítico, que, por dever de ofício, tem de correr as “capelinhas” todas, também é influenciada pelos níveis de concentração que são inevitavelmente baixos. Daí que não tenha o valor da desejável audição técnica, sistemática, em condições de tempo e espaço controladas pelo próprio.


Em condições ideais, estou certo que as Alexia, Altair e Isis equivalem-se na diversidade e são por isso provisoriamente recomendadas sem distinção pelo Hificlube. Teria de as ouvir a todas no mesmo contexto para emitir uma opinião definitiva – e ainda assim subjectiva.


A opção por qualquer delas depende, sobretudo, de factores subjectivos, como o “gosto” pessoal do potencial comprador (e, muito importante, da esposa!); e externos, como o “carácter” do som, design, preço e condições (audição doméstica prévia, por exemplo) e garantias oferecidas, sendo fundamental uma montagem profissional e colocação correctas e a sua adaptação acústica e estética à sala e à decoração envolvente.


Não é por acaso que os respectivos distribuidores conseguem manter-se numa actividade comercial, com características tão específicas e entrópicas, e sobreviver num mercado em crise. Todos eles prestam um serviço exemplar.


Dos múltiplos elementos que compôem um sistema de alta fidelidade, são as colunas, até pelas suas características antropomórficas - a postura vertical domina o espaço de audição, tanto em termos de presença física como acústica - quem, em última instância, “dão a cara” pelo som.


Cá fora, nos corredores, é a elas que amiúde os comentários positivos e negativos se referem, e menos aos outros actores erradamente tidos por secundários, porque menos visíveis, mas não necessariamente menos audíveis.


Por isso escolhemos as Alexia, Altair e Isis, como representantes, respectivamente da Imacústica, Ultimate Audio Elite e Ajasom, nesta prova de “Pesos Pesados”, e não os igualmente fabulosos amplificadores Audio Research, Gryphon e Soulution/McIntosh, sem minimizar a importância de todos os outros factores já referidos. Seguem-se os “Meios-Pesados”, os “Médios” e os “Leves”. 


Parte 2: OS “PESO-PESADOS”  


1.  ALEXIA, A LARANJA MECÂNICA


Num país onde os automóveis e as colunas de som highend são pretas, ou nos mais variados tons de cinza, é preciso arrojo para apresentar umas Wilson Audio Alexia cor-de-laranja. E já não falo das implicações políticas da cor, em época de austeridade imposta pela Troika...


Mas o efeito visual, ainda que impressionante não era chocante, no enquadramento decorativo de uma sala com motivos de madeira e móveis de tons quentes, aliada à iluminação suave e morna, de que resultaram boas imagens fotográficas. Nota: os videos têm apenas um interesse documental, sobretudo acústico.


É curioso como David Wilson que, em termos estéticos, se aproxima do actual gosto americano (e asiático) pelo impacto visual imediato, se converteu ao “som europeu”, menos efusivo, mais discreto, optando pelo mesmo tweeter de cúpula mole de seda, utilizado nas XLF em detrimento do mais “científico” Focal de cúpula invertida. Dave terá concluído que para “casar” na perfeição o altifalante de médios com o tweeter já não bastava fechar o gás ao Focal, como tinha sido tentado, com razoável sucesso, aliás, com as Sasha.


As Alexia (que raio de nome, sabendo-se que a alexia é uma forma de dislexia) são fruto de uma noite de amor entre as XLF e as Sasha. E soaram na “cavalariça” do Pestana Palace, como se tivessem sido concebidas na suite real.



Video HD (ver a 720/1080p em full screen)


A sala tem nobreza, dignidade, tecto alto, muitos vidros e é... cúbica, logo tem beleza física mas maus modos de ressonância, o que afecta a definição dos sons graves, variando a incidência com o ponto de escuta. Nada de... grave, no entanto, pois os registos médios mantiveram uma notável compostura, com todos os tipos de música.


Não fiz uma audição formal na sweet spot (sempre ocupada por ouvintes atentos), mas o som que se ouvia na sala era de grande qualidade audiófila.


Imagem ampla, envolvente, estável e sólida. Som encorpado, com bom entrosamento das gamas, boa resolução e riqueza de informação musical, por oposição à definição espacial dos sons, no plano da profundidade, que experimentei, por exemplo, com as Magico.


Volumetria, macrodinâmica e pressão sonora subjectiva ao nível das Maxx 3, mas sem a expressividade e alacridade destas nos extremos de frequência. Notei uma ligeira distorção no tweeter do canal direito, que foi de pronto atribuída por GP a um defeito do próprio disco registado com tecnologia direct-cut.


Transparência geral do som sem recurso excessivo ao parâmetro da claridade, resulta numa prestação de grande naturalidade, um pouco sobre o lado escuro da neutralidade. O “ar” sente-se mais do que se ouve. Há uma agradável sensação física de poder, de presença, de controlo emocional sobre o ouvinte, envolvendo-o no processo musical em curso, num doce e ledo embalo, que não foi alheio à longa permanência dos visitantes na sala.


                                          Video HD (ver a 720/1080p em full screen)


O som dos videos foi captado numa primeira visita, na Sexta-feira, tendo exclusivamente como fonte o excelente Metronome Kalista sob direcção de Luís Campos. Um acidente com a camcorder impediu-me de registar som, no final de Domingo, mas não me impediu de ouvir. Sentado num sofá de canto (sem o habitual reforço excessivo do grave, talvez por estar na fronteira de um null mode), na agradável companhia de Bento Coelho e, depois, Luís Pires, fui observando a reacção das pessoas presentes à sequência musical, proporcionada pela notável colecção de LPs de Guilhermino Pereira.


O que observei foi sintomático da excelência do espectáculo que nos estava a ser proporcionado naquele momento mágico. As pessoas estavam como que suspensas, ao mesmo tempo reverentes e incrédulas, como se estivessem a assistir a uma sessão de corporização espírita dos músicos na sala. Ninguém arredou pé!


A 'Fantástica' deixou-me siderado pela imponência do palco, a magnificência dos naipes de metais, a fogosidade das madeiras, a gravitas das cordas baixas, o impacte e urgência das percussões e a presença fantasmagórica do sino, como só se experimenta ao vivo. Atribuo muito deste notável desempenho aos amplificadores Audio Research Ref 750. Sabemos que as válvulas não têm a precisão racional dos transístores. Mas como eu já escrevi anteriormente, nestes momentos:


O coração só vê o envolvimento emocional, a musicalidade, a doçura da voz e aquela auréola luminosa que brilha no escuro como um fogo que arde sem se ver. À memória vêm os dias felizes que passámos juntos, a música preenchendo cada espaço da alma num quente aconchego de lareira acesa, a casa habitada pelos melhores intérpretes, os discos sucedendo-se num não querer mais que bem querer.A razão diz-me que os amplificadores a válvulas são falsos. O que parece doçura não é afinal mais que amarga distorção harmónica: a verdade nunca se mostra na sua nudez original, mas antes envolta num manto diáfano de coloração eufónica. Já houve quem, tendo-os analisado a frio e a quente, tenha concluído que as válvulas «pintam» a realidade musical com os olhos da loucura difusa de Van Gogh, a disforme extravagância de Dali, a desintegração formal de Picasso, a subtileza cromática de Matisse, a luminosidade crepuscular de Turner.


A Arte não tem de ser a própria natureza ou a sua imitação fiel. A reprodução exacta está limitada pela realidade. A Arte não.


O que ouvi com as Alexia foi: Arte.


2.  ALTAIR, A ESTRELA DA NOITE


 


Altair é uma estrela da constelação de Aquila. Mas também é um dos planetas de StarTrek. E há, de facto, algo de extraterrestre na sua postura reclinada, como um ser alienígena prestes a atacar o incauto ouvinte, pois é de ataque transitório que se fala aqui. São rápidas como a nave Enterprise e têm a mesma capacidade para desaparecer no espaço sideral. É como se não tivessem corpo, leia-se, caixa.


Mas quando os motores rugem, as baixas frequências colocam em ressonância todo o espaço em volta delas, e era preciso procurar refúgio em pontos específicos da sala, longa e reverberante, para melhor poder apreciar a precisão com que reproduz os timbres e a informação vocal.


A imagem estereofónica tem a estabilidade só possível com a garantia de coerência de fase. E as formas arredondadas eliminam a difracção, pelo que os reflexos, que de outro modo podiam perturbar a nitidez da imagem, não existem.


Os notáveis amplificadores Gryphon Colosseum, embora a transístores, parecem ter sido afinados de ouvido, com têmpero de segunda harmónica e soam tão discretos e eficazes como a alma nórdica, constituindo um bom casamento para as Altair 2, no tempo e no modo futurista de ser e estar, tanto acústico como estético, na cor e nos materiais.


Contudo, é o silêncio negro só possível de experimentar fora da atmosfera terrestre, que distingue este outro objecto do outro mundo que é o gira-discos Unico, de mestre Rui Borges, que não cessa de me maravilhar e constitui a cereja-no-topo deste sistema highend.


 



                      Video HD (ver a 720/1080p em full screen)


Video HD (ver a 720/1080p em full screen)


Ambos os videos foram captados com som de fonte analógica RB e, embora seja possível ouvir o excipiente acústico da sala, a qualidade da informação não é afectada, como se o buraco negro de silêncio do Unico engolisse tudo à sua volta que não seja música. Um som perfeito sem colorações eufónicas.


O que ouvi com as Altair 2 foi: Ciência.


 
3.
 
ISIS, A MULHER PERFEITA


 


      


Isis é o símbolo da mãe perfeita. Mulher de Osiris, seu irmão!, mas isso são contas do cartório mitológico. Assisti à apresentação das Osiris, em Nova Iorque, e ao sucesso que fizeram no Hotel Alfa, numa sala enorme com amplificação C-J. As Isis são mais pequenas, mas também por isso são a mais elegante das três “divindades” aqui apresentadas hoje, talvez por ser mais alta e mais magra que as outras duas, a que os acabamentos em madeira exótica só conferem ainda mais sumptuosidade e apelo consumista.


Isis é também a patrona grega da natureza e da magia. E o nome não podia ter sido mais bem escolhido, porque as Avalon Isis encarnam na perfeição o desejo intrínseco de todo o ser humano de recriar a realidade a partir da magia electrónica. Pelo menos creio que era por isso que a sala estava sempre cheia.  


 



Video HD (ver a 720/1080p em full screen)


Video HD (ver a 720/1080p em full screen)

Quando por lá passei, na minha peregrinação audiófila, ouvia-se o assobio de Livingston Taylor, introduzindo a canção Isn’t She Lovely. Já a ouvi mil vezes, em resolução standard e em alta resolução. Soa sempre bem. E com as Isis não foi excepção. É uma daquela canções easy going que todos gostam de ouvir. Parece fácil de reproduzir, mas, se estivermos atentos, percebemos que há sempre mais informação no assobio e nas cordas da guitarra. É esse sortilégio que nos prende ao highend: ouvir o que antes era aparentemente inaudível e afinal sempre esteve lá à espera que o descobrissemos. É essa a magia das Isis.


Atribuo esta capacidade de resolver as minudências acústicas também à notável transparência da electrónica Soulution, sobre a qual escrevi recentemente a propósito do teste do prévio 720:


Se o leitor é um audiófilo purista e pretende libertar-se da materialidade, por vezes perversa, da música, para poder apreciar antes a sua verdadeira espiritualidade, sem as limitações físicas que a (nos) corrompem;  se pretende despojar-se de bens terrenos (quase 30 000 euros!) para alcançar o céu; se gosta de se isolar no recolhimento da sua sala de audição, o 720 pode ser a resposta aos seus anseios mais inconfessáveis. De preferência, complementado por outros componentes Soulution.


Não cheguei a ouvir as Isis com amplificação McIntosh. A Ajasom optou pelos supermodelos a transístores de 1,2kW, mas os modelos a válvulas teriam sido um bom contraponto aos Soulution, cuja electrónica de estado sólido é mais refinada (e muito mais cara, claro!). Sobre o MA2275, um integrado a válvulas de “olhos azuis”, escrevi em 2004:


Por transparência, entenda-se a perfeita reprodução do excipiente acústico que envolve os sons e nos permite «ver» em profundidade, tanto nos registos naturalistas como nas camadas sobrepostas pacientemente na mesa de mistura, que se podem descascar na audição como uma cebola. Um exercício de levar um audiófilo às lágrimas - mas de gozo.


O que ouvi com as Isis foi: Magia.    


 


SLIDESHOW C/ FOTOS EM ALTA RESOLUÇÃO (Ver em full screen a 1080p)



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